São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

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CONEXÃO TUCANA

Cláudio Mourão, que trabalhou na campanha de tucano, diz que publicitário "participou ativamente" da coleta de fundos

Valério arrecadou para Azeredo em 1998, diz ex-tesoureiro

RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-tesoureiro de campanha do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), Cláudio Mourão, 61, afirmou em depoimento ao Ministério Público que o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza ajudou a arrecadar fundos para a campanha em que o tucano tentou a reeleição ao governo de Minas Gerais, em 1998.
"Marcos Valério passou a participar ativamente da campanha de Azeredo, ligando, perguntando como estava a campanha, inclusive auxiliando na arrecadação para a campanha", disse Mourão, em depoimento prestado no último dia 21 aos promotores de Justiça de Belo Horizonte Leonardo Barbabela e João Medeiros Silva.
Mourão também reafirmou, no depoimento, informações que já havia prestado em diferentes ocasiões desde o início do escândalo do "mensalão". Contou que metade do custo de R$ 4,5 milhões do trabalho do marqueteiro Duda Mendonça para a campanha de Azeredo foi paga por meio de caixa dois. E que a campanha custou R$ 20,5 milhões, e não os R$ 8,5 milhões declarados pelo senador ao Tribunal Superior Eleitoral.
O tesoureiro afirmou que mais da metade do custo da campanha, R$ 11 milhões, veio de empréstimos tomados por Valério no Banco Rural em nome de sua empresa SMPB. Os primeiros R$ 2 milhões foram entregues a Mourão numa caixa de papelão. O restante também entrou na campanha "em dinheiro vivo, algumas vezes obtido [recebido pelo tesoureiro] junto ao Banco Rural, outras na própria sede da SMPB".
Mourão disse que Valério nada pediu em troca dos empréstimos, mas ressalvou que ele "era credor do Estado de Minas Gerais" e que a SMPB "passou muita dificuldade em 1996, e só não quebrou porque obteve ajuda do [candidato a vice-governador na chapa de Azeredo] Clésio Andrade".
O ex-tesoureiro contou ainda que Simone Vasconcelos, que ganhou notoriedade por fazer entregas em dinheiro a emissários de políticos no esquema do "mensalão", também trabalhou na campanha de reeleição de Azeredo, como servidora licenciada da Secretaria de Administração de Minas. Depois da campanha, Vasconcelos, segundo Mourão, foi indicada a Valério pelo próprio tesoureiro para ocupar um cargo administrativo na SMPB.
Em entrevista à Folha, ontem, Valério negou o papel de arrecadador, embora novamente confirme ter obtido empréstimos bancários de "cerca de R$ 9 milhões" para a campanha tucana.
"Tudo já foi esclarecido à Polícia Federal e à CPI. Meu único papel foi repassar esses empréstimos. Não detenho nenhuma outra informação. Tudo o que sabia já passei às autoridades", disse.
Azeredo disse à Folha nada saber a respeito do sistema de captação de recursos para sua campanha, atribuindo a Mourão toda a responsabilidade. Disse desconhecer que Valério tenha tido papel na arrecadação de recursos.
"O Cláudio tinha autonomia na ação dele, como ele mesmo declarou. Prestei contas com os dados que obtive [do financeiro], assim como o presidente Lula prestou contas com os dados que tinha. Peço que as pessoas mais atentas observem que campanhas com valores pequenos estão mais distantes da realidade, mas isso não está interessando à imprensa."
Além de tesoureiro da campanha, Mourão foi secretário de Administração de Azeredo em seu governo em Minas (1994-1998).
Mourão deixou o governo de Azeredo em junho de 98 para ser o arrecadador de fundos da campanha de reeleição, a convite do coordenador da campanha do então governador, Carlos Eloy, ex-diretor da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais).


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