São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Estratégia adotada por Alckmin não é unanimidade dentro do partido; Serra tenta utilizar boa colocação nas pesquisas a seu favor

Disputa expõe fissuras do PSDB em SP

Caio Guateli - 12.dez.2005/Folha Imagem
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, convocado para intermediar a disputa no PSDB


DA REPORTAGEM LOCAL

Na última semana, o PSDB expôs sua fissura com a iniciativa do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, de anunciar sua saída do Palácio dos Bandeirantes até 31 de março, para tentar impulsionar sua pré-candidatura a presidente. Ao declarar antecipadamente sua saída, aliados de Alckmin acreditam que ele tenha imposto constrangimento ao prefeito de São Paulo, José Serra, que, por ter se comprometido a cumprir o mandato, não pode fazer o mesmo neste momento.
A deflagração da crise levantou dúvidas sobre o cenário tucano. A Folha ouviu representantes do partido e aliados dos dois lados numa tentativa de mapear o ambiente interno. Serra é o tucano mais bem colocado nas pesquisas de opinião. Levantamentos apontam o prefeito à frente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já no primeiro turno e com larga vantagem no segundo. Já Alckmin perderia do petista no primeiro estágio e estaria empatado tecnicamente no segundo.
A seguir algumas das dúvidas levantadas nos últimos dias e as avaliações dentro do partido.

É possível que, pela primeira vez em sua história, o PSDB leve a decisão para uma convenção?
Como o prazo final para a renúncia dos candidatos que ocupam cargos eletivos é 1º de abril, os tucanos acreditam que o ideal será construir um consenso até o fim de março. Assim, só o escolhido pelo partido terá que deixar seu posto, seja na prefeitura ou no governo do Estado. O partido poderia evitar que os dois pré-candidatos deixassem seus postos ao mesmo tempo, entregando as administrações para o PFL -o vice de Serra é Gilberto Kassab e o de Alckmin é Cláudio Lembo.
Em caso de convenção, os dois seriam obrigados a optar pela desincompatibilização. Porém, embora Alckmin insista que o partido chegará a um entendimento, há quem aposte em sua disposição de levar a disputa até o fim.

Quais são as estratégias de Alckmin e Serra e suas principais armas para convencer o partido?
O governador Alckmin se fiará em algumas características:
a) o conceito da naturalidade de sua candidatura [a liberdade de se declarar candidato];
b) o discurso de ter cumprido etapas: foi prefeito e duas vezes governador;
c) apoio de empresários;
d) a liderança no Estado;
e) o jeito de bom moço;
f) a imagem de administrador competente e dedicado;
g) a boa avaliação de sua administração, segundo pesquisas.
Já Serra tende a explorar os seguintes pontos:
a) a liderança nas pesquisas, o que confere apoio dos tucanos em outros Estados;
b) visibilidade nacional, inclusive entre eleitores de mais baixa renda, graças à paternidade de propostas como a dos genéricos e bolsa-alimentação;
c) maior influência sobre as bancadas no Congresso;
d) discurso de que é estadista, por sua experiência política;
e) maior apoio do PFL;
f) a boa avaliação de sua administração.

Com quem eles podem contar, dentro e fora do partido?
O prefeito Serra tem a simpatia de Jorge Bornhausen e Cesar Maia no PFL. Também tem laço com Roberto Freire (PPS), Michel Temer e Jarbas Vasconcelos (ambos do PMDB).
Dentro do partido, sua "tropa de choque" inclui Jutahy Magalhães, Alberto Goldman, Arthur Virgílio, Eduardo Paes e Sebastião Madeira.
Alckmin tem o apoio dos líderes regionais dos partidos que o apóiam em São Paulo. No PSDB, conta com a simpatia de José Aníbal, Dante de Oliveira e do presidente do partido, Tasso Jereissati, além dos pré-candidatos tucanos ao governo, todos dependentes de seu apoio para um bom desempenho na eleição de outubro.

Qual é a análise do potencial de Serra e de Alckmin para a eleição? Segundo análises dentro do partido, Alckmin teria um perfil mais conciliador e menor índice de rejeição. Além disso, seu potencial de crescimento ainda é uma incógnita. Aliados do governador repetem a tese de que, onde é conhecido, Alckmin vai muito bem. Onde ainda não tem seu nome fixado, o tucano teria largo potencial de crescimento.
Serra foi o adversário de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Há o temor de que sua candidatura seja vista como uma espécie de "revanche" do pleito que perdeu. Só que o prefeito já ocupou o espaço do "anti-Lula" e, com isso, viu ampliar suas intenções de voto por todo o país e em diferentes estratos (nível de renda, de idade, de escolaridade).

O partido corre o risco de rachar antes da eleição?
Sim. E, para conter uma fissura, foi escalado o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Tasso e o governador de Minas, Aécio Neves, também foram recrutados para o trabalho de reconciliação.

A estratégia de Alckmin foi bem recebida dentro do partido?
Há controvérsia. Enquanto alguns reconhecem que essa era sua única chance de ter maior visibilidade, outros lamentam que tenha exposto a disputa interna, precipitando a necessidade de intervenção do comando do partido.

Quais as características que os tucanos procuram em seu candidato? Em primeiro lugar, a capacidade de superar Lula. Mas sem correr o risco de derrota em São Paulo.


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