|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governador e prefeito divergem sobre possibilidade de reeleição
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora neguem que exista rivalidade entre os dois, os tucanos
Geraldo Alckmin (governador de
São Paulo) e José Serra (prefeito
de São Paulo) expuseram nova
dissonância. Os dois discordaram
publicamente sobre a idéia de
acabar com a reeleição. Serra é a
favor. Alckmin, contra.
Os dois participaram de diferentes programas de TV na noite
de segunda. Alckmin foi categórico ao declarar-se candidato à Presidência da República em entrevista no "Roda Viva", da TV Cultura. Serra falou de seus projetos
no "Programa da Hebe", do SBT.
A apresentadora Hebe Camargo perguntou se era de Serra a
proposta de pôr fim ao "horror"
da reeleição. Ele negou, mas disse:
"A reeleição faz o seguinte: o sujeito se elege e já fica pensando na
reeleição. É como se fosse uma fuga para adiante. Sinceramente,
acho melhor reconhecer que [a
reeleição] não deu certo, com toda a humildade".
Na TV Cultura, Alckmin pregava a manutenção da reeleição.
"Ainda é cedo para dizer que não
deu certo", repetia.
Para Serra, o ideal seria fixar
"um mandato de cinco anos, como antigamente, e acabou".
Alckmin, por sua vez, afirmou
que "está bom o prazo de oito, podendo parar no meio". Já "o mandato de cinco anos pode ser muito
para um governo ruim".
Além disso, a ampliação do
mandato em mais um ano exigiria eleições a cada ano, já que os
parlamentares continuariam sendo eleitos a cada quatro anos.
"Por mim, não mudaria. Sabe
qual é o nosso problema? É o mudancismo (sic)", criticou.
A discussão encobre uma disputa entre os dois pelo direito de
concorrer à Presidência no ano
que vem. Proposto por um dos
principais aliados de Serra, o deputado Jutahy Magalhães (BA), o
fim da reeleição serviria para consolar Alckmin e o governador Aécio Neves (MG), caso Serra seja o
escolhido do PSDB para a disputa. Eleito, o prefeito ficaria por
cinco anos no governo, abrindo
espaço para Alckmin e Aécio disputarem sua sucessão em 2012.
A idéia pode agradar a Aécio,
com a possibilidade de se reeleger
em Minas. Mas não a Alckmin.
A proposta também beneficiaria Serra em outro cenário. Na hipótese de Alckmin concorrer e ser
eleito no ano que vem, teria direito a só cinco anos de mandato.
Mais velho dos três candidatos,
Serra poderia concluir seu mandato de prefeito e disputar mais
tarde.
A disputa entre os dois é tão
acirrada que aliados de Alckmin
chegaram a desconfiar da coincidência do horário das entrevistas
dos dois na noite de segunda.
Mas, embora Serra tenha cancelado uma atividade em cima da hora, enviando seu chefe-de-gabinete como representante, a assessoria de imprensa do SBT informou
que o prefeito foi convidado pela
produção do programa.
Serra descarta, em suas conversas, que tenha desistido da candidatura à Presidência em benefício
do governador. Deputados tucanos insinuavam que os dois tinham fechado um acordo. Serra
rechaçou, alegando que teve uma
conversa "curta e superficial"
com Alckmin. Nela, os dois teriam acertado que analisariam o
quadro político em março, às vésperas da desincompatibilização.
PFL
Ontem, porém, o prefeito do
Rio, o pefelista Cesar Maia, reiterou seu apoio a Serra. Ao comentar o lançamento da candidatura
de Alckmin, Maia disse que
"Alckmin é muito mais herdeiro
de espólio de Covas que fundador
do seu próprio currículo". Para
Maia, a imagem de Alckmin "está
muito mais colada a FHC [ex-presidente Fernando Henrique Cardoso] no imaginário popular e arcará com uma memória negativa
do final" do governo passado.
"Ouvi no Nordeste usarem a expressão "inglesinho" para Alckmin
pelos politicos em Pernambuco e
na Bahia. Tenho uma enorme admiração pessoal por Alckmin.
Mas quero ganhar a eleição."
Maia chegou a ensaiar uma pré-candidatura à Presidência, mas
afirmou que abriria mão dela em
nome de uma composição com
Serra.
Alckmin reconhece no gesto
um sinal de que o PFL pretende
assumir a cadeira de Serra, com a
nomeação do vice Gilberto Kassab para o comando da prefeitura.
"Que [o PFL] quer [a prefeitura]
não tenho dúvida. Mas não é esse
o critério na escolha", disse.
O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, afirmou que o partido
não pretende interferir na disputa
tucana e que, hoje, o partido prefere a candidatura própria.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Conexão Tucana: Valério arrecadou para Azeredo em 1998, diz ex-tesoureiro Índice
|