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IMPRENSA
ANJ alerta para ameaça à liberdade de expressão; Eugênio Bucci, presidente da Radiobrás, propõe debate sobre projeto
Conselho contrapõe Radiobrás a jornalistas
DA REPORTAGEM LOCAL
A proposta de criação de um
Conselho Federal de Jornalismo
(CFJ) dominou o debate entre os
participantes do 5º Congresso
Brasileiro de Jornais, que começou ontem. De um lado, a maioria
dos jornalistas e empresários do
setor criticaram a medida, que
consideram uma ameaça à liberdade de imprensa. A defesa do
projeto coube a Eugênio Bucci,
presidente da Radiobrás, agência
de notícias do governo federal.
O bombardeio à idéia de criação
do conselho começou pela manhã, quando o presidente da ANJ
(Associação Nacional de Jornais)
e do conselho de administração
do jornal "O Estado de S.Paulo",
Francisco Mesquista Neto, criticou o que a entidade considera
uma escalada de propostas do governo federal que tendem a tolher
a liberdade de expressão -a primeira proposta elencada por ele
foi justamente a criação do CFJ.
Cláudio Baldino Maciel, presidente da AMB (Associação dos
Magistrados Brasileiros), disse
que o conselho "tem atribuições
de punir, de penalizar, de coibir a
atividade jornalística". Segundo
ele, ainda que "de boa fé seja proposto, [o conselho] será um elemento limitador da independência [da imprensa]".
Para a jornalista norte-americana Jan Schaffer, do Instituto de
Jornalismo Interativo da Universidade de Maryland, qualquer
tentativa de criar uma legislação
especial ou de "exercer controle,
causa danos ao jornalismo".
À tarde, após fazer um exposição sobre as relações entre a mídia
e o governo norte-americano antes e durante a invasão do Iraque,
Bucci saiu em defesa do conselho.
Ele respondeu às críticas de José
Nêumanne Pinto, editorialista do
"Jornal da Tarde".
O editorialista havia afirmado
que, mais do que apoiar o projeto
do conselho, o governo o havia
deixado mais autoritário do que o
programa inicial, que foi apresentado pela Fenaj (Federação Nacional de Jornalistas Profissionais).
Como Mesquita Neto, ele mencionou uma série de projetos do
governo -como o apoio à Lei da
Mordaça e o decreto que proíbe
funcionários públicos de dar informações à imprensa- como
indicadores da suposta tendência
do governo ao autoritarismo.
Bucci, que admitiu discordar de
alguns pontos do projeto que cria
o conselho de jornalismo, disse,
no entanto, que os críticos exageram quando afirmam que a iniciativa tem como objetivo controlar os meios de comunicação e
que pode comprometer a liberdade de imprensa no Brasil. "O governo não ameaça os valores da
imprensa. O governo apresentou
um projeto [para criação do CFJ]?
Apresentou. A proposta está no
Congresso, vamos discuti-la no
Congresso. Isso não constitui
uma ameaça à liberdade de imprensa", afirmou o presidente da
Radiobrás.
Bucci argumenta também que
todos os projetos apresentados
pelo governo, como o de criação
da Ancinav (Agência Nacional do
Cinema e do Audiovisual), igualmente criticado durante o congresso, estão sendo debatidos democrática e publicamente, de forma transparente e exaustiva.
Nêumanne Pinto discorda da
avaliação de que o CFJ ainda é um
projeto aberto ao debate e que poderia ser aperfeiçoado. A avaliação do jornalista é que "o poder
de compra" do governo no Congresso acabará sendo forte o suficiente para aprovar, na avaliação
dele, um projeto que, na prática,
criará um órgão com poder de
coibir o trabalho de jornalistas e
dos meios de comunicação brasileiros. Ele acabou argumentando
que Bucci superestimava as instituições democráticas no Brasil.
Para o presidente da Radiobrás,
Nêumanne Pinto tem razão
quando diz que a democracia brasileira precisa evoluir, principalmente "porque há grandes bolsões geográficos sem acesso à informação de qualidade". Mas, diz
Bucci, "a democracia brasileira é
saudável e vigorosa o suficiente
para evitar qualquer desvio na direção de comprometer a liberdade de imprensa".
(MARCELO BILLI)
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