São Paulo, sábado, 14 de novembro de 1998

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INVESTIGAÇÃO
Presidente não comenta o caso, mas acusa Collor indiretamente
FHC diz que quem o acusa deveria estar na cadeia

LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Sucursal do Rio


O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem no Rio que as denúncias de que teria uma conta em um paraíso fiscal estão sendo feitas por pessoas que deveriam "estar na cadeia por ter feito coisas falsas".
Ele não citou nomes, mas as declarações são referências indiretas ao ex-presidente Fernando Collor de Mello, que deixou o cargo em 1992, após processo de impeachment, e teria sido um dos responsáveis por iniciar as denúncias.
"Pessoas que o Brasil custou a expulsar da vida pública e da credibilidade voltam às páginas do jornal sem acusar concretamente ninguém", afirmou. FHC disse ainda sentir "tristeza" ao ver que há "outra vez espaço para quem devia estar na cadeia por ter feito coisas falsas".
FHC se negou a responder a qualquer pergunta e afirmou que as "insinuações" não devem ser respondidas. "Eu peço aos senhores que não ousem me perguntar sobre o que não deve ser pensado e muito menos respondido por alguém que tem dignidade, tem decência como eu", disse, no fim de uma declaração.
O presidente classificou como "uma montagem reles, malfeita, feita por farsantes, por falsários" os papéis que supostamente mostrariam que ele seria um dos proprietários de uma empresa com sede em Nassau, nas Bahamas, juntamente com o governador de São Paulo, Mário Covas, o ministro da Saúde, José Serra, e o ministro das Comunicações Sérgio Motta, morto em abril deste ano.
"Como brasileiro, como presidente da República, eu sinto indignação e tristeza", disse.
As declarações foram dadas de manhã, na entrada da Escola Naval, onde o presidente fez uma palestra a alunos e estagiários dos cursos de Altos Estudos das Escolas de Guerra Naval, Superior de Guerra, de Comando e Estado-Maior do Exército e Aeronáutica.
No discurso, ele voltou a criticar "cassandras e carpideiras" que apregoam o fim do Real. "Todas as vezes em que as situações de dificuldades se apresentam, têm elas a impressão de ter chegado o momento do golpe fatal."
Na chegada à cerimônia, FHC caminhou em direção aos jornalistas, mas não quis dar entrevista. Apenas falou, virou as costas e entrou no auditório. Segundo o presidente, as insinuações contra ele devem ser repudiadas e não são nem "respondíveis".
"É preciso expressar ao país a indignação que eu sinto por ver mais uma vez pessoas sem credibilidade voltarem à cena pública com insinuações. E, quando se pergunta do que se trata, todos dizem que não viram. E depois, como ousam perguntar se é certo ou o se é errado o que ninguém viu? O que todo mundo diz que não sabe, que não existe?", disse.
FHC disse que falava por ele e pelas outras pessoas citadas. "O patrimônio moral vale mais do que tudo. E o patrimônio moral de um presidente é indispensável para o país no momento em que eu passo dias e noites defendendo a nossa moeda, defendendo o Brasil, tendo presença no exterior", disse ele, que afirmou estar lutando pela "dignidade do país".
"Vejo notinhas no exterior levantando suspeitas sobre o que não pode ser suspeito, a honorabilidade do presidente da República", afirmou.
˛ Protesto
Um grupo de cerca de cem funcionários da Fundação Nacional de Saúde se concentrou à tarde na entrada do Parque Guinle, onde fica o Palácio Laranjeiras, para protestar contra os cortes anunciados na Saúde esta semana.
No palácio, FHC estava reunido com intelectuais para discutir novos rumos para a economia do país. O Batalhão de Choque da Polícia Militar foi chamado, mas, depois de uma hora, os manifestantes saíram pacificamente.
Eles continuaram o protesto em frente ao Palácio Guanabara, onde o presidente teve encontro com prefeitos e parlamentares fluminenses e com deputados evangélicos, entre os quais o bispo Rodrigues (PFL), um dos principais nomes da Igreja Universal do Reino de Deus, que foram lhe dar apoio.



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