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Sem "procuração", Lula discute droga e ignora Cuba e Venezuela
Obama praticamente não tratou do tema América Latina durante coletiva ontem, apesar de brasileiro ter dito que sua eleição era importante para a região
DE WASHINGTON
Apesar de ter chegado ao encontro com o papel informal de
porta-voz dos países latino-americanos que não gozam de
boas relações com os EUA, como Bolívia, Cuba e Venezuela,
o brasileiro Luiz Inácio Lula da
Silva disse que não falou especificamente de nenhum país
em seu encontro com Barack
Obama, pelo menos segundo
seu relato posterior a jornalistas na Embaixada do Brasil.
"Eu não tratei de Cuba nem
de Venezuela especificamente
porque não tenho procuração
de nenhum governo para tratar
de problemas específicos", disse Lula -o presidente venezuelano, Hugo Chávez, havia dito
que tinha dado "autorização" a
Lula para que falasse em nome
dele com Obama.
Na coletiva de ontem, o norte-americano praticamente ignorou o assunto América Latina, apesar de Lula ter dito que
sua eleição era historicamente
importante para a região já no
início. O democrata fez menção
ao 5º Encontro das Américas,
em Trinidad e Tobago, e só.
Mais tarde, Lula daria outros
detalhes. "Eu converso muito
com o Chávez e ele tem expectativa sobre o presidente Obama de que possa melhorar a relação, e o Obama tem boa vontade, a mesma coisa com [o presidente boliviano] Evo Morales", relatou. "Podemos construir na América Latina uma
nova relação, de confiança."
No geral, seu discurso ao democrata, disse Lula, foi pela
não-ingerência. "Eu disse que
os EUA precisam ter um olhar
para a América Latina de parceria, não de fiscal, de que vai
combater o narcotráfico ou de
que vai vigiar alguma coisa ou
combater a luta armada", afirmou. "Isso não existe mais."
O brasileiro disse ter avisado
a Obama que vai propor ao
Unasul (União das Nações Sul-Americanas) a criação de um
conselho de combate ao narcotráfico similar ao de Defesa, para "não ficar dependendo da ingerência de ninguém numa coisa que nós temos de resolver
pelas próprias mãos".
Então, cutucou o país: "Os
outros que cuidem de tomar
conta dos consumidores, que aí
quem sabe a gente pode resolver com mais responsabilidade
o narcotráfico". A ideia, segundo Lula, surgiu de uma conversa sua com o presidente colombiano Álvaro Uribe.
O país, um dos maiores produtores de cocaína do mundo, é
o maior receptor de ajuda financeira e militar norte-americana na América do Sul. Desde
que Morales expulsou a DEA
(agência antidrogas norte-americana) da Bolívia, os EUA
pedem ao Brasil mais envolvimento no combate ao tráfico de
drogas regional.
Lula dava assim seu recado
de volta à Casa Branca, de que
pretende convencer os países
da região a tomar a rédea do assunto, que representa uma das
principais áreas de atuação dos
EUA no continente. "Aos poucos, os países da América Latina estão percebendo que nós
precisamos deixar de ser dependentes, porque fica todo o
mundo esperando que o país rico vá lá fazer as coisas que nós
deveríamos fazer", disse Lula.
(SÉRGIO DÁVILA)
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