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Investigação interna era farsa
DA REPORTAGEM LOCAL
Sindicância em vez de procedimento disciplinar (apuração mais
rígida), com autoria desconhecida apesar de todos saberem quem
foi o responsável e, ainda por cima, a chance de escolher quem
iria chefiar a falsa investigação.
Segundo escutas telefônicas feitas com autorização judicial, o delegado da Polícia Federal José Augusto Bellini foi consultado pelo
próprio corregedor-chefe da PF
em São Paulo, Dirceu Bertin, já
afastado do cargo, sobre a investigação que iria apurar denúncia de
abuso de poder.
Nos grampos, o delegado Bellini
é informado antecipadamente
que a investigação contra ele será
uma farsa. "Nós vamos instaurar
uma sindicância [para] apurar,
que não vai seu nome, não vai nada, entendeu?", disse Bertin, segundo escuta telefônica.
O ex-corregedor foi indiciado
por formação de quadrilha na denúncia apresentada pela Procuradoria da República. Seu pedido de
prisão foi negado pela Justiça.
Nas escutas, Bertin também pede que Bellini não se meta em
mais confusão. "Me deixaram como o seu tutor, né, meu. Então vê
se não arranja mais confusão, né
véio", disse o ex-corregedor, que
era chefe do delegado da PF Alexandre Crenite, acusado pelo Ministério Público Federal de beneficiar o empresário Ari Natalino
da Silva, dono da Petroforte.
Sindicância
Os diálogos para se decidir o
responsável pela sindicância, registrados pelas escutas telefônicas, mostram uma intimidade entre Bellini e Bertin. O delegado
preso pela Operação Anaconda
veta indicados pelo corregedor e
só aceita um nome no qual ele
tem certeza de que não será prejudicado na apuração.
Em relação ao primeiro nome
indicado por Bertin, Bellini reage
e chama esse policial de falso. O
corregedor insiste: "É falso, mas
ele vai ter de te atender."
Bellini não aceita a argumentação e recusa a indicação. "Não. Ele
me atende, mas ele é falso. [Ele] te
derruba daí se você der um mole",
afirmou o delegado.
O corregedor finalmente concorda e pede uma indicação do
próprio Bellini. O nome indicado,
no entanto, é recusado por Bertin
por não ser de um delegado de
primeira classe -exigência técnica da sindicância.
Bertin então indica o nome de
uma delegada, o que é finalmente
aceito por Bellini. Ele vê a sindicância como a oportunidade de
ver uma amiga. "Vou poder ver a
V. [nome não-divulgado por não
se saber sua relação com o caso],
vai. Pega a V., então", disse.
No final da conversa, Bellini respira aliviado. "Legal, pronto. É
mole para nós", resumiu o delegado da PF. Bertin se despede
com um cumprimento fraterno:
"Então um grande beijo".
A assessoria da Polícia Federal
de São Paulo não comenta sobre a
Operação Anaconda e as escutas
telefônicas, afirmando ser de responsabilidade da PF de Brasília. A
assessoria também não informa
os contatos de Bertin e dos advogados dos outros envolvidos no
caso presos na sede da superintendência de São Paulo.
Ao informar sobre o afastamento de Bertin, dias depois das prisões realizadas pela Operação
Anaconda, a PF de São Paulo informou que todos os casos suspeitos apurados pelo ex-corregedor seriam revistos.
(GP)
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