São Paulo, terça-feira, 14 de setembro de 2004

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JANIO DE FREITAS

Paulistas paulistanas

Os paulistanos não piraram, porque paulistanos não piram, mas que parecem ter pirado, é inegável.
Datafolha, 11/9/04, sábado: ao embalo da propaganda na TV, sobem de 33% para 42% os paulistanos que acham o governo de Marta bom ou ótimo.
Datafolha, 12/9/04, domingo: sobem de 30% para 37% os paulistanos que tencionam votar em José Serra e caem de 34% para 33% os que pretendem votar em Marta.
Há, como sempre, numerosos fatores para as possíveis explicações dessa contradição aritmética, e não menos conclusões disponíveis. Melhores do que os fatores políticos, porém, são os sociológicos. E, entre estes, a diferenciação que o eleitorado paulistano parece fazer entre a administração e a pessoa do administrador. A contradição exposta pelas duas pesquisas seria, então, coerência do paulistano com a diferenciação feita por tanto tempo entre a imagem de Paulo Maluf, alvejada por ininterruptas acusações desmoralizantes, e o Paulo Maluf visto, e apoiado, por grande parte do eleitorado como prefeito realizador.
Uma perguntinha que se dirige a todos os candidatos paulistanos: com todo o dinheiro que o governo Lula não pára de mandar para S.Paulo-capital, o eleito ou a reeleita terá condições financeiras, nos quatro anos vindouros, para fazer mais do que pagar dívidas do município?
(Não foi agora que os paulistanos piraram? Concordo, sim. É só ver o que fizeram, com a maior concentração de riqueza da América Latina, da sua outra amena cidade. E uma cidade não é obra de prefeitos, não, é feita por sua classe dominante, por seus jornais e TVs, por seus intelectuais).

O lanterna
Em sua ilustrada coluna, Mônica Bergamo informou ontem que "o Rio de Janeiro não respondeu aos apelos da campanha de desarmamento". É "o quarto do ranking", atrás "do campeão São Paulo", de Pernambuco e do Rio Grande do Sul.
Seria o caso de dizer: bem feito, quem manda criar movimentos e campanhas e modas, que depois são usadas para mais críticas ao próprio Rio? Melhor do que isso, no entanto, será dizer que a população não marginalizada do Rio nunca foi de andar armada, logo, é possível que não tenha o bastante para disputar o glorioso título.
No Nordeste e no Sul, mesmo as capitais preservaram longamente o costume de ter arma, inclusive arma branca, originário dos períodos de desbravamento e, depois, de conflitos pelo domínio de terras e pelo predomínio político. Quanto a São Paulo, não é só a reconhecida concentração de boas almas, é também a maior concentração populacional. E a comparação numérica entre as populações estaduais talvez contribua para a definição do tal "ranking". Mas nenhum desses lembretes, provenientes só da curiosidade sobre os fundamentos não publicados do citado "ranking" -diminuiria o grande feito do "campeão".
O problema do novo campeonato é conter o mesmo mal da campanha que o inspirou. Quem tem armas para maus fins não as entrega, continua armado. E não só de revólveres e carabinas se faz a violência das cidades tomadas pela criminalidade, como sabem os intelectuais e jornalistas, e até certos mendigos cujas mortes mal figuraram na mídia do "campeão" e nela foram esquecidas antes que sejam desvendadas.
Ao "campeão", uma salva de tiros, perdão, de palmas. (Os tiros me ocorrem assim porque sou do antro de criminosos que, sabe todo jornalista de São Paulo, é o Rio).


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