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ELIO GASPARI
As lições de Bruna, Tiazinha e La Close
De tempos em tempos, o
mundo das celebridades
brasileiras é enfeitado por jovens
que embaralham a relação entre
a verticalidade das vidas públicas e a horizontalidade das intimidades privadas. A estrela da
vez é Bruna Surfistinha, autora
de "O Doce Veneno do
Escorpião - O Diário de uma Garota de Programa". A moça tem
21 anos e seu livro disputa a lista
dos mais vendidos com "Quase
Tudo", de Danuza Leão, "Carmen", a biografia da "pequena
notável", de Ruy Castro, e "Freakonomics", de Steven
Levitt.
O "Diário de uma Garota de
Programa" é exatamente isso,
um diário de 134 páginas, acompanhado de um anexo de auto-ajuda, com 34. Tudo muito bem
escrito, com a ajuda do jornalista
Jorge Tarquini. Autora estreante
em editora pequena estaria no
caminho do fracasso, mas Bruna
foi vitaminada por uma força
dos tempos. Seu blog pessoal, com
dois anos de existência, recebe 20
mil visitantes por dia. Deu noite
de autógrafos, foi a shows de TV
e já patrocina uma balada.
Pode ser sociologia de botequim, mas, na hora em que dirigentes de um partido de 26 anos
formados na pregação moralista
da monogamia programática foram apanhados em tenebrosas
transações, nada mais natural
que o sucesso da narrativa escancarada de uma jovem de 21, com
três de militância em mais de mil
eventos. Ao contrário dos similares, Bruna Surfistinha não deixa
curiosidade sem resposta. Mais:
não dá lição de moral nem procura se justificar atribuindo aos
outros a responsabilidade pelos
seus atos.
Bruna Surfistinha pode ser um
símbolo da bacante de solteironas da política nacional. Depois
de quase um ano de tartufices
nas CPIs, enfim alguém conta
uma história que tem início,
meio e fim, na qual se pode acreditar. Ela também não dava recibo, mas jamais tocou em dinheiro da Viúva.
Bruna teve duas precursoras
(na simbologia, não no ofício).
Uma foi a Tiazinha. Com máscara e chicote, era o grande personagem do programa de televisão
de Luciano Huck e viveu seu momento de glória no Carnaval de
1999, aos 22 anos. A ekipekonômica acabara de arruinar a economia nacional. Mesmo sabendo-se que o desastre do dólar de
R$ 1,20 era inevitável, FFHH foi
reeleito. Era o estilo bate-que-eu-gosto.
Antes da Tiazinha, o Brasil viveu um incrível momento de ambigüidade política. Em 1984, depois que o Congresso derrotou a
campanha pelas eleições diretas,
Tancredo Neves, o candidato da
oposição, elegeu-se pelo sistema
indireto implantado pela ditadura. Além disso, tinha como vice o
senador José Sarney ex-presidente do partido do governo. As coisas eram e não eram, seriam,
mas talvez não fossem, como
acabaram não sendo, pois Tancredo morreu sem tomar posse. A
celebridade feminina desse tempo chamava-se Roberta Close
(1,88 m, 94 cm de busto, 101 cm de
quadril). Tinha 20 anos e chamava-se Luiz Roberto Gambine. Só
mudaria de sexo cinco anos depois, em Londres. La Close está
depositada na Suíça, onde viveu
com o marido Roland, de quem
se separou há cinco anos.
Roberta Close e Tiazinha foram fenômenos da imprensa e da
televisão.
Bruna Surfistinha mostra que
há algo de novo no céu. São os
blogs, com sua maravilhosa capacidade de levar qualquer um
para qualquer lugar, empurrado
apenas pela curiosidade,
pelas próprias idéias e pela
certeza de que pode dar sua opinião, pois alguém haverá de lhe
dar atenção.
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