São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

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Governador e prefeito divergem sobre possibilidade de reeleição

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Embora neguem que exista rivalidade entre os dois, os tucanos Geraldo Alckmin (governador de São Paulo) e José Serra (prefeito de São Paulo) expuseram nova dissonância. Os dois discordaram publicamente sobre a idéia de acabar com a reeleição. Serra é a favor. Alckmin, contra.
Os dois participaram de diferentes programas de TV na noite de segunda. Alckmin foi categórico ao declarar-se candidato à Presidência da República em entrevista no "Roda Viva", da TV Cultura. Serra falou de seus projetos no "Programa da Hebe", do SBT.
A apresentadora Hebe Camargo perguntou se era de Serra a proposta de pôr fim ao "horror" da reeleição. Ele negou, mas disse: "A reeleição faz o seguinte: o sujeito se elege e já fica pensando na reeleição. É como se fosse uma fuga para adiante. Sinceramente, acho melhor reconhecer que [a reeleição] não deu certo, com toda a humildade".
Na TV Cultura, Alckmin pregava a manutenção da reeleição. "Ainda é cedo para dizer que não deu certo", repetia.
Para Serra, o ideal seria fixar "um mandato de cinco anos, como antigamente, e acabou".
Alckmin, por sua vez, afirmou que "está bom o prazo de oito, podendo parar no meio". Já "o mandato de cinco anos pode ser muito para um governo ruim".
Além disso, a ampliação do mandato em mais um ano exigiria eleições a cada ano, já que os parlamentares continuariam sendo eleitos a cada quatro anos. "Por mim, não mudaria. Sabe qual é o nosso problema? É o mudancismo (sic)", criticou.
A discussão encobre uma disputa entre os dois pelo direito de concorrer à Presidência no ano que vem. Proposto por um dos principais aliados de Serra, o deputado Jutahy Magalhães (BA), o fim da reeleição serviria para consolar Alckmin e o governador Aécio Neves (MG), caso Serra seja o escolhido do PSDB para a disputa. Eleito, o prefeito ficaria por cinco anos no governo, abrindo espaço para Alckmin e Aécio disputarem sua sucessão em 2012.
A idéia pode agradar a Aécio, com a possibilidade de se reeleger em Minas. Mas não a Alckmin.
A proposta também beneficiaria Serra em outro cenário. Na hipótese de Alckmin concorrer e ser eleito no ano que vem, teria direito a só cinco anos de mandato. Mais velho dos três candidatos, Serra poderia concluir seu mandato de prefeito e disputar mais tarde.
A disputa entre os dois é tão acirrada que aliados de Alckmin chegaram a desconfiar da coincidência do horário das entrevistas dos dois na noite de segunda. Mas, embora Serra tenha cancelado uma atividade em cima da hora, enviando seu chefe-de-gabinete como representante, a assessoria de imprensa do SBT informou que o prefeito foi convidado pela produção do programa.
Serra descarta, em suas conversas, que tenha desistido da candidatura à Presidência em benefício do governador. Deputados tucanos insinuavam que os dois tinham fechado um acordo. Serra rechaçou, alegando que teve uma conversa "curta e superficial" com Alckmin. Nela, os dois teriam acertado que analisariam o quadro político em março, às vésperas da desincompatibilização.

PFL
Ontem, porém, o prefeito do Rio, o pefelista Cesar Maia, reiterou seu apoio a Serra. Ao comentar o lançamento da candidatura de Alckmin, Maia disse que "Alckmin é muito mais herdeiro de espólio de Covas que fundador do seu próprio currículo". Para Maia, a imagem de Alckmin "está muito mais colada a FHC [ex-presidente Fernando Henrique Cardoso] no imaginário popular e arcará com uma memória negativa do final" do governo passado.
"Ouvi no Nordeste usarem a expressão "inglesinho" para Alckmin pelos politicos em Pernambuco e na Bahia. Tenho uma enorme admiração pessoal por Alckmin. Mas quero ganhar a eleição."
Maia chegou a ensaiar uma pré-candidatura à Presidência, mas afirmou que abriria mão dela em nome de uma composição com Serra.
Alckmin reconhece no gesto um sinal de que o PFL pretende assumir a cadeira de Serra, com a nomeação do vice Gilberto Kassab para o comando da prefeitura. "Que [o PFL] quer [a prefeitura] não tenho dúvida. Mas não é esse o critério na escolha", disse.
O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, afirmou que o partido não pretende interferir na disputa tucana e que, hoje, o partido prefere a candidatura própria.


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