São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2008

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Governo americano não esperava ditadura longa ou rigorosa

MATHEUS MAGENTA
TAI NALON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
De acordo com o professor de história dos EUA da USP Sean Purdy, afirmar que o governo norte-americano queria uma ditadura muito rigorosa é um erro. Embora apoiasse o regime militar, o ex-presidente Lyndon Johnson enfrentava críticas contundentes contra a guerra no Vietnã e procurava manter um certo equilíbrio diante da opinião pública.
"O governo estava tentando dizer que estava em guerra pela democracia e não dava pra ser diretamente associado com uma linha dura no Brasil."
Purdy diz que a principal preocupação de Washington era manter a ordem e a estabilidade diante dos avanços da esquerda socialista e da União Soviética no continente. Para o governo Johnson, porém, não era exatamente o que a linha dura militar brasileira estava promovendo.
Ao assumir a Presidência dos EUA, Richard Nixon (1969-1974) centrou suas atenções em assuntos extra-América Latina. Foi somente com a Doutrina Nixon (conjunto de princípios de conduta que permitia a assistência a países aliados em situações de conflito) e com a chegada de Salvador Allende ao poder no Chile, em 1970, que o Brasil, segundo ele "como cão de guarda para a América Latina", assumiu uma posição de destaque na política externa norte-americana.
"Nixon não era tão preocupado com a repercussão sobre apoiar um governo repressor, pois estava apoiando ditaduras no cone sul inteiro", diz.
Para Sean Purdy, a desconfiança dos EUA com relação ao governo Costa e Silva pode ter "algo de pessoal". "Castello Branco era amado pelos EUA. Era fluente em inglês, foi treinado lá, tinha relações com soldados norte-americanos na Itália durante a Segunda Guerra Mundial", diz Purdy.
"Costa e Silva tinha uma formação muito semelhante à de Castello Branco, mas era menos culto aos olhos dos embaixadores e oficiais."
O professor Matias Spektor, do MBA em relações internacionais da FGV (Fundação Getúlio Vargas), acrescenta que "existia o temor de que uma crítica direta dos EUA ao AI-5 terminaria fortalecendo elementos da linha dura que queriam fechar o regime ainda mais".
Segundo ele, embora Washington já considerasse o governo militar pré-AI-5 uma ditadura, a Casa Branca não imaginava que os brasileiros votariam para presidente da República apenas em 1989.
Matias Spektor diz que, nesse período, a questão dos direitos humanos e civis ganhou força nos EUA a ponto de dificultar o estabelecimento de "relações especiais" com ditaduras de países em desenvolvimento.
Para o brasilianista James Green, professor da Brown University, a redução dos financiamentos americanos no Brasil é natural porque os recursos enviados no início do regime em 1964 já tinham sido suficientes para criar as condições necessárias para o crescimento econômico do país.














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