|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Liberdade de imprensa ainda corre risco na América Latina, diz ONG
Conclusão é de relatório do Diálogo Interamericano, entidade de Washington
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Apesar dos avanços políticos
e sociais que a América Latina
viveu nos últimos anos, a liberdade de imprensa continua sob
risco na região e é premente a
necessidade de reforma em relação ao setor. A conclusão é de
relatório divulgado na sexta pelo Diálogo Interamericano, entidade não-governamental baseada em Washington.
O texto, baseado em conferências realizadas em janeiro
de 2008, ressalta a "importância de se desenvolver propostas
realistas e efetivas para uma reforma séria da mídia na América Latina". Quatro questões são
levantadas: leis e regulações do
setor; concentração de propriedade; censura indireta; e o papel do jornalismo na qualidade
da democracia.
Não há censura direta na
maior parte dos países, mas a
interpretação de leis antigas
pode dar margem a práticas
não condizentes com a norma
democrática, diz o texto, intitulado "Mídia e Governança".
Outro problema é a falta de
leis que garantam o acesso à informação pública, segundo o
relatório, que critica ainda a divisão política de verbas publicitárias federais como maneira
de os governos protegerem ou
prejudicarem veículos.
São citados ainda os "conglomerados de mídia", que "exercitam poder sem controle, o
que pode sufocar as vozes independentes de fontes mais fracas de notícias -diários independentes ou empresas regionais- ou aqueles que defendem posições dissidentes".
Nesse último contexto é citado o Brasil, "onde as duas maiores emissoras dominam 76% da
fatia de mercado" -nomes não
são mencionados. Em geral, no
entanto, a imprensa escrita do
país é elogiada como exceção
no padrão latino-americano.
"Diferentemente da maioria
dos países da região, o Brasil
sustenta mais de um jornal [de
circulação] nacional", diz. "Em
2008, o jornal brasileiro Folha
de S.Paulo contratou seu décimo ombudsman, cargo criado
originalmente em 1989 para
melhorar a qualidade da cobertura noticiosa nas páginas do
maior diário de São Paulo".
"Alguns atribuem o pluralismo da mídia brasileira a um foco maior na profissionalização
e sua reputação por jornalismo
investigativo de qualidade", diz
a ONG, para dar o exemplo de
Fernando Collor de Mello
(1990-1992). "A imprensa escrita está diretamente envolvida no impeachment" do então
presidente, "como resultado de
investigação extensa e denúncia de escândalos".
"Outros conectam o legado
de uma imprensa de alta qualidade à morte em 1975 de um
jornalista nas mãos do Estado,
um evento catalisador que assegurou o papel da mídia no esforço de derrota da ditadura
militar", conclui o texto, referindo-se à morte de Vladimir
Herzog em 75 numa cela do extinto DOI-Codi, em São Paulo.
Na parte brasileira, há imprecisões que não comprometem o todo: Collor renunciou
antes de ser afastado; apesar de
dez mandatos, são nove os ombudsmans da Folha até hoje.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Janio de Freitas: Os bens da liberdade Índice
|