São Paulo, sábado, 14 de novembro de 1998

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GRAMPO
Miguel Ethel e José Brafman participaram do processo de compra das duas ex-estatais e teriam sido citados pelo ministro das Comunicações
Citados por ministro estavam na compra da Vale

CHICO SANTOS
ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio


Da mesma forma que o consórcio comprador da Tele Norte Leste, o que comprou a Vale do Rio Doce também contou com as participações de Miguel Ethel e José Brafman. Os dois nomes teriam sido citados pelo ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações) para justificar o termo "rataiada" presente em uma das suas conversas telefônicas grampeadas no BNDES.
Os dois consórcios foram formados às vésperas dos leilões, por estímulo direto do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com a justificativa de aumentar a concorrência.
A jornalistas na quarta-feira, em Brasília, o ministro disse que usou o termo "rataiada" porque pessoas que ele pensou que tivessem "morrido" o procuraram para negociar em nome do consórcio que comprou a telefônica.
Ethel e Brafman participaram ativamente da formação do consórcio Valepar, que comprou o controle acionário da Vale em maio de 97, e Ethel chegou a participar do Conselho de Administração da Valepar após a privatização.
Esses mesmos personagens estiveram presentes nas negociações que levaram à formação do consórcio Telemar, comprador da Tele Norte Leste, telefônica que atua em 16 Estados brasileiros.
Ethel e Brafman chegaram ao consórcio Telemar pelas mãos do empresário Carlos Jereissati, controlador do grupo La Fonte e irmão do governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB). Ethel é conselheiro do grupo La Fonte. Brafman chegou a ser cotado para presidir a Tele Norte Leste.
Em ambos os casos, os consórcios eram considerados "azarões" e surpreenderam ao se saírem vitoriosos. O Telemar foi formado dez dias antes do leilão e arrematou a estatal com ágio de 1% sobre o preço mínimo. O favorito era o grupo liderado pelo banco Opportunity.
Na privatização da Vale, Ethel e Brafman foram conselheiros do consórcio liderado pela CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). O favorito era o consórcio liderado pelo grupo Votorantim.
O BNDES, então presidido por Mendonça de Barros, estimulou a formação do Valepar por temer que o consórcio do Votorantim fosse o único a participar do leilão. O grupo da CSN levou a Vale com ágio de 10% sobre o preço mínimo.
Brafman possui hoje uma empresa chamada Único Negócios Corporativos, com sede na zona sul do Rio. Nas duas vezes em que foi procurado ontem pela Folha, sua secretária disse que ele não estava e que não havia ninguém mais que respondesse pela empresa.
Ethel disse que estava de férias no interior da França e que retornou ao país "no meio da tempestade". Disse que vai se reunir com Brafman no final da semana para decidir que providências tomar em relação às declarações do ministro.
O empresário confirmou ter participado tanto do processo de privatização da Vale quanto no da Tele Norte Leste. No primeiro caso, segundo ele, atuou na condição de conselheiro do grupo Vicunha, do qual se desvinculou há três meses. Disse que participou do consórcio Telemar como vice-presidente do grupo La Fonte, do qual é sócio.
Além da presença de Ethel e Brafman, os vencedores dos leilões da Vale e da Tele Norte Leste têm ainda em comum o fato de terem como sócios fundos de pensão liderados pela Previ, a fundação dos empregados do Banco do Brasil.
Em ambos também o BNDES tornou-se acionista, por intermédio da sua subsidiária BNDESPar.
As fitas com gravações ilegais de conversas telefônicas do ministro Mendonça de Barros e do presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), André Lara Resende, foram enviadas ontem pelo Ministério da Justiça à Polícia Federal.
O inquérito sobre esse caso também será aberto na Divisão de Combate ao Crime Organizado e Inquéritos Especiais, mesmo setor da PF que investiga o caso da suposta conta bancária em paraíso fiscal do Caribe.
˛


Colaborou a Sucursal de Brasília


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