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São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 2003

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AGENDA PETISTA

Presidente defende programa ao assinar convênios com a FAO

Lula culpa elite e imprensa pelas críticas ao Fome Zero

ANDRÉ SOLIANI
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a elite e a imprensa ao defender a prioridade do seu governo, o Fome Zero, e afirmou que o programa é o melhor do mundo. O programa já recebeu críticas de especialistas, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e até de pessoas que apóiam o governo do PT.
"Lamentavelmente, a elite brasileira e, dentro da elite brasileira, até grandes setores da nossa gloriosa imprensa, estão acostumados com outro tipo de governo -um governo em que todos os recursos públicos disponíveis são feitos para atender à demanda daqueles que não precisariam do Estado", disse Lula, ao participar, ontem, em Brasília, da assinatura de três convênios com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação).
O presidente prosseguiu: "Nós queremos fazer o contrário. Queremos usar todo o potencial que o Estado tiver para fazer políticas públicas na tentativa de devolver para o povo cada centavo em forma de um benefício, que signifique para ele ser tratado com dignidade e com respeito que todo ser humano tem".
O gasto público no Brasil sempre recebeu críticas de especialistas, que afirmam que a maior parte dos recursos não chega aos mais pobres. A frase mais conhecida sobre o assunto é do economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Ricardo Paes de Barros: "Se o dinheiro [público] fosse jogado de helicóptero, chegaria com mais facilidade às mãos dos pobres".

Suplicy
A principal crítica ao Fome Zero é a obrigação que o beneficiário tem de comprar apenas alimentos. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) é um dos que apontaram o problema. As famílias que recebem o Bolsa-Escola, por exemplo, têm liberdade de escolher o que fazer com o dinheiro. A contrapartida do benefício é manter as crianças na escola.
Ontem, Lula recebeu o apoio do diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, que elogiou "o exemplo dado [por Lula] ao mundo, quando decidiu que a prioridade de seus quatro anos de governo é acabar com a fome no Brasil".
Na opinião do presidente, o Fome Zero é o melhor programa de combate à fome do mundo. "Possivelmente o nosso projeto de combate à fome não é o mais perfeito do mundo, mas eu duvido que no mundo tenha um mais perfeito que o nosso", afirmou Lula, após receber da FAO US$ 1 milhão para ajudar na implementação do seu programa.
O presidente não quis se comprometer com prazos para cumprir seu objetivo de campanha - que cada brasileiro possa fazer três refeições por dia. "Confesso que não dá para quantificar a hora e o momento em que vamos acabar com a fome." O sucesso do programa, para Lula, não depende apenas do governo, mas da participação da sociedade.
O presidente reclamou da falta de solidariedade. "Para combater a fome é preciso convencer os que comem a estender a mão para os que não comem. É difícil uma pessoa que toma seu belo café, almoça e janta ter preocupação com os que não comem", disse.
Lula defendeu o combate à fome no país como um "compromisso ético, moral e cristão". "É sobretudo uma profissão de fé, de estender as mãos àqueles que não tiveram as mesmas oportunidade que eu tive", afirmou.
O presidente disse que é "um sonhador por natureza", que acredita que "um dia haverá no planeta Terra governantes que em vez de quererem produzir uma bala para matar alguém estarão dispostos a plantar um pé de feijão para salvar alguém".
Ele finalizou seu discurso improvisado afirmando que "o dia que conseguirmos isso a humanidade terá chegado ao paraíso que todos nós buscamos".


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