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Eleições 2008 / Dossiê Câmara
"Nem deveria existir corregedoria", diz corregedor-geral
DA REPORTAGEM LOCAL
O corregedor-geral da Câmara, Wadih Mutran (PP), 72, ex-corretor de imóveis, dono de
uma ambulância para atender
doentes na Vila Maria, faz a alegria dos repórteres que cobrem
a Casa porque sempre tem uma
frase insólita para ser celebrada. No primeiro contato telefônico com a Folha, por exemplo,
assim respondeu à pergunta
sobre se faltava alguma coisa
para os trabalhos da corregedoria: "Querido, por enquanto nada, só dinheiro para a campanha. Você não quer ajudar um
pouco?".
Dois dias depois, no seu gabinete, Mutran disse que a "estrutura da corregedoria não
existe". Para Mutran, "nem deveria existir corregedoria".
(RV)
FOLHA - Quantas denúncias foram
avaliadas pelo corregedor-geral desde a sua posse?
WADIH MUTRAN - É difícil assim
analisar quantas. Porque você
recebe uma denúncia e ela vem
incompleta, não vem de acordo
com a resolução. Você faz o ofício e encaminha para o denunciante a forma que ele tem que
denunciar. Que tem que apresentar o título de eleitor, a certidão de que está em dia com o
TRE. Quando ele recebe lá, ele
diz: "Não, mas não fiz denúncia,
só falei". Pula fora. Então você
tem 50, 60, 80, vai, problemas
assim, desde que foi criada a
corregedoria [em 2003].
FOLHA - Quantos desses resultaram em relatórios?
MUTRAN - Não chega a 10% que
quis falar alguma coisa. Desistiram, depois não foi pra frente.
FOLHA - Desses cinco, seis ou oito,
quantos resultaram em punição ao
vereador?
MUTRAN - Acho que nenhum
ainda. Desde que há a corregedoria, a única que foi para plenário foi a Myryam Athiê.
FOLHA - E qual o resultado?
MUTRAN - Ela ganhou no plenário e ganhou na Justiça.
FOLHA - O caso não é anterior a
2003?
MUTRAN - Agora não lembro.
[O assessor intervém] O caso
até é, mas entrou na corregedoria em 2003.
FOLHA - Como o sr. avalia a atual
estrutura da corregedoria?
MUTRAN - A gente pode avaliar
o seguinte: a estrutura da corregedoria não existe. Eu não tenho nem a sala da corregedoria.
Mas a assessoria jurídica é da
Casa. Nós ocupamos os advogados e funcionários da Casa.
FOLHA - Por que não existe sede
para a corregedoria?
MUTRAN - Deveria ter uma sala,
mas eu acho que seria, atualmente, um gasto extra sem necessidade. Porque pelas denúncias que vêm acontecendo, não
tem muita necessidade de ter
uma estrutura fixa, num local,
que tenha que estar lá 24 horas
para atender qualquer problema. Mas nós estamos atentos.
FOLHA - O cidadão que quiser fazer
denúncia contra um vereador, o que
deve fazer?
MUTRAN - O que ele quiser. É
problema dele. Denúncia qualquer um pode fazer, ele tem
que provar o que ele vai falar.
(...) Ele pode vir aqui falar com
o corregedor, que encaminha
-porque eu não posso receber
denúncia direta- à comissão.
[Procure o] telefone da Câmara, para falar com o corregedor
ou com a corregedoria.
(...)Existe denúncia que você
vai procurar o endereço e não
existe. A maior parte é assim.
FOLHA - Quando há uma denúncia
em que o endereço não existe, embora possa estar dizendo uma verdade, como o sr. age?
MUTRAN - Eu tomei peito, às
vezes, de mandar arquivar. Mas
depois eu achei que estava
agindo errado. Agora mando
publicar edital no "Diário Oficial", mando a polícia no local.
FOLHA - O número de cinco a oito
relatórios finais, o sr. acha adequado?
MUTRAN - Acho que não deveria ter nenhum. Cada um tem
que cumprir seu dever de vereador e não cometer erros para que tenha o problema da corregedoria. A Câmara ficou 60
anos, 70 anos, sem corregedoria e sempre andou bem. Ela foi
criada em virtude de fatos
acontecidos anteriormente,
punição, cassação de vereador.
FOLHA - O sr. considera a corregedoria necessária para a Casa?
MUTRAN - Disse para você o seguinte: a corregedoria foi criada em virtude de fatos que
aconteceram. Agora, acho, por
exemplo, que nem deveria existir corregedoria. Porque são
muito poucos os fatos que vêm
acontecendo e o pouco também não tem que acontecer.
Não precisava ter corregedoria.
Como acho que não precisava
ter Poder Judiciário, ter polícia. O povo tinha que se entender. Mas o que acontece aqui?
Cada um quer viver para si, ninguém quer viver por terceiro.
FOLHA - O sr. nos autoriza a olhar
os arquivos da corregedoria para saber os casos já arquivados?
MUTRAN - O sr. vai na assessoria e pode olhar tudo. Minha vida é um livro aberto, e a Casa
também. Só que antes quero falar com a presidência e a Mesa
Diretora. Porque sou eleito pelos membros da Casa e tenho
uma forma de agir que eu sou
transparente naquilo que faço.
[Minutos depois a assessoria do
vereador informou que a Folha
não poderia consultar os arquivos, sob alegação de que o sigilo
está previsto na resolução 07/
2003].
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