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Prefeito de Santana do Acaraú é acusado de 33 fraudes, entre elas inflar lista de escolas para tirar verba do Fundef
Prefeitura do CE matricula até aluna morta
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O prefeito da pequena Santana
do Acaraú, a 224 Km de Fortaleza
(CE), é acusado de 33 fraudes com
recursos públicos. Para arrancar
mais dinheiro do Fundef, 1.427
alunos fantasmas foram enxertados no censo escolar de 2003. As
professoras denunciaram à Câmara e o censo teve de ser refeito.
Elas disseram que a Secretaria
Municipal de Educação mandou
que usassem fichas antigas de alunos para aumentar as turmas.
Uma criança morta há dez anos
acabou sendo matriculada.
O município, de 27 mil habitantes, é um retrato ampliado das
distorções na gestão do dinheiro
público apontadas pela Controladoria Geral da União. José Aldenir Farias, o prefeito, recém-filiado ao PSDB, atribui as acusações à
perseguição de adversários.
O rol de denúncias contra Farias
inclui superfaturamento, desvio
de verbas e fraude em licitações.
Há indícios de que a prefeitura
simulou o aluguel de carros para
transporte de crianças e de pacientes do SUS (Sistema Único de
Saúde) e repassou dinheiro a vereadores. Até um caminhão de
uso agrícola foi contratado para
levar crianças à escola. O proprietário disse que nunca prestou serviço à administração pública.
As denúncias estão sendo investigadas por uma Comissão Processante da Câmara. O prefeito ficou afastado por 11 dias, em julho,
mas retornou amparado em liminar. Quatro vereadores são acusados de participar das fraudes.
Parte das irregularidades foi
apontada pelo promotor Carlos
Augusto Tomás Vasconcelos, em
relatório enviado à Procuradoria
Geral de Justiça do Ceará, no ano
passado. A Procuradoria informou que estão sendo preparadas
duas ações contra Farias.
A mais recente acusação contra
ele refere-se à apropriação do
ICMS (Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços).
O motorista Francisco Walter
Carneiro declarou à Câmara que
viajou à cidade vizinha de Sobral
para depositar cheques da prefeitura na conta da empresa AMC
Projetos e Consultoria. Disse que,
após fazer os depósitos, viajou à
Camocim, onde o proprietário da
empresa teria lhe devolvido o valor dos cheques em dinheiro, para
ser dado ao secretário de Obras.
O motorista entregou cópias de
comprovantes do depósito de R$
50,4 mil em cheques na conta da
empresa, em fevereiro. Ele disse
que apanhava o dinheiro na casa
do empresário. O vereador Francisco Carneiro da Silva (PP), presidente da comissão, disse que o
esquema, supostamente, servia
para ""lavar dinheiro" de corrupção. A empresa não foi localizada.
A Controladoria Geral da União
fiscalizou a aplicação das verbas
em Santana do Acaraú em julho e
constatou indícios de fraude na licitação para compra de 1.500 carteiras com recursos do Fundef. A
empresa vencedora da licitação,
Valderi Mineiro de Andrade, tem
o mesmo endereço da empresa
Móveis Ivete-Imil, pertencente à
mulher do prefeito. Segundo a
CGU, a encomenda foi paga, mas
as carteiras não foram entregues.
O relatório da Promotoria de
Justiça de Santana do Acaraú acusa o prefeito de usar o cargo para
beneficiar suas próprias empresas. Os veículos da prefeitura, segundo o relatório, são abastecidos
no posto Famol, também registrado em nome da mulher do prefeito, Ivete Souza Carneiro.
Há dois postos de abastecimento de combustível na cidade: o Famol e o Galvino. No mês passado,
o dono do Galvino, João Batista
Neto, depôs na Câmara e disse
que foi convidado a participar da
licitação, mas que o prefeito o
procurou propondo um rodízio.
Os carros seriam abastecidos dois
meses no Famol e um mês no Galvino. Ele disse que ficou fora.
O prefeito é acusado de superfaturar obras. Convocado para explicar um contrato para pintura
de 17,8 km de meio-fio em duas
pequenas praças, o engenheiro
Francisco de Assis Vasconcelos,
ex-funcionário da Secretaria de
Obras, disse na Câmara que o orçamento foi alterado e que ele assinou sem ler o que estava escrito.
As duas praças, segundo a Câmara, não somam 2 km de meio fio.
(ELVIRA LOBATO)
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