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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI DOS CORREIOS
Petista discorda de sub-relator do PSDB ter omitido em relatório denúncias sobre caixa 2 tucano, e diz que vai apresentar outro que envolve gestão FHC
Partidos travam disputa dentro de CPI
FERNANDA KRAKOVICS
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As investigações da CPI dos
Correios têm sido direcionadas e
limitadas por interesses políticos.
Enquanto o deputado Gustavo
Fruet (PSDB-PR) apresentou relatório parcial sem incluir irregularidades em financiamentos de
campanhas tucanas, o deputado
José Eduardo Cardozo (PT-SP)
prepara documento em que
aponta atos ilícitos cometidos nos
Correios desde a gestão passada.
O petista deve apresentar um
relatório parcial na próxima quinta-feira, sobre o contrato da
Skymaster para a exploração da
RPN (Rede Postal Noturna) dos
Correios. Eduardo Cardozo pretende pedir o indiciamento de diretores e de funcionários da estatal, na ativa e já afastados, além
dos sócios da empresa de transporte aéreo de carga.
"Isso tudo, na verdade, é uma
coisa linear. As primeiras fraudes
aconteceram no período anterior
[a 2003]", afirmou Cardozo, sub-relator de contratos. A Skymaster
presta serviço para os Correios
desde 2000. Em seu parecer, ele
deve listar os crimes de evasão de
divisas, improbidade administrativa, corrupção e fraude em licitação. Assim como no caso do PT, a
estratégia dos governistas tem sido afirmar que a oposição também incorreu na prática de utilização de caixa dois.
O senador Eduardo Azeredo
(PSDB-MG), por exemplo, admitiu à CPI que utilizou, em sua
campanha à reeleição ao Governo
de Minas, recursos não declarados. A fonte do dinheiro teria sido
o empresário Marcos Valério,
operador do esquema do PT.
Mesmo assim, o sub-relator de
movimentação financeira da CPI,
Fruet, que é tucano, não fez referência a esse episódio em seu relatório, apresentado na semana
passada. Os petistas que integram
a CPI consideraram o documento
tendencioso e incompleto e pediram um prazo para sua análise,
adiando a votação do material.
Ao ser contestado, a justificativa
dada por Fruet foi que os dados de
1998 a 2002 ainda não foram recebidos pela CPI. "O caso de Minas
Gerais já está no Ministério Público, enquanto o esquema de Marcos Valério e Delúbio, não. Isso é
uma armadilha para fugir do debate técnico", afirmou Fruet.
Troca de convocações
O relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR),
e o presidente, senador Delcídio
Amaral (PT-MS), têm tentado intermediar a disputa. "Não tenho
dúvida de que isso [caso Azeredo]
vai ser incluído no relatório final
da CPI", disse Serraglio.
Outro exemplo de como as investigações têm sido limitadas foi
um acordo entre tucanos e petistas para que supostas testemunhas incômodas para os dois partidos não fossem ouvidas pela
CPI. Do lato petista, foi cancelada
na terça-feira passada audiência
em que seria ouvida a ex-assessora financeira do partido em Londrina Soraya Garcia.
Ela acusou o ex-ministro José
Dirceu de ter levado R$ 300 mil
para a campanha de Nedson Micheleti, prefeito de Londrina reeleito pelo PT no ano passado.
Em contrapartida, não seria
convocado o lobista Nilton Antônio Monteiro, que seria ligado à
campanha tucana de 1998.
O acordo, no entanto, foi trazido à tona pelo senador Álvaro
Dias (PSDB-PR), que acusou Delcídio Amaral de ter cancelado o
depoimento de Soraya a pedido
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Segundo a Folha apurou, a
CPI agora terá de convocar tanto
Soraya quanto Monteiro.
Para o chefe do NAE (Núcleo de
Assuntos Estratégicos) do governo, o ex-ministro Luiz Gushiken,
a comissão virou um instrumento
de luta política e deveria ser concluída no mês que vem. Apesar
disso, ele nega que o Palácio do
Planalto tenha trabalhado para
impedir a prorrogação da comissão até abril. Segundo ele, os partidos da base aliada agiram por
conta própria.
"A CPI está focada hoje na luta
política, é a campanha eleitoral
em curso. Não tem outra razão de
ser essa prorrogação", afirmou
ele, que é um dos investigados pela CPI. Na Secom (Secretaria de
Comunicação de Governo), Gushiken supervisionava os contratos de publicidade das estatais.
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