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Governo tem pouca margem de manobra e pode aumentar tributos, dizem analistas
TONI SCIARRETTA
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A derrota do governo na
aprovação da CPMF sinaliza
uma piora nas contas públicas,
capaz de atrasar a ambição do
país de obter o chamado "grau
de investimento", chancela de
bom pagador da dívida e que
abriria as portas para investidores conservadores, como os
fundos de pensão dos EUA.
Para economistas, a derrota
implicará necessariamente em
aumento de impostos e em corte de gastos, em que dificilmente escaparão investimentos
previstos no PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento). E
esse é o melhor cenário, já contando que o governo consiga
reapresentar a emenda constitucional no início de 2008 e que
retome a cobrança da CPMF no
primeiro semestre.
"Caso contrário, terá de mexer no superávit primário. E aí,
a gente tem aquelas conseqüências que não se sabe direito quais são e que envolvem o
mercado financeiro. É um
mundo que não estava mais no
radar", disse o economista Raul
Veloso. Para ele, a derrota pega
o governo Lula despreparado
para implementar um corte racional nos gastos.
Veloso afirma que 90% dos
gastos não-financeiros da
União são obrigatórios, cujos
cortes são impedidos por lei ou
mesmo pela Constituição. "Então o governo vai mexer nos
10% que não são obrigatórios. É
aí que predominam os investimentos", disse.
O ex-presidente do Banco
Central na gestão tucana e sócio da Gávea Investimentos,
Armínio Fraga, disse que é "necessário começar a pensar em
cortar o gasto corrente", embora avalie que hoje o governo é
menos dependente da CPMF,
um tributo "ruim". "A receita
[arrecadação tributária] já vinha crescendo de modo do que
mais suficiente para permitir
uma redução e uma eventual
eliminação da CPMF", disse.
Fraga afirmou que gostaria
de ver o gasto público e carga
tributária em declínio, mas,
"claramente, não é isso que o
governo tem sinalizado". Na visão dele, o "pior dos mundos" é
a redução do superávit primário (hoje, em 3,8% do PIB), algo
ainda "muito cedo".
Impostos
O cenário mais provável é o
governo elevar impostos que
não dependam de aprovação do
Congresso, como IOF, CSLL e
IPI. O problema é que os ganhos serão restritos, incapazes
de cobrir o rombo na arrecadação. Mesmo se elevar a alíquota
do Imposto de Renda da Pessoa
Física, os ganhos serão pequenos e a União terá de dividi-los
com Estados e municípios.
Para Alexandre Schwartsman, economista do ABN Amro e ex-diretor do BC, o aumento da arrecadação pode atenuar. "Não tem nada de dinheiro sobrando, mas tem uma certa margem de manobra sim.
Tem a arrecadação que está
maior e pode continuar subindo. Tem possibilidade de mexer
em impostos, como o IOF."
As agências de classificação
de risco aguardam as medidas
do governo para compensar o
veto à prorrogação da CPMF.
Elas receberam bem a declaração do ministro Guido Mantega
de manter a meta de superávit.
"Hoje nada muda, porque precisamos de mais informações
do governo. Vamos ver o pacote
que será anunciado", afirmou
Lisa Schineller, diretora da
Standard & Poor's.
Rafael Guedes, da Fitch, vê
risco de atraso no grau de investimento. Ele diz que os bons
números mostrados pelo país
contrabalanceiam o efeito. "A
medida certamente vai adiar
mais a convergência do Brasil
rumo à obtenção do grau de investimento."
Segundo José Márcio Camargo, da Tendências, basta ao
governo cortar despesas já programadas para compensar o
fim da CPMF. Ele citou os reajustes do funcionalismo e o aumento real do salário mínimo
-que tem impacto nas despesas da Previdência.
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