São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 2000

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ELEIÇÕES NA TV
Campanha política e obscurantismo

FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DO PAINEL

Marta Suplicy ampliou sua vantagem sobre os adversários. Isso na mesma semana em que passou por uma boate GLS, contrariando a orientação de seu staff político. Não há relação entre as duas coisas (a subida e a ida ao gueto), mas, se tivesse caído nas pesquisas, muita gente, inclusive no PT, iria relacionar abacaxi com banana e condenar o "deslize" da candidata petista.
Talvez passe como algo menor ou sem importância, diante dos problemas administrativos que pode ter pela frente, que a mulher que lidera a corrida à prefeitura da maior cidade do país não esconda sua adesão à defesa dos direitos de minorias. Mas, numa sociedade conservadora e pouco esclarecida, gestos como esse têm peso político nada desprezível e fazem diferença para a qualidade da democracia.
A campanha suja que hoje se faz, de maneira assumida e apócrifa, contra Patrícia Gomes em Fortaleza talvez seja o exemplo mais gritante da vigência da mentalidade paternalista em que se formou o país. Não é caso de reproduzir aqui a munição porno-escatológica que vem sendo disparada pela jagunçagem contra a ex-mulher de Ciro Gomes. Mas deveria haver um modo de, ao menos, a Justiça Eleitoral civilizar um pouco a campanha enquadrando certos coronéis.
A vantagem de Marta em São Paulo empurra o PT para a cautela política. Moderada no conteúdo e moderninha na forma, sua campanha de TV mnarda Conservadora no conteúdo a fa, sua campanha âo Faz diferença democrática, ainda, que Marta Suplicy, líder desde o início, compareça aos debates entre candidatos promovidos pelas TVs. Tornou-se praxe, na cultura do calculismo publicitário-eleitoral, que os primeiros colocados evitem o confronto com adversários. FHC recusou-se a debater com Lula em 94 e 98. Disse como álibi que só participaria em segundo turno. Conversa fiada. E descaso grave para quem construiu sua vida intelectual e política apostando na democracia.

Contra os partidos
A campanha paulistana, que entra na reta final com quatro candidatos embolados, começa a ficar divertida. Algumas mudanças de rumo orientadas por marqueteiros são expressivas. Maluf não é mais só aquele que prende a arrebenta. Ele agora faz. Sua obra está aí.
Vítima de ataques de todos os lados, alguns suspeitos vindos da nanicagem de aluguel, Alckmin decidiu finalmente assumir seus vínculos com os governos Covas e FHC. Diante do inevitável, procura transformar o ônus em bônus.
Mas, disputando votos com Maluf, os tucanos colocaram no ar uma peça publicitária que desmerece a democracia. Nela, uma mocinha de classe média diz em casa ao marido que essa tal de Marta "até que passa", mas "está no partido errado". O PT pode, deve e precisa ser criticado por muitas razões, não pelo fato de ser um partido político. Além dele, talvez haja apenas outro mais ou menos organizado e com projeto e interesses claros no país: o PFL.
Sendo hoje menos um partido e mais uma agremiação de professores e banqueiros, o PSDB, que já teve veleidades social-democráticas, joga a favor do obscurantismo de direita quando tenta aliciar votos desqualificando a organização partidária. Quem é mesmo que defende a reforma política para supostamente dar mais racionalidade institucional ao país?
Alckmin, quando percebeu, no debate da Bandeirantes, que Marta fazia dobradinha com Zé de Abreu, aliado de Pitta, para atacá-lo, identificou justamente o oportunismo político da petista. É o mesmo oportunismo que instrui a fala da patricinha tucana.


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