São Paulo, quarta, 15 de abril de 1998

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GOVERNO
Ministro fica 24 horas sem febre e recupera 35% da capacidade pulmonar
Motta apresenta melhora, mas estado ainda é grave

VALDO CRUZ
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília

ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília

O ministro Sérgio Motta (Comunicações) apresentou uma melhora ontem, completando pela manhã 24 horas sem febre e recuperando 35% de sua capacidade respiratória, que chegou a ficar em 5% no momento mais crítico de sua doença.
As informações foram transmitidas ontem pela manhã, por telefone, ao presidente Fernando Henrique Cardoso pelo médico Bernardino Tranchesi, que acompanha o tratamento de Motta.
A notícia sobre a melhora do quadro clínico do ministro aliviou o clima de tensão entre os amigos de Motta em Brasília, que ontem já apostavam que ele conseguirá se recuperar da doença.
Tranchesi informou ao presidente que, apesar da recuperação, a situação do ministro ainda é muito grave. O sinal definitivo de que ele terá condições de sair da crise depende de uma nova avaliação hoje pela manhã, quando o ministro poderá completar 48 horas sem febre e com aumento de sua capacidade pulmonar.
Os médicos suspeitam que 50% do pulmão do ministro esteja comprometido em função de sua doença, o que estaria dificultando sua recuperação.
O grande temor dos médicos, no caso Sérgio Motta, é que a infecção não seja debelada e os pulmões continuem acumulando líquido. Isso poderia gerar uma reação em cadeia: pneumonia, septicemia e falência múltipla de órgãos.
Uma fonte política com acesso privilegiado às informações médicas comparou: "Como no caso do Tancredo". O ex-presidente não chegou a tomar posse porque uma infecção não controlada acabou se alastrando e gerando a septicemia com falência múltipla de órgãos.
O quadro geral de Motta não é bom. De um lado, os antibióticos não vinham fazendo efeito e os médicos começavam a jogar no escuro para a escolha de novas drogas. De outro, o organismo dele está debilitado, sem capacidade de reação natural.
O mau funcionamento do pulmão sobrecarrega o coração, e Motta já é safenado. Além disso, a diabetes é um complicador.
Ontem à noite, o deputado estadual Ricardo Tripoli (PSDB) saiu do hospital dizendo que Motta havia aberto os olhos e dado sinais de que reconhecia os familiares.
O fato mais importante ontem, porém, é que Motta conseguiu curvas ascendentes de recuperação: a febre estava sob controle, a capacidade respiratória aumentando e o coração, resistindo.
Motta começou a apresentar sinais de melhora após passar por um momento crítico no domingo à noite, quando seus médicos temeram por sua vida. Sua mulher, Wilma, comandou uma oração de familiares e amigos no hospital.
O quadro foi tão grave que amigos de Motta em São Paulo, como a primeira-dama Ruth Cardoso e o ministro José Serra (Saúde), foram chamados às pressas ao hospital Albert Einstein.
FHC e o ministro Paulo Renato Souza (Educação), que estavam em Brasília, foram alertados.
Os amigos de Motta foram informados de que ele não estava reagindo aos antibióticos. Os médicos decidiram, então, mudar a composição dos remédios, o que contribuiu para sua recuperação de segunda-feira para ontem.
Os amigos de Motta apontam, mais uma vez, sua indisciplina como a principal causa de sua piora. Ele desrespeitou várias recomendações transmitidas pelo médicos que o examinaram em Denver (EUA) no mês passado.
Os médicos americanos pediram ao ministro que evitasse viagens de avião. Ele voltaria para o Brasil e, então, não deveria mais entrar numa aeronave até se recuperar. Os médicos avaliam que o ar dentro de um avião é muito ruim, em função da refrigeração.
Motta também foi aconselhado a evitar audiências públicas e despachos com assessores para não ser contagiado por bactérias devido a sua baixa imunidade.
De volta ao Brasil, o ministro não permaneceu em São Paulo. Pegou um avião e foi para Brasília, onde participou da cerimônia de transmissão de cargo do novo ministro da Saúde, José Serra.
Motta despachou também em seu gabinete em Brasília. Depois, voltou para São Paulo, onde chegou a conceder entrevista a jornalistas. O ministro acabou sendo contagiado por uma bactéria, provocando febre ainda em Brasília.
Motta acabou sendo hospitalizado na última quarta-feira. Inicialmente, ficou numa unidade de terapia semi-intensiva. O ministro continuou, porém, trabalhando.
Amigos disseram que ele foi visto falando em dois celulares ao mesmo tempo, o que contribuiu para sua piora, culminando na sua transferência para uma UTI na última sexta-feira.


Colaborou a Reportagem Local



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