São Paulo, quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

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Governo italiano critica Brasil por conceder asilo a terrorista

Ministério pede explicações ao embaixador brasileiro em Roma sobre Cesare Battisti

Decisão de Tarso Genro é atacada até por políticos de oposição a Silvio Berlusconi; deputado pede rompimento de relações diplomáticas


Nelson Almeida/France Presse
Tarso Genro concede entrevista sobre Cesare Battisti; segundo ele, decisão não foi política

DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O governo italiano pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que reveja o refúgio concedido anteontem ao terrorista italiano Cesare Battisti. O Ministério das Relações Exteriores da Itália convocou o embaixador brasileiro em Roma, Adhemar Gabriel Bahadian, para prestar esclarecimentos.
Em nota, a chancelaria italiana disse que recebeu com "surpresa e forte pesar" a notícia do refúgio, "contrariando o estabelecido pelo Comitê Nacional para os Refugiados", e chamou Battisti de um "terrorista responsável por gravíssimos crimes que nada têm a ver com o status de refugiado político".
Battisti é acusado de ter assassinado o marechal da guarda penitenciária Antonio Santoro, que o PAC (Proletários Armados pelo Comunismo) acusava de maltratar detentos, e o agente da polícia Andrea Campagna, encarregado de prender os suspeitos de matar o joalheiro Luigi Torregiani -na qual Battisti é acusado de cumplicidade. Ele ainda é acusado de ser cúmplice na morte do açougueiro Lino Sabbadin, militante neofascista. As mortes ocorreram em 1978 e 1979.
O Itamaraty disse que o convite ao embaixador em Roma não deve ser visto como algo "excepcional" e que ele já enviou relato da reunião.
Battisti, 54, foi militante do PAC nos anos 70. Preso no Brasil desde 2007, recebeu anteontem, do ministro da Justiça, Tarso Genro, o status de aliado político.
O caso de Battisti uniu políticos aliados ao governo de centro-direita de Silvio Berlusconi e também da oposição. Alguns pedem ruptura de relações.
O ministro italiano do Interior, Roberto Maroni, da Liga Norte, disse que a decisão "é um erro muito grave do governo brasileiro, que ofende as vítimas do terrorismo, o sistema judiciário e o povo italiano".
Maurizio Gasparri, presidente dos senadores do Povo da Liberdade, a coalizão governista, disse que a Itália "deve assumir imediatamente iniciativas para exprimir às autoridades brasileiras o desdém e a condenação do povo italiano por uma decisão vergonhosa e inaceitável que deverá ser modificada".
Até o deputado de centro-esquerda Piero Fassino, dirigente do Partido Democrático (PD), discordou da decisão: "Existe uma avaliação errada dos crimes cometidos ligados aos crimes políticos, como se estes tivessem uma conotação diferente. Quando se mata um homem, é justo que se pague".
O deputado do Partido Democrático, Marco Minniti, "ministro da Justiça" do governo paralelo, disse que "é justo que Battisti cumpra sua pena na Itália". Antonio Di Pietro, ex-juiz da Operação Mãos Limpas e deputado do partido de centro-esquerda Itália dos Valores, criticou o governo Lula e disse que "Battisti é um assassino e deve permanecer na prisão".
O deputado Luca Volonté, do oposicionista União dos Democratas Cristãos e Democratas de Centro, viu na decisão um "insulto à dignidade da Itália" e pediu a ruptura das relações diplomáticas: "Agora basta".


Colaboraram a Sucursal de Brasília e as agências internacionais


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