São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2004

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CASO DOS "GAFANHOTOS"

Oferta, diz ex-chefe da folha de pagamentos de Roraima, era para não envolver governador no escândalo

RR tem denúncia de compra de silêncio

JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA

A ex-chefe da folha de pagamentos do Estado de Roraima Sônia Nattrodt afirmou, em depoimento à Justiça Federal, que recebeu uma oferta em dinheiro para não depor contra o governador Flamarion Portela no chamado escândalo dos "gafanhotos".
No depoimento, ela ratificou o que havia dito à Polícia Federal no ano passado, ou seja, reafirmou que Flamarion sabia das fraudes.
Nesta semana, o PT decide o que fazer com Flamarion, que pediu afastamento do partido por 90 dias, em razão das acusações de que está envolvido com a fraude.
O golpe, segundo a força-tarefa liderada pela PF, pode ter lesado os cofres públicos em R$ 230 milhões em quatro anos. O esquema consistia no uso de funcionários fantasmas (os "gafanhotos", que "comiam" a folha de pagamento) para o enriquecimento de ao menos 30 autoridades roraimenses.
Nattrodt atuou no governo entre abril de 2002 e janeiro de 2003. Em seu depoimento, disse que foi procurada pelo empresário Zacarias Castelo Branco e que ele a ofereceu um curso de especialização em Santa Catarina e R$ 10 mil por mês em troca do silêncio sobre a participação de Flamarion no escândalo. Ela contou que Branco afirmou que não queria perder R$ 4 milhões aplicados no financiamento da campanha da reeleição do governador de RR, em 2002.
Oficialmente, não há registro de doações de Branco e de suas empresas, que prestam serviços de engenharia ao Estado, à Flamarion, que declarou à Justiça Eleitoral gastos de R$ 1,16 milhão. O empresário nega as acusações.
No depoimento, Nattrodt detalhou como funcionava o esquema e o envolvimento do governador. São trechos da oitiva: "Pessoas eram incluídas [na folha de gafanhotos] com autorização dele [Flamarion]"; "Quando entrou [no governo], a folha estava em torno de R$ 1,5 milhão e, quando saiu, em torno de R$ 5 milhões".
O incremento nos valores da folha de pagamento durante a gestão de Flamarion foi comprovado, segundo a PF, pela análise de documentos feita por peritos.
A documentação que envolve o governador já foi remetida para o STJ (Superior Tribunal de Justiça), que abriu inquérito e encaminhou o procedimento para a Procuradoria Geral da República.
Caso o órgão denuncie Flamarion, o ministro do STJ Jorge Scartezzini, que cuida do inquérito, poderá abrir ação contra o governador, o que dependeria ainda da aprovação da Assembléia de RR.



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