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JANIO DE FREITAS
De Serra para Alckmin
A mais original escolha de
um candidato à Presidência
deu-se entre um pretendente que
nunca disse pretender, durante os
quase três meses da disputa, e um
concorrente que se tornou vitorioso só por ter passado os mesmos
três meses repetindo o refrão "eu
mantenho a minha candidatura".
A longa permanência de José
Serra nas cogitações dos controladores do PSDB, dando-lhe complacentes e incontáveis oportunidades de assumir a pré-candidatura, deixou a evidência de que o
resultado da disputa não se deu
por preferência da cúpula peessedebista. Deu-se por exaustão partidária.
Não é boa a hipótese de que Serra se sentisse tolhido por seu compromisso de cumprir todo o mandato de prefeito. Esse era um problema a ser tratado fora do âmbito partidário, e nem foi sobrevoado. Se contido pelo compromisso,
não haveria por que tantas tratativas de Serra, e por tanto tempo,
em torno da candidatura. Serra
não disse, mas evidentemente
queria ser o candidato, no entanto incapaz de dar o passo nesse
sentido.
Se tivesse a firmeza e a presteza
de ao menos reconhecer o seu desejo legítimo, quando lhe foi posta
a interrogação sobre o que pretendia da oportunidade à sua
frente, estava então na liderança
das pesquisas e ali tinha o melhor
trampolim para projetar uma
candidatura promissora. Serra,
porém, dedicou os três meses seguintes a elaborar a imagem de
pessoa tíbia, indecisa e insincera.
Diante da magnitude que é uma
candidatura à Presidência, ainda
mais de quem detinha a extraordinária posição nas pesquisas acima de Lula, a indefinição de Serra produziu dois efeitos associados: desgastou-o, colaborando
para a recuperação de Lula nas
pesquisas, e na mesma medida
fortaleceu por contraste o decidido Alckmin.
É um traço muito difundido na
aristocracia paulista do PSDB,
mas nestas semanas José Serra
confirmou-se como expoente entre os incapazes de pensar e fazer
política taticamente, quanto mais
com alguma visão estratégica.
Lula e o PT saem da disputa
peessedebista tão vitoriosos
quanto Alckmin. A altitude do
ponto de partida de Serra equivalia a uma ameaça de mesma dimensão para Lula. Para Alckmin,
representa uma escalada penosa,
não ainda para a confrontação
com Lula, mas apenas para alcançar o pavimento deixado por
Serra.
Além de Lula e do PT, a decisão
do PSDB sopra otimismo também
em direção a uma parte do
PMDB. Os defensores da candidatura própria, caso se imponham aos governistas declarados
e aos inconfessos, encontrarão
um cenário de disputa eleitoral
muito mais favorável ao seu candidato. Seria muito mais fácil a
penetração de um candidato do
PMDB entre Alckmin e Lula, para chegar ao segundo turno, do
que seria buscar esse objetivo com
a concorrência de Lula e Serra.
Foi uma bem executada tática
desse gênero que deu o governo
gaúcho a Germano Rigotto, agora
em disputa com Anthony Garotinho pela candidatura do PMDB à
Presidência.
E a esquerda que não (mais) se
identifica com Lula e o PT, nem é
adepta das juvenilidades do
PSOL? Parte dessa esquerda e similares poderia entender-se com
Serra como alternativa a Lula,
mas Alckmin, discreto embora,
pende para o outro lado e como
tal deverá ser visto. De qualquer
modo, com Serra, Alckmin ou outro, o que ainda se chama de esquerda iria e vai para as eleições
em incontáveis pedaços.
Muito menos dividido, mas dividido, vai também o PSDB. A
frase com que Serra se pôs à disposição do partido -depois de já
decidida a indicação de Alckmin- não faz sentido: "Eu me
ponho à disposição do partido,
mas não aceito prévias, porque
dividiriam o partido". E de onde
surgiu o tal "impasse" entre Serra
e Alckmin, senão de divisão que,
como todas, deixa linhas divisórias? O receio de possíveis efeitos
dessa divisão teve presença forte
na indecisão de Serra, testemunha e partícipe do alheamento de
Fernando Henrique, Tasso Jereissati e outros à candidatura de
Mário Covas, quando em disputa
com Collor e Lula. Não há motivo
para Alckmin acreditar na unidade ativa do PSDB em torno da
sua candidatura.
A propósito, candidatura mesmo, só a partir da convenção partidária. Até lá, Alckmin é só indicado. O que pode não significar
nada, e pode significar muito.
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