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JANIO DE FREITAS
Paulistas paulistanas
Os paulistanos não piraram, porque paulistanos
não piram, mas que parecem ter
pirado, é inegável.
Datafolha, 11/9/04, sábado: ao
embalo da propaganda na TV,
sobem de 33% para 42% os paulistanos que acham o governo de
Marta bom ou ótimo.
Datafolha, 12/9/04, domingo:
sobem de 30% para 37% os paulistanos que tencionam votar em
José Serra e caem de 34% para
33% os que pretendem votar em
Marta.
Há, como sempre, numerosos
fatores para as possíveis explicações dessa contradição aritmética, e não menos conclusões disponíveis. Melhores do que os fatores políticos, porém, são os sociológicos. E, entre estes, a diferenciação que o eleitorado paulistano parece fazer entre a administração e a pessoa do administrador. A contradição exposta
pelas duas pesquisas seria, então, coerência do paulistano
com a diferenciação feita por
tanto tempo entre a imagem de
Paulo Maluf, alvejada por ininterruptas acusações desmoralizantes, e o Paulo Maluf visto, e
apoiado, por grande parte do
eleitorado como prefeito realizador.
Uma perguntinha que se dirige
a todos os candidatos paulistanos: com todo o dinheiro que o
governo Lula não pára de mandar para S.Paulo-capital, o eleito
ou a reeleita terá condições financeiras, nos quatro anos vindouros, para fazer mais do que
pagar dívidas do município?
(Não foi agora que os paulistanos piraram? Concordo, sim. É
só ver o que fizeram, com a
maior concentração de riqueza
da América Latina, da sua outra
amena cidade. E uma cidade
não é obra de prefeitos, não, é
feita por sua classe dominante,
por seus jornais e TVs, por seus
intelectuais).
O lanterna
Em sua ilustrada coluna, Mônica Bergamo informou ontem
que "o Rio de Janeiro não respondeu aos apelos da campanha
de desarmamento". É "o quarto
do ranking", atrás "do campeão
São Paulo", de Pernambuco e do
Rio Grande do Sul.
Seria o caso de dizer: bem feito,
quem manda criar movimentos
e campanhas e modas, que depois são usadas para mais críticas ao próprio Rio? Melhor do
que isso, no entanto, será dizer
que a população não marginalizada do Rio nunca foi de andar
armada, logo, é possível que não
tenha o bastante para disputar o
glorioso título.
No Nordeste e no Sul, mesmo
as capitais preservaram longamente o costume de ter arma, inclusive arma branca, originário
dos períodos de desbravamento
e, depois, de conflitos pelo domínio de terras e pelo predomínio
político. Quanto a São Paulo,
não é só a reconhecida concentração de boas almas, é também
a maior concentração populacional. E a comparação numérica entre as populações estaduais
talvez contribua para a definição do tal "ranking". Mas nenhum desses lembretes, provenientes só da curiosidade sobre
os fundamentos não publicados
do citado "ranking" -diminuiria o grande feito do "campeão".
O problema do novo campeonato é conter o mesmo mal da
campanha que o inspirou. Quem
tem armas para maus fins não
as entrega, continua armado. E
não só de revólveres e carabinas
se faz a violência das cidades tomadas pela criminalidade, como
sabem os intelectuais e jornalistas, e até certos mendigos cujas
mortes mal figuraram na mídia
do "campeão" e nela foram esquecidas antes que sejam desvendadas.
Ao "campeão", uma salva de
tiros, perdão, de palmas. (Os tiros me ocorrem assim porque
sou do antro de criminosos que,
sabe todo jornalista de São Paulo, é o Rio).
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