São Paulo, sexta-feira, 14 de setembro de 2007

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Renan diz que ficará no cargo e se vê eleito pela terceira vez

Presidente do Senado afirma que ninguém mais tem condição de ocupar sua cadeira

"Deus não me deu o dom da desistência", diz alagoano em sua primeira entrevista após a votação secreta que o livrou de perder o mandato

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na primeira entrevista que deu após escapar da cassação, Renan Calheiros (PMDB-AL) disse que nenhum dos outros 80 senadores tem condições de presidir o Senado no atual cenário de "absoluta divisão".
Afirmando considerar que a votação representa uma "renovação da confiança da Casa" e uma "terceira" eleição sua ao posto, Renan deu sinais de que não pretende renunciar ou se licenciar do cargo.
"Perdemos apenas cinco votos depois dessa campanha nunca vista no Brasil contra mim. Significa dizer que se eu não tiver condição de presidir o Senado, quem é que vai ter em um quadro de absoluta divisão?", afirmou em entrevista de cerca de meia hora à Rádio Gaúcha, em um programa de uma amiga de seu advogado, o gaúcho Eduardo Ferrão.
Os cinco votos a que Renan se refere são a diferença entre os 51 que recebeu para sua reeleição e os 46 que representam a soma dos que votaram contra sua cassação (40) e os que se abstiveram (6).
"[A votação] não deixa de ser uma renovação da confiança da Casa em seu presidente, o que significa dizer que a Casa entende que é preciso reagir contra essa onda contra o Parlamento no mundo todo e no Brasil também", disse Renan, para quem um outro presidente iria "piorar" as coisas.
"Não adianta tirar o presidente do Senado sem prova, por uma decisão política, e colocar em seu lugar alguém que tenha menos representatividade, menos capacidade de articulação, porque vai piorar." Renan deu sinais de que vai trabalhar para tentar se manter no posto: "Deus não me deu o dom da desistência".
Sobre a sugestão do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) para que deixasse o cargo, afirmou: "Ainda não pensei nessa hipótese, não penso nessa hipótese. E o senador Mercadante não conversou comigo sobre esse assunto". Antes da votação, Renan repetiu diversas vezes que não renunciaria ou se licenciaria porque isso significaria assumir culpa.
Renan declarou ainda que recebeu apoio de Lula durante a crise e que a relação ente o PMDB, seu partido, e o PT, passa pelo "melhor momento". A bancada do PT é tida como essencial para sua absolvição. "Temos a melhor relação, vivemos o melhor momento, mas o quadro partidário político do Senado é muito apertado, então é preciso ter muita habilidade para contornar qualquer dificuldade", afirmou, dizendo ainda acreditar que sua permanência no cargo não trará dificuldade para a votação da emenda que prorroga a CPMF.
Sobre Lula: "Conversamos o tempo todo [durante a crise] e o presidente sabia que não havia absolutamente nada contra mim", disse, afirmando ainda que o presidente, em viagem ao exterior, telefonou para pessoas próximas a ele. "Vou aguardar que ele chegue para termos uma conversa". Renan também agradeceu a ajuda que recebeu do senador José Sarney (PMDB-AP) e de sua filha, Roseana Sarney (PMDB-MA), líder do governo no Congresso.
As principais críticas foram à imprensa. "O que você diz não se escreve, e só se escreve aquilo que é contra você. Chega um momento em que você não pode falar com setores da imprensa porque infelizmente aquela verdade é retirada e posta no seu lugar uma coisa que não tem absolutamente nada a ver. A fama é uma coisa efêmera, mas a infâmia é eterna."
Renan afirmou que "será impossível" estabelecer prova nas outras representações contra ele e se disse contra o fim do voto secreto para cassação.


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