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JANIO DE FREITAS
Um ponto no programa
A falta de surpresa na eleição para a presidência do
Senado não se traduz em promessas positivas, seja no que diz
respeito à imagem da Casa e do
Congresso, seja em relação aos
problemas gerais do país.
O PFL foi, é e continuará sendo submisso ao governo, a Fernando Henrique. Mas o PMDB
do vitorioso, Jader Barbalho,
cumpriu o mesmo papel com
muito menos atenção para o
comprometimento, já não se diga da moralidade partidária,
senão ao menos das aparências,
em respeito à opinião pública.
O senador Jader Barbalho e
seu partido têm ainda uma dificuldade adicional, para conduzir o comando do Senado e do
Congresso, pelos próximos dois
anos, com resultados satisfatórios. Para fazê-lo, não podem
deixar que o Senado desça, por
pouco que seja, do realce que lhe
deu, na vida política e na mídia,
o senador Antonio Carlos Magalhães nos últimos quatros
anos. A Câmara, tradicionalmente mais visível e audível, pela maior fermentação nos seus
debates e votações, nos últimos
anos quase sumiu.
Antonio Carlos Magalhães excedeu as funções convencionais
da presidência, conferindo-lhe
uma dimensão de denunciadora de certos aspectos nacionais e
de proponente, com várias vitórias, de medidas não só parlamentares, mas também governamentais, que os atenuassem.
O próprio Antonio Carlos lembrou tais atitudes, no seu discurso de despedida. Nem por isso é
dispensável reconhecer que o salário mínimo só escapou da esmola humilhante, que Fernando Henrique e Pedro Malan lhe
queriam acrescentar, porque a
ofensiva de Antonio Carlos tornou politicamente inviável a
persistência dos dois.
Por mais que Jader Barbalho
seja reconhecido como um político com senso de oportunidade
muito apurado, ao qual dá a
contribuição de audácia e dureza incomuns, não é esperável
que dê à presidência do Senado
e do Congresso uma dimensão a
mais, equivalente, embora não
precisasse ser idêntica, à criada
por seu antecessor. Seu programa deveria resumir-se a um
ponto: não permitir motivos de
saudades do seu antecessor e
inimigo. Ou, como preferem os
políticos, do seu adversário.
Adversário ou político até que
Antonio Carlos Magalhães sinalize sua resposta ao aceno de
convivência pacífica que lhe fez Jader Barbalho, no discurso de
posse. Este passa a ser o centro
da curiosidade.
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