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"Segundo mandato acirra disputa política"
Para cientista político da UnB, possibilidade do segundo mandato torna mais difícil relação com a oposição no Congresso
Segundo Leonardo Barreto, medida prejudicou atuação do Legislativo no primeiro mandato de Lula, ao antecipar disputa eleitoral
DA REDAÇÃO
A possibilidade de reeleição
no Executivo causa um grave
problema à governabilidade no
Brasil, diz o professor do Instituto de Ciências Políticas da
UnB (Universidade de Brasília)
Leonardo Barreto. Para ele,
quando a figura do presidente
se confunde com a do candidato, a atuação do Congresso acaba por refletir, desde o primeiro dia do governo, a antecipação da disputa eleitoral.
Na sua avaliação, foi isso o
que ocorreu durante o primeiro mandato do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, em que o
Legislativo teria se voltado às
eleições de 2006, votando poucos projetos e usando as CPIs
como plataformas eleitorais.
Por outro lado, Barreto defende a ampliação do mandato
do Executivo de quatro para
cinco anos, também objeto de
conversas entre petistas e tucanos. Tomando como fato que
"toda a classe política atua com
o horizonte da próxima eleição", ele afirma que a mudança
aumentaria os intervalos entre
os anos eleitorais, o que seria
benéfico para o funcionamento
do Congresso.
(ANGELA PINHO)
FOLHA - O que o sr. acha da proposta de fim da reeleição e ampliação
do mandato do Executivo de quatro
para cinco anos?
LEONARDO BARRETO - Acho que
isso resgataria nossa tradição
republicana, pois, até a Constituição de 1988, o Brasil tinha
esse tipo de regime de governo.
A reeleição criou problemas
para o sistema político que
trouxeram obstáculos à governabilidade. Toda a classe política atua com o horizonte da próxima eleição. Quando há reeleição, o presidente é o candidato
natural ao próximo pleito. Isso
tem reflexos na relação com o
Congresso. No primeiro mandato, há oposição muito mais
sistemática e menor capacidade de cooperação para minar o
candidato ao segundo pleito.
Foi isso o que ocorreu nos últimos dois anos do governo Lula. Houve escândalos, mas houve também exploração eleitoreira das CPIs, que correram o
risco de perder o foco, pois elas
tinham o objetivo de destruir a
plataforma eleitoral de Lula.
No último um ano e meio de governo, o Congresso aprovou
pouquíssimas coisas.
Isso sem falar de outros problemas, como a utilização da
máquina pública e a confusão
entre candidato e presidente.
FOLHA - Defensores da reeleição
apontam que a medida foi bem-sucedida em outros países.
BARRETO - Nos Estados Unidos
também há reeleição, mas é diferente. Como só há dois partidos com representação no
Congresso, a luta política fica
muito mais previsível. Desde o
início do primeiro mandato do
Lula, os partidos passaram a se
redimensionar para a disputa
eleitoral. Não havia previsibilidade do que se poderia votar.
FOLHA - Há pesquisas que indicam
que prefeitos em primeiro mandato
têm maior austeridade fiscal. Não é
um argumento a favor da reeleição?
BARRETO - É uma boa tese, mas
isso não impede que, no segundo mandato, os governantes
deixem problemas a seus sucessores. A reeleição só adia o
problema. O controle do eleitor
é muito importante, mas há leis
para regular a questão fiscal.
FOLHA - E o que o sr. acha do mandato de cinco anos?
BARRETO - Faz parte da nossa
tradição política. É um tempo
mais razoável para o governo
trabalhar. O Congresso vota
muita coisa no primeiro ano de
governo, depois se volta à eleição municipal. Seguem-se dois
semestres de atividades e vêm
as eleições nacionais. É muito
pouco tempo. Com eleições casadas com o Legislativo, isso
traria maior estabilidade.
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