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JANIO DE FREITAS
Velhos usos, nova era
Para qualquer lado que se volte a cabeça, o que se encontra é a ação dos cupins bem vestidos corroendo o país
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MAIS DO QUE qualquer de
suas assombrosas antecessoras, a Operação Furacão
que a Polícia Federal realiza desde
sexta-feira -parte ainda do trabalho
com que o então ministro Márcio
Thomaz Bastos e o delegado Paulo
Lacerda instauraram uma nova era
brasileira- dá fundamentos materiais ao sentimento disseminado de
que, no Brasil dito moderno, as pessoas dignas bóiam em um oceano de
esgoto produzido pela imoralidade
da classe dominante.
Ainda que o ímpeto inovador venha a arrefecer, a série de operações
iniciada há quatro anos já proporciona efeitos dos quais, entre tantos,
dois sobressaem pelo valor de verdades deprimentes, como são as verdades verdadeiras do Brasil. Para
qualquer lado que se volte a cabeça,
Furacão e intempéries menores deixam provado, o que se encontra é a
ação dos cupins bem vestidos corroendo o país, devorando-o nos piores e nos melhores desvãos.
Mas a evidência de que é possível
atacar esses vermes, apesar de todo
o seu poder, é a evidência também
de que há algo mais do que simples
descaso para que, só a esta altura da
devassidão, ocorresse o ataque, talvez efêmero: a brasilidade, na sua
conformação elaborada ao correr do
último século e tanto, pode ter mais
componentes deletérios do que positivos. E não só no plano, digamos,
material, como demonstra a primarização da cultura, em qualquer dos
sentidos da palavra.
Furacão e suas antecessoras contêm uma pergunta dissimulada: algum motivo real de espanto, para
nem falarmos de indignação, com o
fato de que se projetem das classes
mais dominadas tantas mãos armadas? É ação, reação ou o mesmo jogo, jogado à maneira e nas possibilidades de cada lado?
Concordo: não é pergunta que
faça.
No palco
Nas tantas horas que passou, em
dois dias da semana, nas audiências
públicas da Câmara sobre as condições do controle de vôo, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro
Juniti Saito, foi poupado da pergunta mais interessante e que só
ele, ali, poderia responder.
Ei-la, apesar de tardia: por que,
no mais agudo da crise, com os oficiais deliberadamente alheios ao
serviço a que os controladores haviam voltado, o brigadeiro Saito
convidou o presidente da Câmara e
o líder da bancada oposicionista
para ter com ele uma conversa privada e, dadas as circunstâncias, pode-se deduzir que urgente?
O comandante da Aeronáutica é
reconhecido como temperamento
discreto e, embora afável, refratário a contatos na área política. Arlindo Chinaglia e Júlio Redecker,
mesmo com a atração por gravadores e câmeras própria dos políticos,
não deixaram nem pista de provável conversa, como emissários ou
simples narradores, do encontro
com o comandante da Aeronáutica.
O que se passou nos aeroportos
ficou como a imagem do apagão.
Mas o apagão de fato ainda não foi
mostrado. O jornalismo, como a
história, tem destas coisas: com
freqüência prefere o cenário à peça.
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