|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lula gastou 75% a mais com terceirização no setor público
Despesas nominais com "locação de mão-de-obra" subiram de R$ 857 mi para R$ 1,96 bi
Números fornecidos por Ministério do Planejamento contrariam discursos do próprio petista, que dizia estar acabando com prática
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve e ampliou
em sua gestão uma prática introduzida por seu antecessor
Fernando Henrique Cardoso e
que foi duramente criticada pelo próprio petista: a terceirização de mão-de-obra a serviço
do governo federal.
Documento do Ministério do
Planejamento mostra aumento
de 130% nos gastos com "locação de mão-de-obra" de empresas terceirizadas durante o primeiro mandato de Lula. O salto
foi de R$ 857 milhões em 2002,
último ano do segundo mandato de Fernando Henrique, para
R$ 1,96 bilhão em 2006. Descontada a inflação, o aumento é
de 75%. O número de terceirizados não é informado, apenas
o gasto com eles.
Em comparação, a elevação
do gasto com funcionários contratados no período foi bem
menor, de 15% em termos
reais. Em quatro anos, a máquina aumentou de 804 mil para
989 mil efetivos.
O funcionalismo vem crescendo ininterruptamente no
governo Lula. O argumento até
aqui do governo é de que o número de funcionários de carreira subiu porque eles estão substituindo terceirizados.
Mas a nota 01/2007 do Planejamento, encaminhada ao
deputado federal Miro Teixeira
(PDT-RJ) no dia 23 de março,
mostra que gastos com concursados e terceirizados sobem simultaneamente no governo.
"A discussão sobre o custo da
máquina federal tem muitas
palavras e poucos números. Os
números mostram a necessidade de uma reforma administrativa no Brasil", afirma Miro.
Baixo nível técnico
O ministério afirma que a
substituição de terceirizados
por concursados prossegue.
Em quatro anos, teria atingido
33.182 vagas no Executivo. Mas
o Planejamento admite que
não pode prescindir da locação
de mão-de-obra para funções
de baixo nível técnico, como
garçom, porteiro e segurança. A
Folha apurou, contudo, que o
expediente cobre também funções mais complexas, como secretárias e assessores.
"Locação de mão-de-obra
nada mais é que o nome elegante para a conhecida terceirização no governo federal",
afirma o professor de direito
trabalhista Marcel Cordeiro,
da PUC de São Paulo.
Segundo um fornecedor de
mão-de-obra para o governo
federal, a principal razão para o
aumento na demanda é a criação de novos ministérios e secretarias especiais com status
de ministério pelo governo Lula desde janeiro de 2003.
Discurso
Os números mostram um
descompasso entre a prática e o
discurso oficial. "Houve um
tempo em que se tomou uma
determinação de terceirizar o
país. Havia um tal de Consenso
de Washington, que ninguém
tinha lido, mas se era de Washington era bom", disse Lula,
em janeiro, em Suape (PE).
Noutras ocasiões, como em
Itabaiana (SE), em março de
2006, o presidente assegurou
que estava exterminando a prática: "Estamos acabando com a
terceirização em vários lugares,
para a gente ter uma máquina
pública profissional".
Lula também chegou a associar terceirização a corrupção.
"Sucateamento da máquina governamental e terceirização da
gestão estatal corroeram um
patrimônio público construído
por gerações, expondo o país ao
risco da corrupção", disse, em
junho de 2005.
Para o professor de Economia Francisco Vignoli, da Fundação Getúlio Vargas, a terceirização é fundamental para dar
liberdade ao governo de prescindir de certos serviços básicos quando não mais necessários. "O que é estranho é esse
crescimento."
Uma hipótese, diz Vignoli, é
que o crescimento do gasto
com terceirizados seja um efeito colateral da expansão da máquina. "Se você amplia serviços
públicos, precisa mais de segurança patrimonial, porteiro, esse tipo de coisa."
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Frases Índice
|