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Investigadores e delegado aposentado faziam ou participavam dos negócios da suposta quadrilha que está presa
Esquema tem braço na Polícia Civil de SP
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Policiais e juízes federais não
eram os únicos agentes públicos
envolvidos no suposto esquema
ilícito, com sede em São Paulo,
que beneficiaria criminosos em
troca de dinheiro. A organização
também funcionava com a participação de membros da Polícia
Civil paulista, segundo escutas telefônicas feitas pelo setor de inteligência da Polícia Federal.
Dos agentes públicos, três juízes, um delegado da PF, um agente federal e outro delegado aposentado foram denunciados pela
Procuradoria da República sob
acusação de participarem do esquema de corrupção.
Grampos telefônicos mostrariam que esse grupo, ligado à esfera pública federal, também tinha
o seu braço na Polícia Civil paulista. Três episódios monitorados
por escutas mostram isso, segundo relatório da PF.
Em um deles, o agente federal
César Herman Rodriguez, preso
na Operação Anaconda, é acionado pelo delegado da PF aposentado Luiz Carlos Zubcov para intermediar a prisão de um empresário no ramo de ferramentas na região do Brás (centro de SP).
O caso é descrito em nove grampos de telefonemas realizadas no
dia 6 de junho. Dois investigadores da divisão de capturas da Polícia Civil estariam na casa do empresário para prendê-lo.
A prisão foi decretada porque a
mercadoria que iria a leilão por
causa de dívidas com o ICMS não
foi encontrada no depósito do
empresário. Rodriguez orienta o
filho do empresário a pagar propina para que os policiais não
cumpram o mandado de prisão.
"O pessoal aí vai cobrar, no mínimo, uns R$ 5.000 para não levar o
seu pai", resumiu o agente, que
também seria pago pelo serviço.
Depois, Rodriguez assume a negociação com um policial chamado Carlos e pede que ele venha ao
seu escritório. Os policiais chegaram na casa do empresário por
volta das 6h, mas Carlos disse ao
agente que poderia esperar no local até o meio-dia, o que é um procedimento ilegal. A espera é interpretada por Rodriguez como uma
disposição de receber propina.
O agente também aconselha a
família do empresário a barganhar o valor da propina. "Eles [os
policiais] vão pedir R$ 15 mil e
vão fechar com R$ 2.000. Isso é
praxe já deles, eu conheço essa
praxe", disse, por telefone.
Em outra conversa monitorada,
Zubcov e Rodriguez resumem a
operação policial. "Vê se polícia
acorda às 6h da manhã para ir
prender bandido", disse o agente.
"É lógico que não. Acorda para
botar dinheiro no bolso", respondeu Zubcov. As escutas não revelam se a propina foi paga. O mandado de prisão não foi cumprido.
Pelo menos um policial civil da
ativa e outro aposentado também
teriam participação no episódio
no qual, segundo os grampos, um
avião foi interceptado em pleno
vôo para garantir a prisão de um
mexicano que devia dinheiro a
um cliente do delegado da PF
aposentado Jorge Luiz Bezerra da
Silva, preso pela Anaconda.
O policial chamado Maurício,
do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) teria chegado atrasado no hotel, e o mexicano já tinha ido para
o aeroporto. Entrou em ação o delegado aposentado da Polícia Civil paulista Arlindo Orsomarzo. O
delegado, por intermédio de amigos da Polícia Federal, conseguiu
que o avião voltasse. O mexicano,
que devia US$ 84 mil a um cliente
de Silva e a um terceiro, foi preso.
A intermediação de quatro delegados da Polícia Civil também
teriam conseguido evitar que o
delegado da PF José Augusto Bellini, que era responsável pelo setor de emissão de passaportes e
que também está preso, fosse indiciado em um inquérito policial,
segundo relatório das escutas feito pela Polícia Federal.
O inquérito contra Bellini, o
agente Rodriguez e o advogado
Sérgio Chiamarelli Júnior, também preso na Operação Anaconda, investigava abuso de poder e
outros crimes.
A Secretaria da Segurança Pública disse que "não foi informada
dos fatos, tendo conhecimento
pela imprensa", mas que iria solicitar os dados à Justiça. A secretaria também informou que o mandado de prisão do empresário está sendo cumprido. A responsabilidade de agentes estaduais deve
ser apurada pela Justiça de São
Paulo, como ocorre nas investigações sobre o contrabandista Roberto Eleutério da Silva, o Lobão.
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