São Paulo, segunda-feira, 14 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI DOS CORREIOS

Petista discorda de sub-relator do PSDB ter omitido em relatório denúncias sobre caixa 2 tucano, e diz que vai apresentar outro que envolve gestão FHC

Partidos travam disputa dentro de CPI

FERNANDA KRAKOVICS
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As investigações da CPI dos Correios têm sido direcionadas e limitadas por interesses políticos. Enquanto o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) apresentou relatório parcial sem incluir irregularidades em financiamentos de campanhas tucanas, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) prepara documento em que aponta atos ilícitos cometidos nos Correios desde a gestão passada.
O petista deve apresentar um relatório parcial na próxima quinta-feira, sobre o contrato da Skymaster para a exploração da RPN (Rede Postal Noturna) dos Correios. Eduardo Cardozo pretende pedir o indiciamento de diretores e de funcionários da estatal, na ativa e já afastados, além dos sócios da empresa de transporte aéreo de carga.
"Isso tudo, na verdade, é uma coisa linear. As primeiras fraudes aconteceram no período anterior [a 2003]", afirmou Cardozo, sub-relator de contratos. A Skymaster presta serviço para os Correios desde 2000. Em seu parecer, ele deve listar os crimes de evasão de divisas, improbidade administrativa, corrupção e fraude em licitação. Assim como no caso do PT, a estratégia dos governistas tem sido afirmar que a oposição também incorreu na prática de utilização de caixa dois.
O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), por exemplo, admitiu à CPI que utilizou, em sua campanha à reeleição ao Governo de Minas, recursos não declarados. A fonte do dinheiro teria sido o empresário Marcos Valério, operador do esquema do PT.
Mesmo assim, o sub-relator de movimentação financeira da CPI, Fruet, que é tucano, não fez referência a esse episódio em seu relatório, apresentado na semana passada. Os petistas que integram a CPI consideraram o documento tendencioso e incompleto e pediram um prazo para sua análise, adiando a votação do material.
Ao ser contestado, a justificativa dada por Fruet foi que os dados de 1998 a 2002 ainda não foram recebidos pela CPI. "O caso de Minas Gerais já está no Ministério Público, enquanto o esquema de Marcos Valério e Delúbio, não. Isso é uma armadilha para fugir do debate técnico", afirmou Fruet.

Troca de convocações
O relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), e o presidente, senador Delcídio Amaral (PT-MS), têm tentado intermediar a disputa. "Não tenho dúvida de que isso [caso Azeredo] vai ser incluído no relatório final da CPI", disse Serraglio.
Outro exemplo de como as investigações têm sido limitadas foi um acordo entre tucanos e petistas para que supostas testemunhas incômodas para os dois partidos não fossem ouvidas pela CPI. Do lato petista, foi cancelada na terça-feira passada audiência em que seria ouvida a ex-assessora financeira do partido em Londrina Soraya Garcia.
Ela acusou o ex-ministro José Dirceu de ter levado R$ 300 mil para a campanha de Nedson Micheleti, prefeito de Londrina reeleito pelo PT no ano passado.
Em contrapartida, não seria convocado o lobista Nilton Antônio Monteiro, que seria ligado à campanha tucana de 1998.
O acordo, no entanto, foi trazido à tona pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que acusou Delcídio Amaral de ter cancelado o depoimento de Soraya a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a Folha apurou, a CPI agora terá de convocar tanto Soraya quanto Monteiro.
Para o chefe do NAE (Núcleo de Assuntos Estratégicos) do governo, o ex-ministro Luiz Gushiken, a comissão virou um instrumento de luta política e deveria ser concluída no mês que vem. Apesar disso, ele nega que o Palácio do Planalto tenha trabalhado para impedir a prorrogação da comissão até abril. Segundo ele, os partidos da base aliada agiram por conta própria.
"A CPI está focada hoje na luta política, é a campanha eleitoral em curso. Não tem outra razão de ser essa prorrogação", afirmou ele, que é um dos investigados pela CPI. Na Secom (Secretaria de Comunicação de Governo), Gushiken supervisionava os contratos de publicidade das estatais.


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