São Paulo, terça-feira, 14 de dezembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TODA MÍDIA

Sem festa

NELSON DE SÁ

O Bom Dia Brasil abriu a semana saudando os dez anos do Mercosul, que tem encontro em Ouro Preto. Mas para a Globo é um "aniversário sem festa", por conta das pressões protecionistas.
Na cobertura do Globo Online, entre outros, o diretor da Fiesp Roberto Giannetti da Fonseca voltou à carga:
- Desde 2001, o Brasil está impedido de negociar separadamente acordo de livre comércio com outros países que não Argentina, Paraguai e Uruguai... Isso imobiliza o país.
Do lado oposto, o sociólogo Hélio Jaguaribe deu longa entrevista ao argentino "Clarín":
- O Mercosul é indispensável. É nosso passaporte para a história... Se não, perderemos nossa nacionalidade. Seremos totalmente comandados por Washington.
 
À distância, Washington observa e se move.
Segundo o "Miami Herald" de ontem, o representante comercial dos EUA, Robert Zoellick, enviou carta ao chanceler Celso Amorim com propostas para as negociações da Alca.
A carta teria sido "bem recebida" pelo Brasil -e, segundo o negociador americano para a Alca, Ross Wilson, "as Américas seguem como foco entusiasmado da liberalização comercial" dos Estados Unidos.

A INVASÃO LATINA

Canais, rádios e sites de notícias, no meio do dia, iniciaram a torcida patriótica em torno da indicação para o Globo de Ouro de "Diários de Motocicleta", o filme de Walter Salles sobre o jovem Che Guevara. Mas logo o cineasta, de Los Angeles, distribuía nota:
- É uma honra representar o Brasil pela terceira vez seguida no Globo de Ouro, mas desta vez o filme também representa a Argentina, o Chile e o Peru. É a essência de "Diários" -a de ser um filme latino-americano.
A indicação coincide com texto de Sean Smith, da "Newsweek", reproduzido no mexicano "El Universal", sobre a "invasão latina" de Hollywood. Em sua avaliação, há "cinco visionários prontos para ser" o que foram, nos anos 70, Spielberg, Scorsese, Coppola e outros. São eles: os mexicanos Alfonso Cuarón, Guillermo del Toro e Alejandro González Iñarritu e os brasileiros Fernando Meirelles e Walter Salles, que declarou:
- Até os anos 80 vivíamos sob ditadura, censura. Se você não pode expressar sua voz por 25 anos e recobra essa possibilidade, há uma paixão em fazê-lo. Esta geração de diretores e atores floresceu por isso.

Por nada
Dos comentaristas da Globo aos blogueiros, ontem sobrou descrédito quanto à inusitada decisão dos peemedebistas de entregar os cargos. Do blog de Marcelo Tas, no UOL:
- O maior congestionamento de gente limpando gavetas que já se viu! Uma decisão histórica, não fosse uma piada.
Alexandre Garcia ironizou, ele também, na Globo:
- Muito barulho por nada.

Manipulação
Duas semanas atrás, o "Los Angeles Times" deu destaque aos esforços de "manipulação de informação" feitos pelo governo americano, citando o exemplo de um falso anúncio de batalha no Iraque, feito à CNN.
Ontem foi a vez do "New York Times", com uma reportagem de manchete em que descreve o "debate" sobre a manipulação da "opinião no exterior" que vem rachando o Pentágono.

FOLHETINS NA REDE

www.jornada.unam.mx/Reprodução
No "La Jornada", o romance do subcomandante


Diante de uma "revolução parada, o que deve fazer um líder rebelde com tempo livre?", perguntou o "New York Times", para dar em seguida a resposta que, para o jornal, deve ter ocorrido ao subcomandante Marcos, líder zapatista: "Escrever um romance policial".
É o que Marcos faz desde o último dia 5, no diário mexicano "La Jornada". Ele publicou o primeiro capítulo e Paco Ignacio Taibo, autor de romances policiais, publicou o segundo, anteontem. Farão assim pelas próximas semanas, até fechar "Mortos Incômodos", cujos protagonistas são um zapatista e um detetive.
 
No Brasil, para comemorar dois anos do Portal Literal, José Rubem Fonseca, recluso autor de livros policiais, pôs no ar no fim de semana o primeiro de cinco capítulos de "José", de caráter autobiográfico. Na estréia, "um menino aprende a ler sozinho e passa a viver num mundo paralelo, povoado pelos folhetins franceses".


Texto Anterior: Campo minado: Chefe do Incra é suspeita de dar armas para sem-terra
Próximo Texto: Panorâmica - Campo minado: Governo sabia da possibilidade de conflitos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.