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Para estudiosos, civismo é forma de conquistar público
Lula procura ultrapassar limite do PT, diz sociólogo
Lula Marques - 07.set.03/Folha Imagem
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O presidente Luiz Inacio Lula da Silva, ao lado da primeira-dama e do vice José Alencar, durante o desfile de 7 de Setembro |
GUILHERME BAHIA
RICARDO WESTIN
DA REDAÇÃO
Não é movido por nenhum espírito de patriotismo que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva está procurando dar destaque aos
símbolos nacionais. Essa preocupação, de acordo com os sociólogos Sergio Miceli e Hélio Jaguaribe, tem mais a ver com as raízes
políticas do presidente Lula.
"O governo quer deixar claro
que Lula representa toda a coletividade, e não só o PT e os metalúrgicos", afirma Miceli, professor titular de sociologia da USP.
Ele diz que é grande o número
de eleitores que não votaram em
Lula, além de muitos terem votado nele só na última eleição.
"Lula tem uma audiência que
não é cativa. E investe nos símbolos nacionais porque a resistência
a eles é quase inexistente."
Na visão de Jaguaribe, a recente
tentativa de valorização dos símbolos nacionais tem resposta nas
origens sindicais do presidente.
"Quando o sindicalismo não é
revolucionário, é patriótico. O
sindicalismo a que Lula está acostumado não é o revolucionário",
diz. Ele se refere ao fato de que os
movimentos operários revolucionários buscam a derrubada do capitalismo em escala internacional. Trabalham para derrubar as
instituições capitalistas de seus
países, e não para reformá-las.
Qualquer que seja a motivação,
a professora de história da USP
Maria Aparecida de Aquino crê
que nenhum esforço estatal para
promover o civismo será eficaz.
"Democracia e patriotismo não
se instauram por decreto", afirma
ela, estudiosa do regime militar.
A professora diz que o nacionalismo aparece naturalmente, sem
intervenção do Estado. "Basta
lembrar as vitórias nas Copas. Na
própria posse de Lula, gente de
todo o país foi a Brasília, vestiu-se
de verde e amarelo e cantou o Hino Nacional."
Para o antropólogo Gilberto Velho, esta pode ser a oportunidade
de ver se o patriotismo "pega", ao
contrário do que aconteceu durante o regime militar, época em
que os símbolos nacionais eram
fartamente evocados.
Segundo ele, por terem sido impostos, esses símbolos ficavam
distantes das pessoas.
Anos de chumbo
Durante os anos de chumbo do
regime -o governo de Emílio
Médici (1969-1974)-, quem comandava a propaganda oficial era
o general Otávio Costa. Ele discorda de Velho.
"A resposta era extremamente
positiva. As pessoas dizem que foi
porque o Brasil ganhou a Copa de
70. Mas não foi, não. Tudo bem
que foi um regime ditatorial, mas
agora tudo o que foi feito na época, mesmo que tenha sido bom,
acaba sendo estigmatizado."
A diferença na propaganda do
governo, de acordo com Costa, é
que, naquela época, ela não era
personalista como é hoje, "esse
bombardeio de Lula e do PT", já
que, como as eleições eram indiretas, os presidentes não precisavam se promover.
O general não gosta de ser visto
como "alguém que serviu a um
governo de torturadores". Diz
que se sente ofendido quando lhe
atribuem a autoria do slogan
"Brasil: ame-o ou deixe-o". "Não
era propaganda oficial. Era coisa
dos órgãos de repressão, que tentavam fazer guerra psicológica."
Costa elogia a atitude nacionalista do presidente Lula, mas considera a parada do 7 de Setembro
"uma chatice, mesmo com toda a
mágica do marqueteiro".
"Só os governos totalitários fazem essas grandes paradas. Elas
estão em pleno ocaso", diz.
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