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Renan diz que ficará no cargo e se vê eleito pela terceira vez
Presidente do Senado afirma que ninguém mais tem condição de ocupar sua cadeira
"Deus não me deu o dom da desistência", diz alagoano
em sua primeira entrevista após a votação secreta que o
livrou de perder o mandato
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na primeira entrevista que
deu após escapar da cassação,
Renan Calheiros (PMDB-AL)
disse que nenhum dos outros
80 senadores tem condições de
presidir o Senado no atual cenário de "absoluta divisão".
Afirmando considerar que a
votação representa uma "renovação da confiança da Casa" e
uma "terceira" eleição sua ao
posto, Renan deu sinais de que
não pretende renunciar ou se
licenciar do cargo.
"Perdemos apenas cinco votos depois dessa campanha
nunca vista no Brasil contra
mim. Significa dizer que se eu
não tiver condição de presidir o
Senado, quem é que vai ter em
um quadro de absoluta divisão?", afirmou em entrevista de
cerca de meia hora à Rádio
Gaúcha, em um programa de
uma amiga de seu advogado, o
gaúcho Eduardo Ferrão.
Os cinco votos a que Renan
se refere são a diferença entre
os 51 que recebeu para sua reeleição e os 46 que representam
a soma dos que votaram contra
sua cassação (40) e os que se
abstiveram (6).
"[A votação] não deixa de ser
uma renovação da confiança da
Casa em seu presidente, o que
significa dizer que a Casa entende que é preciso reagir contra essa onda contra o Parlamento no mundo todo e no
Brasil também", disse Renan,
para quem um outro presidente iria "piorar" as coisas.
"Não adianta tirar o presidente do Senado sem prova,
por uma decisão política, e colocar em seu lugar alguém que
tenha menos representatividade, menos capacidade de articulação, porque vai piorar." Renan deu sinais de que vai trabalhar para tentar se manter no
posto: "Deus não me deu o dom
da desistência".
Sobre a sugestão do senador
Aloizio Mercadante (PT-SP)
para que deixasse o cargo, afirmou: "Ainda não pensei nessa
hipótese, não penso nessa hipótese. E o senador Mercadante não conversou comigo sobre
esse assunto". Antes da votação, Renan repetiu diversas vezes que não renunciaria ou se
licenciaria porque isso significaria assumir culpa.
Renan declarou ainda que recebeu apoio de Lula durante a
crise e que a relação ente o
PMDB, seu partido, e o PT, passa pelo "melhor momento". A
bancada do PT é tida como essencial para sua absolvição.
"Temos a melhor relação, vivemos o melhor momento, mas o
quadro partidário político do
Senado é muito apertado, então é preciso ter muita habilidade para contornar qualquer
dificuldade", afirmou, dizendo
ainda acreditar que sua permanência no cargo não trará dificuldade para a votação da
emenda que prorroga a CPMF.
Sobre Lula: "Conversamos o
tempo todo [durante a crise] e o
presidente sabia que não havia
absolutamente nada contra
mim", disse, afirmando ainda
que o presidente, em viagem ao
exterior, telefonou para pessoas próximas a ele. "Vou
aguardar que ele chegue para
termos uma conversa". Renan
também agradeceu a ajuda que
recebeu do senador José Sarney (PMDB-AP) e de sua filha,
Roseana Sarney (PMDB-MA),
líder do governo no Congresso.
As principais críticas foram à
imprensa. "O que você diz não
se escreve, e só se escreve aquilo que é contra você. Chega um
momento em que você não pode falar com setores da imprensa porque infelizmente aquela
verdade é retirada e posta no
seu lugar uma coisa que não
tem absolutamente nada a ver.
A fama é uma coisa efêmera,
mas a infâmia é eterna."
Renan afirmou que "será impossível" estabelecer prova nas
outras representações contra
ele e se disse contra o fim do voto secreto para cassação.
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