São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Presidente planeja anunciar candidatura somente após definição do nome tucano

Lula espera PSDB decidir e vê Alckmin como imprevisível

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva considera uma eventual disputa eleitoral contra o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), "mais imprevisível e arriscada" do que contra o também tucano José Serra, prefeito de São Paulo, segundo ele próprio disse em conversas reservadas.
Lula planeja anunciar que disputará a reeleição apenas depois de o PSDB tomar a decisão final entre Alckmin e Serra. E faz estudos em busca de um mote eleitoral para convencer o eleitor de que merece um segundo mandato. Pensa em algo que combine crescimento econômico, geração de emprego e continuidade da política social.
Na semana passada, Lula e auxiliares comentaram reservadamente o desembaraço cada dia maior de Alckmin para tentar conquistar a indicação tucana ao Palácio do Planalto.
O presidente se surpreendeu. Acha que o governador paulista, em movimentos arrojados, conseguiu momentaneamente deixar Serra numa situação difícil para ser escolhido pelo PSDB.
Lula avalia que enfrentará muita dificuldade para se reeleger contra um adversário tucano, seja ele Alckmin ou Serra. No entanto, o presidente acredita que o governador paulista tem mais margem de manobra do que o prefeito para surpreender numa eleição.

Seqüelas políticas
Lula acredita que a disputa entre Alckmin e Serra deixará seqüelas políticas para o escolhido e que isso o beneficiará, mostrando uma imagem de desunião e lances de puxada de tapete no PSDB.
O presidente fez essa avaliação em outubro passado, quando disse a políticos de esquerda de Portugal e Itália que seria candidato, que haveria muita luta entre seus adversários e que sairia vencedor. Acha que ela está se confirmando, pois Alckmin, em uma série de movimentos, dificulta a eventual renúncia de Serra da prefeitura.
Lula pensa que não ganhará nada se anunciar sua candidatura antes de o PSDB definir o seu rumo na sucessão. Quer ver a capacidade de agregação política do escolhido e o impacto imediato da escolha na mídia e na sociedade.
De acordo com membros do governo, pesquisas qualitativas do PT e do Palácio do Planalto mostram que Alckmin seria potencialmente mais perigoso do que Serra porque ainda tem alta taxa de desconhecimento. Onde é muito conhecido, como no Estado de São Paulo, aparece nas pesquisas em posição superior a Serra no embate com Lula.
De quebra, Alckmin poderá se vender como novidade da eleição. Já o prefeito de São Paulo é um político nacionalmente conhecido e cuja intenção de voto hoje refletiria a lembrança de sua candidatura derrotada em 2002.
Serra é o tucano mais bem posicionado nas pesquisas para bater Lula. Venceria o petista no segundo turno com vantagem de 14 pontos, segundo levantamento do Datafolha de dezembro.
Na visão do presidente, parte da intenção de voto que perdeu diretamente para o prefeito de São Paulo nas pesquisas se deve mais à decepção do eleitorado com ele do que a um clamor pró-Serra.
Lula acredita que poderá recuperar parte dessa fatia de eleitores com campanhas de propaganda do governo federal em curso nos principais Estados e com um programa eleitoral em rádio e TV no qual possa defender sua gestão na reta final da eleição.
Mais: Lula crê que Serra pagará um alto preço se renunciar até 1º de abril ao mandato de prefeito para concorrer. Acredita que o tucano poderá perder votos no momento em que ele espera reconquistar algum apoio. Se essa previsão se confirmar nas pesquisas, Serra enfrentaria turbulência já em abril ou maio.
O presidente acredita que é boa a polarização com o PSDB para arregimentar o apoio de movimentos sociais que andam insatisfeitos com sua gestão.
Pretende se reunir com essas entidades (centrais sindicais, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Confederação dos Trabalhadores na Agricultura) para dar o seguinte recado: sua Presidência não foi a dos sonhos para esse pessoal, mas o reajuste do salário mínimo para R$ 350, o aumento do financiamento para a agricultura familiar e as políticas sociais poderiam ter sido muito menores e diferentes fosse outro o ocupante do Palácio do Planalto.
Por último, Lula ainda fará um esforço para tentar ter o apoio de um grande partido e não apenas de aliados tradicionais, como PSB e PC do B. Leia-se: PMDB. É difícil que isso venha a acontecer.
Mas o presidente ainda sonha em ter o atual presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Nelson Jobim, na vice. Jobim deverá se filiar ao PMDB em abril, deixando a vaga no Supremo. Fará ofensiva também para tentar selar alianças com PL e PTB. O resto terá de "combinar com os russos", no caso, os eleitores.


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