São Paulo, sábado, 14 de novembro de 1998

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Perito aponta falsificações de assinaturas

da Reportagem Local

O especialista em análise de documentos Celso Ribeiro Del Picchia afirmou ontem que são falsas as supostas assinaturas do presidente Fernando Henrique Cardoso, do governador de São Paulo, Mário Covas, e ao menos a rubrica do ministro Sérgio Motta, que constam de uma carta usada em suposta chantagem contra o governo federal.
As três assinaturas estão em cópia de fax enviado ao ministro José Serra (Saúde) e que afirma que o ministro das Comunicações, Mendonça de Barros, teria "fracassado" em uma missão da CH, J & T na Europa e nos EUA.
A carta é uma montagem. O suposto chantagista juntou um texto de sua autoria, onde cita Mendonça de Barros, com as assinaturas. Elas seriam um sinal de que o chantagista possuiria documentos verdadeiros sobre a suposta empresa dos tucanos.
O problema é que, na análise do perito, as assinaturas são diferentes das originais de FHC, Covas e Motta (veja comparação acima). A quarta assinatura seria de Ray Terrence, apontado como sócio da empresa, mas não identificado.
Segundo Del Picchia, a assinatura de Fernando Henrique "começa com ênfase forte" na haste do "f" e vai diminuindo. Na assinatura do fax, é o contrário.
Além disso, o traço inferior do "f" é longo e alcança o "h", na assinatura original, e não na do fax. O presidente assina "FHCardoso".
O perito também notou que as arcadas do nome "Cardoso", no original, são "pronunciadas", enquanto que, na do fax, são quase uma linha reta.
Quanto à assinatura de Covas, Del Picchia aponta que a verdadeira é feita em apenas um movimento, enquanto que a do fax do chantagista é dividida em dois.
"No que é possível analisar, as assinaturas do presidente e de Covas são falsas", diz o perito.
Ainda segundo ele, é difícil analisar a suposta assinatura de Sérgio Motta, uma vez que ela está muito manchada na cópia que analisou. Já a de Ray Terrence é diferente da que aparece em outros documentos, mas poderia ter sido feita pela mesma pessoa. Del Picchia ainda afirmou que a rubrica de Sérgio Motta, que aparece em um dos documentos do suposto chantagista, também é falsa.
Apesar de afirmar que as cartas divulgadas pelo governo são montagens, Del Picchia diz não ter como avaliar a veracidade das informações. "O perito analisa os documentos, que são montagens grosseiras", afirmou. "Mas, se há algum fundo de verdade nas informações, eu não posso dizer."
Mesmo assim, Del Picchia acredita que o fato de terem sido usadas assinaturas falsas indica que o suposto chantagista não tem documentos verdadeiros.
"Se ele tivesse os documentos, enviaria para o governo, que não poderia divulgá-los", afirmou. "Além disso, se Fernando Henrique ou Covas são mesmo diretores, por que as assinaturas são falsas?", questionou.
Quanto ao documento da Trident que afirma que os diretores da CH, J & T seriam Sérgio Motta e Ray Terrence, o perito diz que não tem elementos para atestar se ele é verdadeiro. "Mas é muito estranho que os nomes dos dois estejam batido a máquina e, o texto, em computador", afirmou.
Ainda para o perito Del Picchia, as cartas enviadas pelo suposto chantagista foram escritas pela mesma pessoa. "Os textos também foram escritos pela mesma pessoa, como indica cacoetes como os dos cabeçalhos das cartas.
Em todas elas, o segundo "d" da frase "D. D Ministro de Estado da Saúde" não têm o ponto final. Os cabeçalhos também são idênticos", diz ele.



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