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Estilo do grupo vai do acalanto ao palavrão
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Oi, véio!"
"Fala, lindinho!"
"Tudo bem, meu amor?"
"Tudo jóia."
"Fica frio, bichinho. Um beijão
procê."
Tente esquecer que eram juízes,
delegados da Polícia Federal e advogados. O discurso amoroso
também serve para desanuviar
momentos de chumbo. As frases
acima, juntadas ao léu, mostram
o estilo íntimo com que os investigados pela Operação Anaconda
se tratavam ao telefone.
Todo esse carinho era entremeado por palavrões e obscenidades. O campeão de gentilezas e
de baixarias é José Augusto Bellini, delegado da Polícia Federal,
preso no dia 30 de novembro.
Tratado na intimidade ora por
Bel ora por Belzinho, Bellini é o
mais desbragado de todos. Chama o corregedor afastado da PF
em São Paulo Dirceu Bertin de
"menininho" ou com um "fala,
lindinho". Bertin retribui a gentileza tratando-o como "comandante". "Gostosa" é o único termo
publicável com que se dirige às
mulheres que atendem ligações.
O empresário Sérgio Chiamarelli Júnior é outro desbocado do
grupo. "Vá se foder ele, com toda
a neurastenia dele.", diz Chiamarelli Júnior ao policial federal César Herman Rodriguez, a quem
chama de Cesinha.
Bellini vai perdendo o humor à
medida que descobre o tamanho
do cerco armado sobre o grupo.
"Começo a ficar louco, nervoso,
xingar, quebrar", desabafa num
telefonema a um homem não
identificado pela PF no dia 19 de
setembro, quando conta que terá
de depor à CPI da Pirataria.
O momento mais patético é
quando Bellini conta à mulher
que terá que depor à CPI e emenda outros assuntos: "Mas você
manda eu ligar pra você me falar
isso?", pergunta ela. Bellini percebe que não pode contar com ninguém: "Estou muito chateado,
muito sozinho. Eu gostaria de estar doente e sem problemas. Como você: é doente e sem problemas. Eu gostaria disso".
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