São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 2006

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Rainha critica Alckmin e diz que governador deveria ter saído antes

CRISTIANO MACHADO
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM PRESIDENTE PRUDENTE

O principal líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) do Pontal do Paranapanema (extremo oeste de São Paulo), José Rainha Jr., 45, criticou, na última quarta, a política agrária do governador Geraldo Alckmin (PSDB), ao mesmo tempo em que o movimento promove a maior onda de invasões na região desde 2002.
A respeito do anúncio de Alckmin de que irá se licenciar do cargo até abril, para concorrer à Presidência da República, Rainha disse que "ele deveria ter saído antes". O MST invadiu 11 fazendas no Pontal do sábado, dia 7, à quarta, dia 11, em protesto contra o não cumprimento da promessa feita pelo governador em 2003 de assentar 1,4 mil famílias.
"Estou no Pontal há 15 anos. Aqui o governador Alckmin não fez nada. A única coisa que fez foi trazer a guerra para a região, transferindo a elite da bandidagem com a desativação do Carandiru, enchendo de líderes de facções que usam até mísseis nas suas ações", afirmou.
Rainha disse considerar que falta ao governo paulista um projeto de desenvolvimento para a região. "Qual é o projeto que o Estado tem para os assentamentos? O que faz para o pequeno agricultor? Ele deixa a miséria e o atraso tomarem conta disso aqui."
Rainha refutou a tese do diretor do Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo), Jonas Villas Boas, segundo a qual a União não repassa verba para o cumprimento das metas.
"Eles falam que não têm dinheiro [para assentar as famílias]. Dinheiro tem, mas o que falta é vontade política para fazer a reforma agrária", disse.

"De fora"
Temendo represálias da Justiça, Rainha disse estar "totalmente de fora" da articulação e da realização das invasões.
"Estou batalhando para articular os assentamentos, buscando parcerias com prefeituras da região e outros órgãos para implantar projetos e mudar esse quadro. É isso que venho fazendo porque essa hoje é a minha missão. Porque quero um Pontal produtivo."
No entanto, setores do MST que romperam com o líder afirmam que a maior parte das ações é de sua responsabilidade e executada por pessoas de sua confiança.
Rainha nega: "Quem define a necessidade de ocupação é o acampamento, é o povo. A iniciativa de realizá-las foi da coordenação de cada acampamento".
O coordenador do MST disse, entretanto, "orientar a coordenação a continuar a luta pela reforma agrária".

Justiça
Beneficiado por um habeas corpus do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Rainha responde em liberdade a uma condenação de dez anos de prisão em regime fechado por crimes que teria praticado em uma invasão, seis anos por incêndio e quatro por furto qualificado. Os delitos teriam sido cometidos durante a invasão da fazenda Santana Dalcídia, em Teodoro Sampaio, há cinco anos.
Desde sua chegada ao Pontal, em 1991, Rainha foi preso quatro vezes e responde a dezenas de processos por invasão de terra. Ainda em 2005, acusado de depredação, disparo de arma de fogo, furto e incêndio durante uma invasão, Rainha foi preso preventivamente em Mirante do Paranapanema. O Ministério Público engrossou o pedido ao acusá-lo de incitação à violência por ter anunciado novas invasões. Nove dias depois, foi solto graças a uma trégua de invasões negociada entre o MST e o Ministério Público.


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