São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Planalto ameaça reabrir investigações sobre contribuições a campanhas da oposição

PT teme desgaste em ano eleitoral e tenta evitar CPI

Lula Marques-27.jan.2004/Folha Imagem
Waldomiro Diniz, (atrás, de braços cruzados) acompanha José Dirceu na Câmara, em janeiro


KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Além da preocupação em tentar preservar a imagem do ministro José Dirceu (Casa Civil), o governo federal e o PT traçam planos para minimizar o efeito eleitoral do caso Waldomiro Diniz, ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência, nas eleições municipais de outubro.
Os principais pontos da avaliação inicial da cúpula do governo são os seguintes: 1) a repercussão e os desdobramentos do caso terão longa duração por causa do ano eleitoral; 2) o enfraquecimento político de Dirceu precisa ser minimizado, apesar de o presidente Lula ter ficado contrariado. Lula avalia que Dirceu deveria ter demitido Diniz no ano passado, quando surgiram as primeiras acusações contra ele, mas o ministro o manteve numa vitrine e acabou atraindo o desgaste para o Planalto; 3) é necessário estar preparado para jogar duro com a oposição caso seja inevitável uma CPI, e 4) o governo acredita que o presidente do PSDB, José Serra, está mesmo por trás da divulgação do escândalo. O tucano nega.
A revista "Época" revelou fita que mostra Waldomiro, homem da confiança de Dirceu, pedindo propina e contribuição de campanha a um bicheiro em 2002, quando estava no governo do Rio na gestão de Benedita da Silva (PT).
A primeira medida do governo é tentar evitar a CPI, sinalizando para a oposição, especialmente o PSDB, que poderá ressuscitar casos sobre contribuições de campanhas eleitorais de tucanos.
O PSDB está dividido. Senadores tucanos já recolhem assinaturas, mas o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse ontem que era contrário à instalação imediata de uma CPI.
As cúpulas do governo e do PT avaliam que o caso será usado durante a eleição, a exemplo do que sofreu Olívio Dutra durante seu governo no Rio Grande do Sul. Houve acusação de envolvimento do PT gaúcho com bicheiros.
Enquanto tenta assustar os tucanos, o governo trabalha para arrefecer o ânimo oposicionista do PFL. Avalia que o PSDB foi radical na repercussão do caso, mas que o PFL se comportou de forma moderada. Já há articulação com o grupo do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que controla três senadores e mais de 20 deputados, para bombardear a CPI.
Mas, como a cúpula do governo crê que não pode gastar toda a sua munição de uma só vez, já faz plano para tentar controlar uma eventual CPI, colocando membros de sua confiança nos postos-chave. Usou o mesmo expediente no ano passado em relação à CPI do Banestado. Tentou evitá-la, não conseguiu, mas a controlou.
Nesse jogo, o PMDB, que recebeu dois ministérios em janeiro, é peça fundamental. Já há conversas entre os ministros Dirceu e Aldo Rebelo (Coordenação Política) para tratar com peemedebistas da rápida nomeação de cargos do segundo escalão. O partido cobrava pressa, mas o governo as retardava. As indicações devem sair logo.
A revelação de que câmeras do aeroporto de Brasília acompanharam Waldomiro em maio de 2002, ano da eleição presidencial, levou o governo a colocar Serra e o PSDB como os principais suspeitos da divulgação da fita. O Planalto tem divulgado informalmente que o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) foi visto saindo altas horas da noite da casa de José Roberto Santoro, subprocurador-geral da República e figura do Ministério Público com boas relações com Serra e o PSDB.

Colaborou a Reportagem Local



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