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São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2003

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Estilo do grupo vai do acalanto ao palavrão

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Oi, véio!"
"Fala, lindinho!"
"Tudo bem, meu amor?"
"Tudo jóia."
"Fica frio, bichinho. Um beijão procê."
 
Tente esquecer que eram juízes, delegados da Polícia Federal e advogados. O discurso amoroso também serve para desanuviar momentos de chumbo. As frases acima, juntadas ao léu, mostram o estilo íntimo com que os investigados pela Operação Anaconda se tratavam ao telefone.
Todo esse carinho era entremeado por palavrões e obscenidades. O campeão de gentilezas e de baixarias é José Augusto Bellini, delegado da Polícia Federal, preso no dia 30 de novembro.
Tratado na intimidade ora por Bel ora por Belzinho, Bellini é o mais desbragado de todos. Chama o corregedor afastado da PF em São Paulo Dirceu Bertin de "menininho" ou com um "fala, lindinho". Bertin retribui a gentileza tratando-o como "comandante". "Gostosa" é o único termo publicável com que se dirige às mulheres que atendem ligações.
O empresário Sérgio Chiamarelli Júnior é outro desbocado do grupo. "Vá se foder ele, com toda a neurastenia dele.", diz Chiamarelli Júnior ao policial federal César Herman Rodriguez, a quem chama de Cesinha.
Bellini vai perdendo o humor à medida que descobre o tamanho do cerco armado sobre o grupo. "Começo a ficar louco, nervoso, xingar, quebrar", desabafa num telefonema a um homem não identificado pela PF no dia 19 de setembro, quando conta que terá de depor à CPI da Pirataria.
O momento mais patético é quando Bellini conta à mulher que terá que depor à CPI e emenda outros assuntos: "Mas você manda eu ligar pra você me falar isso?", pergunta ela. Bellini percebe que não pode contar com ninguém: "Estou muito chateado, muito sozinho. Eu gostaria de estar doente e sem problemas. Como você: é doente e sem problemas. Eu gostaria disso".


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