São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007

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Ala majoritária do PT é super-representada no ministério de Lula

Tendência de José Dirceu, Palocci e Berzoini tem 42% do Diretório Nacional do partido, mas 56,25% das pastas da sigla

Tendências da esquerda da legenda têm tamanho similar, mas comandam apenas dois ministérios com menor visibilidade

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A ala de José Dirceu, Ricardo Berzoini e Antonio Palocci Filho, há 12 anos no comando do PT e protagonista de seus maiores escândalos, voltou a ser desproporcionalmente privilegiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na montagem do ministério.
Conhecida como Campo Majoritário, a tendência detém 42% do Diretório Nacional petista, mas foi contemplada com 56,25% das pastas destinadas ao partido (9 entre 16). Antes da reforma, o Campo tinha 47,1% dos ministérios.
A presença seria ainda maior se não tivesse havido uma dissidência capitaneada pelo ministro da Justiça, Tarso Genro. Insatisfeito com o domínio de Dirceu sobre o grupo, ele está criando um novo grupo para disputar o comando do partido.
Não é apenas numérica a força do Campo Majoritário. Pertencem à ala alguns dos ministros mais próximos de Lula, como Luiz Dulci (Secretaria Geral), Luiz Marinho (Previdência), Marta Suplicy (Turismo) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social).
A esquerda do partido, apesar de ter 38,7% (praticamente o mesmo tamanho do Campo), novamente ficou subrepresentada, com dois ministérios marginais: Desenvolvimento Agrário e Pesca. Equivalem a 12,5% das pastas petistas.
Já o Movimento PT, tendência considerada centrista, não recebeu nenhum cargo no primeiro escalão, mesmo tendo 11,5% do diretório nacional.
"É interessante perceber que o Lula fez um esforço para contemplar as diversas alas do PMDB, mas não fez o mesmo com seu próprio partido", reclama Romênio Pereira, coordenador do Movimento PT.
Embora expressiva, a presença do Campo Majoritário no primeiro escalão já não é esmagadora como no começo do governo Lula -reflexo da lenta "despetização" do ministério.
Em 2003, na primeira equipe de Lula, 14 dos 21 petistas eram da ala majoritária (66,67%). Todos os postos-chave da administração estavam com a tendência: Dirceu na Casa Civil, Palocci na Fazenda, Luiz Gushiken na Secretaria de Comunicação e Berzoini na Previdência, entre outros.
O Campo Majoritário é uma criação de Dirceu quando presidia o PT, no fim dos anos 90. Reunia a tendência Articulação (à qual pertencia Lula) e outros grupos menores de linha "moderada", em um guarda-chuva com o objetivo declarado de isolar os grupos "radicais". Seu auge foi entre 2001 e 2005, quando tinha 55% do partido e podia ignorar os outros grupos.
Desde então, o Campo vem se enfraquecendo por conta de escândalos e rachas -a última dissidência foi promovida por Tarso, no ano passado.
O próprio termo Campo Majoritário vem perdendo força. Alguns membros agora adotam o nome CNB (Construindo um Novo Brasil), título do último documento que a ala divulgou.
Independente do nome, o Campo ainda é de longe a ala mais influente no partido. Sua força freqüentemente provoca ciumeira e críticas entre facções rivais, que demandam mais espaço.
Em artigo no final do ano passado, líderes da tendência Articulação de Esquerda pediram "que o conjunto do Partido dos Trabalhadores esteja representado na composição do primeiro escalão do governo".
Prestigiado mais uma vez por Lula, o Campo Majoritário dá de ombros para as queixas. "O sistema é presidencialista. Quem tem reclamações a fazer deve se dirigir ao presidente Lula", diz Francisco Rocha, um dos coordenadores nacionais da tendência.


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