|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONEXÃO TUCANA
Cláudio Mourão, que trabalhou na campanha de tucano, diz que publicitário "participou ativamente" da coleta de fundos
Valério arrecadou para Azeredo em 1998, diz ex-tesoureiro
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-tesoureiro de campanha
do senador Eduardo Azeredo
(PSDB-MG), Cláudio Mourão, 61,
afirmou em depoimento ao Ministério Público que o publicitário
Marcos Valério Fernandes de
Souza ajudou a arrecadar fundos
para a campanha em que o tucano tentou a reeleição ao governo
de Minas Gerais, em 1998.
"Marcos Valério passou a participar ativamente da campanha de
Azeredo, ligando, perguntando
como estava a campanha, inclusive auxiliando na arrecadação para a campanha", disse Mourão,
em depoimento prestado no último dia 21 aos promotores de Justiça de Belo Horizonte Leonardo
Barbabela e João Medeiros Silva.
Mourão também reafirmou, no
depoimento, informações que já
havia prestado em diferentes ocasiões desde o início do escândalo
do "mensalão". Contou que metade do custo de R$ 4,5 milhões
do trabalho do marqueteiro Duda
Mendonça para a campanha de
Azeredo foi paga por meio de caixa dois. E que a campanha custou
R$ 20,5 milhões, e não os R$ 8,5
milhões declarados pelo senador
ao Tribunal Superior Eleitoral.
O tesoureiro afirmou que mais
da metade do custo da campanha,
R$ 11 milhões, veio de empréstimos tomados por Valério no Banco Rural em nome de sua empresa SMPB. Os primeiros R$ 2 milhões foram entregues a Mourão
numa caixa de papelão. O restante também entrou na campanha
"em dinheiro vivo, algumas vezes
obtido [recebido pelo tesoureiro]
junto ao Banco Rural, outras na
própria sede da SMPB".
Mourão disse que Valério nada
pediu em troca dos empréstimos,
mas ressalvou que ele "era credor
do Estado de Minas Gerais" e que
a SMPB "passou muita dificuldade em 1996, e só não quebrou porque obteve ajuda do [candidato a
vice-governador na chapa de Azeredo] Clésio Andrade".
O ex-tesoureiro contou ainda
que Simone Vasconcelos, que ganhou notoriedade por fazer entregas em dinheiro a emissários de
políticos no esquema do "mensalão", também trabalhou na campanha de reeleição de Azeredo,
como servidora licenciada da Secretaria de Administração de Minas. Depois da campanha, Vasconcelos, segundo Mourão, foi indicada a Valério pelo próprio tesoureiro para ocupar um cargo
administrativo na SMPB.
Em entrevista à Folha, ontem,
Valério negou o papel de arrecadador, embora novamente confirme ter obtido empréstimos
bancários de "cerca de R$ 9 milhões" para a campanha tucana.
"Tudo já foi esclarecido à Polícia Federal e à CPI. Meu único papel foi repassar esses empréstimos. Não detenho nenhuma outra informação. Tudo o que sabia
já passei às autoridades", disse.
Azeredo disse à Folha nada saber a respeito do sistema de captação de recursos para sua campanha, atribuindo a Mourão toda a
responsabilidade. Disse desconhecer que Valério tenha tido papel na arrecadação de recursos.
"O Cláudio tinha autonomia na
ação dele, como ele mesmo declarou. Prestei contas com os dados
que obtive [do financeiro], assim
como o presidente Lula prestou
contas com os dados que tinha.
Peço que as pessoas mais atentas
observem que campanhas com
valores pequenos estão mais distantes da realidade, mas isso não
está interessando à imprensa."
Além de tesoureiro da campanha, Mourão foi secretário de Administração de Azeredo em seu
governo em Minas (1994-1998).
Mourão deixou o governo de
Azeredo em junho de 98 para ser
o arrecadador de fundos da campanha de reeleição, a convite do
coordenador da campanha do então governador, Carlos Eloy, ex-diretor da Cemig (Companhia
Energética de Minas Gerais).
Texto Anterior: Governador e prefeito divergem sobre possibilidade de reeleição Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/Congresso: Aldo é pressionado a aceitar convocação extraordinária Índice
|