São Paulo, quarta-feira, 15 de março de 2006

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O INCRÍVEL EXÉRCITO DE PINDA

Time caseiro montou estratégia vitoriosa de tucano

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DO PAINEL

Para levar até o fim sua estratégia de emparedar José Serra à revelia do triunvirato tucano, Geraldo Alckmin contou com o apoio de um grupo político restrito, formado em sua maioria por pessoas do interior de São Paulo, sendo quatro delas do Vale do Paraíba, região onde está localizada a Pindamonhangaba do governador.
Excluído do jantar do triunvirato (FHC, Tasso Jereissati e Aécio) com Serra no restaurante paulistano Massimo, o "pequeno exército de Pinda", como o grupo é chamado, não tem economistas nem intelectuais "uspianos", marcas do PSDB, partido de raízes fincadas na zona oeste da capital.
No virada do ano, o grupo alertou Alckmin de que seu plano inicial estava deixando o terreno arado para Serra. Naquela altura, o governador afirmava que permaneceria até o final do mandato no cargo caso não fosse o escolhido.
"Avisamos o governador que o Serra estava passando como um trator em cima dele no partido", diz um dos alckmistas. Do alerta, derivou a manobra radical, antecipada pelo "Painel" no dia 5 de janeiro e anunciada pelo governador três dias depois.
Ela nasceu do próprio Alckmin, de Luiz Salgado Ribeiro, jornalista e secretário especial do governador, de José Carlos Meirelles, secretário de Ciência e Tecnologia, de Edson Aparecido, líder do governo na Assembléia, e de Silvio Torres, deputado federal.
A idéia encontrou resistências na cúpula do partido, até então propensa a apoiar Serra, e o governador foi pressionado durante dois meses a retroceder.
Ribeiro, que tem um irmão no cargo de prefeito de Pindamonhangaba e é da cidade, foi contra o recuo. Alckmin, então, marcou data e circunstância para se desincompatibilizar do cargo.
Junto do secretário especial nesse momento estavam o chefe da pasta da Habitação, Emanuel Fernandes, ex-prefeito de São José dos Campos, maior cidade do Vale do Paraíba, e Orlando de Assis Baptista Neto, secretário especial, oriundo de Caçapava e conselheiro de Alckmin desde os tempos de deputado estadual.
O plano foi mantido, para desespero de Tasso, presidente do PSDB, que esperava um processo tranqüilo de escolha. "O governador passou a jogar o xadrez interno com as peças brancas, sempre na frente", comenta outro estrategista. A segunda etapa foi se aproximar de Fernando Henrique Cardoso para tentar neutralizar a predileção dele por Serra, evitando que, naquele momento, o ex-presidente se pronunciasse publicamente em favor do prefeito.
O vereador José Aníbal foi o interlocutor com o ex-presidente. FHC, ainda em janeiro, deu uma entrevista coletiva na Inglaterra declarando-se "neutro".
A fase que ampliou o apoio a Alckmin em Brasília foi liderada pelos deputados federais Silvio Torres, empresário de São José do Rio Pardo, e Julio Semeghini, de Fernandópolis. Principal soldado de Alckmin no PSDB, Edson Aparecido, auxiliado pelos estaduais Vaz de Lima, de São José do Rio Preto, e Ricardo Tripoli, conquistou seus pares na Assembléia.
As conversas com os governadores, decisivas, foram conduzidas pelo próprio Alckmin, amparado por deputados e senadores de outros Estados. No final de fevereiro, o Bandeirantes já dava como certo os apoios de Cássio Cunha Lima (Paraíba) e Marconi Perillo (Goiás), que se "rebelou" contra o triunvirato. Por fim, veio Aécio Neves.
Foi também Alckmin quem negociou apoios no PFL, predominantemente serrista. Em alguns momentos, ele teve a ajuda de seu vice, o pefelista Cláudio Lembo.
A disputa pública com o grupo serrista foi personificada por Gabriel Chalita, secretário da Educação, natural de Cachoeira Paulista, também do Vale do Paraíba. Foi ele quem sugeriu que Serra não deveria deixar a prefeitura para concorrer, o que provocou a ira dos aliados do prefeito.
A interlocução com a imprensa ficou a cargo de Aparecido e dos jornalistas Roger Ferreira e Emerson Figueiredo, da Comunicação.


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