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FOLCLORE POLÍTICO
Benedito Valadares e o Partido Comunista
JARBAS PASSARINHO
Em 1961, Luiz Carlos Prestes,
visando obter a legalidade da
agremiação no Tribunal Superior
Eleitoral, publicou o novo Programa e os estatutos do partido, que
passaria a ser Partido Comunista
Brasileiro e não do Brasil. Com isso queria Prestes livrar-se do argumento que prevalecera na cassação do PC do B, em 1947, no governo Dutra, quando a expressão
"do Brasil" fora interpretada como sendo o partido uma seção internacional com a matriz em
Moscou. A retirada da expressão
marxista-leninista buscava a estratégia de chegar ao socialismo
passando antes pela revolução
aliada à burguesia progressista e
nacionalista. A conquista do socialismo pela via pacífica seria
possível, dado que Jango concedia
acesso direto aos comunistas.
Mantida a liderança de Prestes,
saíram os comunistas pelo Brasil
a coletar assinaturas para compor um abaixo assinado a ser
apresentado à Justiça Eleitoral.
Um grupo de militantes, em Brasília, dirigiu-se ao Congresso e começou a ter bom sucesso na missão, algumas páginas das folhas
de papel almaço já preenchidas
com assinaturas de parlamentares que, nada obstante não serem
comunistas, defendiam o princípio de que o impedimento da legalização do PCB era uma negação do princípio democrático.
Um dos militantes, deparando-se com o senador Benedito Valadares em uma mesa no café privativo dos senadores, decidiu procurá-lo. Disse a colegas que iria
provocá-lo, pois o considerava
um "tremendo reacionário".
Fingindo interesse real em obter
a adesão do senador por Minas
Gerais, dele aproximou-se respeitosamente, disse-lhe ao que ia e
esperou irritá-lo na presença não
só de seu grupo como de senadores que já haviam posto as assinaturas no papel. Para surpresa sua,
o senador puxou a caneta do bolso, levou-a à primeira linha em
branco, manteve-a suspensa por
um momento e perguntou: "A minha assinatura significa adesão
ao princípio democrático de que
se deve respeitar a diferença das
idéias, permitindo uma convivência dos contrários?". "Certamente", retrucou o provocador. Benedito Valadares arrematou: "Neste
caso, eu poderia criar na Rússia
um ramo do meu PSD?". Diante
do embaraço do provocador, o senador recolheu a caneta e pediu
desculpas por não poder assinar,
já que não havia reciprocidade...
JARBAS PASSARINHO, 82, governador
do Pará (1964 a 1966), ministro do Trabalho no governo de Costa e Silva e da Justiça no governo de Fernando Collor, escreve aos sábados nesta seção
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