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Consumidor terá pequeno ganho com o fim do tributo
Quem movimenta R$ 100 mil por ano economizará R$ 380, pouco mais de R$ 1 por dia
Tendência é que o dinheiro vá todo para o consumo, gerando mais receita; com carga fiscal de 36%, R$ 15 bi devem voltar ao governo
MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL
O fim da CPMF (tributo do
cheque) a partir de 1º de janeiro
-dentro, portanto, de 18 dias-
não trará economia expressiva
ao dia-a-dia dos consumidores.
É que, embora sua arrecadação
anual seja alta -neste ano, até
ontem, já são R$ 32,9 bilhões,
com previsão de R$ 36,3 bilhões no ano-, seu custo mensal é pequeno quando comparado a outros tributos.
Isso ocorre porque a CPMF
tem alíquota baixa mas base
tributária ampla -quase todos
pagam a contribuição, pois para isso basta movimentar dinheiro através do banco.
Para o leitor entender o efeito prático do fim da CPMF, basta imaginar uma pessoa que
movimente R$ 5.000 por mês.
Com alíquota de 0,38%, ela paga R$ 19. Se movimentar R$ 60
mil no ano, serão R$ 228 -ou
R$ 0,62 por dia. Para um movimento bancário de R$ 100 mil
por ano, a economia será de R$
380, ou R$ 1,04 por dia.
Apesar de a economia não ser
tão expressiva, o consumidor
ainda poderá ganhar um pouco
mais se puder adiar algum pagamento para 2008 -notadamente se ele for de valor elevado. É o caso de quem pretende
comprar um carro com pagamento à vista ainda neste ano.
Para um valor de R$ 40 mil, o
ganho será de R$ 152; se for de
R$ 50 mil, serão R$ 190.
Se o negócio for a compra de
um imóvel, que em geral envolve valores mais altos, o ganho
pode ser maior ainda. Assim,
em ambos os casos, adiar é vantagem -a menos que se possa
obter desconto que compense a
perda que haverá com o pagamento feito ainda neste ano.
No caso de compras de menor valor, como um móvel ou
eletrodoméstico, o consumidor
deve optar pelo pagamento
com cheque pré-datado ou no
cartão de crédito, desde que
não tenha de pagar juros por isso. Com o desconto do cheque
ou o pagamento da fatura do
cartão sendo feito apenas no
próximo ano, evita-se o pagamento do tributo.
Uma parte voltará
Com o fim da CPMF, o governo alega que perderá R$ 40 bilhões de receita em 2008. Haverá perda, sim, mas não no valor previsto pelo governo.
A explicação para isso é simples. Como o ganho para cada
consumidor -e, por extensão,
para cada família- será pequeno, a tendência é que o dinheiro
"economizado" com a CPMF
seja todo ele consumido.
Mais consumo significa mais
tributos. O resultado é que ao
menos R$ 15 bilhões retornarão aos cofres do governo sob a
forma de tributos. O cálculo leva em consideração uma carga
tributária de 36% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo o
IBPT (Instituto Brasileiro de
Planejamento Tributário).
A advogada tributarista Elisabeth Libertuci, do escritório
Libertuci Advogados Associados, prevê um retorno maior do
que R$ 15 bilhões. Segundo ela,
isso deverá ocorrer porque a
tendência é que a maior parte
desse consumo adicional seja
direcionada a produtos considerados supérfluos, cuja tributação acaba sendo maior.
Libertuci diz que será comum a compra de mais produtos importados, como bebidas,
que pagam Imposto de Importação e IPI mais elevados. Por
isso, ela chega a estimar que pelo menos metade -ou R$ 20 bilhões- da alegada perda do governo seria "recuperada" pelo
maior consumo e o conseqüente pagamento de mais tributos.
Com o maior consumo de
bens e serviços, o mercado de
trabalho também cresceria, gerando novos empregos, mais
salários, mais consumo e mais
tributos. Um dos setores que
devem ampliar o mercado de
trabalho é o de serviços, segundo Libertuci, devido à grande
concorrência. Esse maior poder de compra gerado pelos novos empregados movimentará
a economia do país, gerando
um círculo virtuoso.
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