São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2008

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Pimentel participou de 3 tentativas frustradas de seqüestro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), é protagonista de uma ação frustrada que tem tudo para estar no livro do brigadeiro da reserva José Carlos Pereira. Pimentel detalhou à Folha como o grupo que tentava seqüestrar o então cônsul norte-americano Curtis Cutter, em Porto Alegre, foi confundido com jovens querendo apostar um pega. Foram pelo menos três tentativas (sem sucesso) no dia 4 de abril de 1970, um sábado.
Segundo o próprio prefeito, que acabou preso uma semana depois da tentativa de seqüestro, é a primeira vez que ele conta detalhes da ação. Clandestino, Pimentel militava na VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) quando o grupo decidiu levantar recursos e soltar 50 presos que seriam levados para a Argélia.
"As ações urbanas eram apenas para dar sustentação à coluna móvel estratégica, uma coluna de guerrilheiros que se deslocaria pelo interior", afirma. Depois de seguir por um mês o cônsul e colecionar detalhes do dia-a-dia do americano, decidiu seqüestrá-lo num sábado, dia em que ele não tinha seguranças, mas também não tinha rotina.
"Eu fiquei íntimo do cara. Ele tinha quatro filhos, dois eram gêmeos e de colo. Eu segui ele por um mês, tomava sorvete com ele...", recorda Pimentel, que mandou abortar a primeira tentativa do seqüestro porque achou ter visto uma criança no carro que o cônsul dirigia. "Não tinha menino, era uma cadeirinha de criança. Eu, naquela afobação, achei que uma criança estava no carro. Saímos desesperados, emparelhamos com o carro dele e ele achou que queríamos bater um pega. Queríamos era seqüestrar", conta o hoje prefeito.
Munidos de revólveres e granadas, o grupo não desistiu. Na noite do dia seguinte, tentaram outra vez. "Aí, deu errado", recorda ele, que desceu do Fusca com outros dois militantes com armas em punho. Assustado, o cônsul acelerou, atropelou um dos seqüestradores e fugiu em meio a um tiroteio.
Mesmo ferido, o americano escapou, e o aparelho de repressão se instalou em Porto Alegre para caçar os terroristas. "Montaram um centro de interrogatório e de tortura. Em uma semana prenderam mais de 200 pessoas, prenderam a esquerda toda no Rio Grande do Sul." Entre eles, Pimentel, condenado a mais de 14 anos de prisão.


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