São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Exonerado a pedido, Waldomiro tenta desvincular episódio de sua atividade na Casa Civil; ele "está alquebrado", diz advogado

Ex-assessor de Dirceu tenta isentar governo

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A principal preocupação hoje do ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência Waldomiro Diniz é desvincular o episódio da fita de vídeo em que foi flagrado pedindo propina e contribuição de campanha a um bicheiro de suas ações no tempo em que atuou como o principal assessor do ministro José Dirceu (Casa Civil) no Congresso e no governo.
"Ele é um homem de alma quebrada", disse à Folha Luiz Guilherme Vieira, advogado que Waldomiro acabou de contratar e com quem conversou entre a noite de sexta e a madrugada de sábado. "Ele afirma que isso [as cenas da fita] não tem nada a ver com o governo. Está abatido, alquebrado." A preocupação de Waldomiro é a mesma do governo, que, por meio de seus expoentes, tenta tratar o fato como uma ação pessoal do ex-assessor palaciano que há pelo menos 12 anos mantém relações com o ministro Dirceu.
Publicada a reportagem, o governo afastou Waldomiro. Em edição extra que circulou na tarde de sexta-feira, o "Diário Oficial" da União registrou a sua exoneração "a pedido". Recolhido na casa de amigos, abatido e insone, Waldomiro recebeu uma única orientação de seu advogado: "Tente catar os cacos e dormir".
Vieira pretendia voltar ao Rio no sábado. Trabalharia hoje no caso para, "nas primeiras horas da segunda-feira", conversar com o delegado da Polícia Federal Antônio César Fernandes Nunes, que presidirá o inquérito no qual Waldomiro será investigado.
A peça-chave do inquérito é a fita de vídeo em que Waldomiro conversa com Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, considerado o maior bicheiro de Goiás, acertando pagamento de propina, formas de manipulação de um processo licitatório, além de contribuições para campanhas eleitorais. As cenas revelam, em tese, prática de concussão (corrupção praticada por servidor público), corrupção ativa e manipulação de licitações.
Encaminhada anonimamente ao gabinete do senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), a fita desencadeou a abertura de investigação pelo Ministério Público Federal. Na sexta, Barros pediu a abertura de uma CPI para apurar o fato e pediu o afastamento imediato de Dirceu. Os primeiros elementos sobre supostas irregularidades cometidas por Waldomiro na administração pública chegaram ao Ministério Público Federal em Brasília há três meses.
Em forma de dossiê foram reunidas cópias de contratos firmados pela Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro), órgão presidido por Waldomiro em 2002. Havia também cartas precatórias em que a Justiça italiana solicitava ao Supremo Tribunal Federal quebra de sigilos, tomada de depoimentos e requisição de documentos relacionados a cerca de 40 pessoas que, trabalhando com jogos, estariam envolvidas com a máfia italiana. Entre outras práticas, estariam lavando dinheiro obtido com atividades criminosas. No grupo dos investigados pelas autoridades italianas está Alejandro Ortiz, acusado de ser um dos braços da máfia espanhola no Brasil.
Em depoimento ao Ministério Público Federal, o empresário goiano do setor de jogos Carlos Roberto Martins atribuiu a Waldomiro o ingresso de Carlinhos Cachoeira no mercado fluminense. Ainda segundo Martins, que prestou depoimento no dia 2 de fevereiro, "após ter se afastado da Loterj", "[Waldomiro] passou a defender os interesses de Ortiz no Congresso e no governo".


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