São Paulo, quarta, 15 de abril de 1998

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MARANHÃO
Religioso é acusado de desviar verba
Padre-prefeito tem mandato cassado

DÉCIO SÁ
da Agência Folha, em São Luís

A Câmara Municipal de Bom Jesus das Selvas (MA) cassou na madrugada de ontem o mandato do prefeito da cidade, padre José de Ribamar Moraes Filho (PMDB), que tem uma mãe-de-santo como chefe de gabinete.
Moraes Filho é acusado de desvio de verba pública, aquisição de imóveis e veículos sem licitação e criação de órgãos sem autorização da Câmara.
Entre esses órgãos, está a "delegacia do fuxico", que prevê prisão e multa de R$ 1.000 para quem falasse mal dele.
Anteontem, cerca de 50 índios guajajaras da aldeia Canudal, supostamente arregimentados pelo padre-prefeito, destruíram parte do prédio da Câmara, queimaram móveis, eletrodomésticos e documentos da Casa.
O vice-prefeito, pastor da Assembléia de Deus, Pedro Fernandes da Silva (PMDB), 61, foi empossado no cargo de prefeito logo após a sessão. Seis dos sete vereadores que votaram a favor da cassação são do PMDB.
O primeiro ato do novo prefeito foi enviar ofícios aos bancos para evitar que o prefeito cassado fizesse saques nas contas da prefeitura.
A Agência Folha tentou ontem localizar o ex-prefeito, mas não há telefone no recém-criado município de Bom Jesus das Selvas.
Até o final da tarde de ontem, a situação estava calma no município (cerca de 400 km a sudoeste de São Luís).
A superintendência da Polícia Federal no Maranhão disse que o caso dos índios está fora de sua competência. A Polícia Militar enviou 65 soldados à cidade para garantir que o novo prefeito assumisse a sede da prefeitura, o que aconteceu no final da tarde.
A Funai de Imperatriz (MA) informou que "os guajajaras estão sendo influenciados por alguém".
A reportagem da Agência Folha não conseguiu falar com o bispo da Diocese de Viana (MA), a quem o padre Moraes Filho é ligado. O arcebispo de São Luís, dom Paulo Ponte, não quis comentar o caso.
O presidente do PMDB no Estado, Remi Ribeiro, 53, disse que "esse é mais um problema político do que administrativo".



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