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Governo americano não esperava ditadura longa ou rigorosa
MATHEUS MAGENTA
TAI NALON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
De acordo com o professor de
história dos EUA da USP Sean
Purdy, afirmar que o governo
norte-americano queria uma
ditadura muito rigorosa é um
erro. Embora apoiasse o regime
militar, o ex-presidente
Lyndon Johnson enfrentava
críticas contundentes contra a
guerra no Vietnã e procurava
manter um certo equilíbrio
diante da opinião pública.
"O governo estava tentando
dizer que estava em guerra pela
democracia e não dava pra ser
diretamente associado com
uma linha dura no Brasil."
Purdy diz que a principal
preocupação de Washington
era manter a ordem e a estabilidade diante dos avanços da esquerda socialista e da União Soviética no continente. Para o
governo Johnson, porém, não
era exatamente o que a linha
dura militar brasileira estava
promovendo.
Ao assumir a Presidência dos
EUA, Richard Nixon (1969-1974) centrou suas atenções
em assuntos extra-América Latina. Foi somente com a Doutrina Nixon (conjunto de princípios de conduta que permitia
a assistência a países aliados
em situações de conflito) e com
a chegada de Salvador Allende
ao poder no Chile, em 1970, que
o Brasil, segundo ele "como cão
de guarda para a América Latina", assumiu uma posição de
destaque na política externa
norte-americana.
"Nixon não era tão preocupado com a repercussão sobre
apoiar um governo repressor,
pois estava apoiando ditaduras
no cone sul inteiro", diz.
Para Sean Purdy, a desconfiança dos EUA com relação ao
governo Costa e Silva pode ter
"algo de pessoal". "Castello
Branco era amado pelos EUA.
Era fluente em inglês, foi treinado lá, tinha relações com soldados norte-americanos na
Itália durante a Segunda Guerra Mundial", diz Purdy.
"Costa e Silva tinha uma formação muito semelhante à de
Castello Branco, mas era menos culto aos olhos dos embaixadores e oficiais."
O professor Matias Spektor,
do MBA em relações internacionais da FGV (Fundação Getúlio Vargas), acrescenta que
"existia o temor de que uma crítica direta dos EUA ao AI-5 terminaria fortalecendo elementos da linha dura que queriam
fechar o regime ainda mais".
Segundo ele, embora Washington já considerasse o governo militar pré-AI-5 uma ditadura, a Casa Branca não imaginava que os brasileiros votariam para presidente da República apenas em 1989.
Matias Spektor diz que, nesse período, a questão dos direitos humanos e civis ganhou força nos EUA a ponto de dificultar o estabelecimento de "relações especiais" com ditaduras
de países em desenvolvimento.
Para o brasilianista James
Green, professor da Brown
University, a redução dos financiamentos americanos no
Brasil é natural porque os recursos enviados no início do regime em 1964 já tinham sido
suficientes para criar as condições necessárias para o crescimento econômico do país.
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