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"Candidatos têm sido muito coerentes"
DA REDAÇÃO
Leia a íntegra do pronunciamento do presidente Fernando
Henrique Cardoso ontem no Palácio do Planalto.
"Boa tarde. Como vocês sabem, amanhã
vou a Madri, porque temos uma reunião
com os presidentes da União Européia. É
uma reunião que tem importância por causa dos acordos entre a União Européia e o
Mercosul, o Brasil e a União Européia. E tem
importância política também. Mas, antes de
viajar, eu queria deixar uma mensagem direta, simples, curta, ao país.
Tenho notado, nas últimas semanas e,
acentuadamente, na última semana, um
certo nervosismo nos mercados financeiros
e muita especulação. Nervosismo que não se
compagina com o que está acontecendo no
Brasil. Por quê? Porque me empenhei, nestes anos em que sou presidente e desde antes, quando era ministro da Fazenda do presidente Itamar Franco, para que o Brasil entrasse num novo regime fiscal e para que
houvesse equilíbrio fiscal.
Eu me empenhei, basicamente, com dois
objetivos. Primeiro, a necessária higidez do
nosso sistema econômico-financeiro -sanear bancos, manter o Orçamento sob controle, não fazer gastos que não pudessem ser
sufragados através de meios corretos. E, segundo, ao fazer isso, preservar áreas sociais.
Os dados estão, aí, na área da saúde, na
queda da mortalidade infantil, na área de
educação, educação de base, na área da reforma agrária. Isso foi mantido. Aliás, os gastos sociais nessas áreas se expandiram e
os resultados estão claros. Houve progresso
efetivo nessas áreas.
Não haveria de ser agora, quando estou
no último ano de meu mandato, que eu iria
descuidar do equilíbrio fiscal. Seria não me
conhecer e nem conhecer o governo, a equipe que vem governando comigo, imaginar
que fôssemos capazes de deixar, por qualquer motivo, que houvesse frouxidão nas
contas públicas. Não faríamos isso.
Serei bastante insistente, como fui nestes
anos todos, no sentido de manter o Brasil no
bom caminho de um país que terá todas as
condições para evitar que, havendo problemas, como frequentemente têm havido, no
plano internacional, eles se reflitam aqui de
forma negativa, como tem acontecido em
outras circunstâncias.
Então, não há razão para se imaginar que
o governo vá se desviar de seu curso.
É claro que, como o ministro Pedro Malan deve ter dito hoje -o ministro Guilherme Dias também-, isso implica, diante das
circunstâncias, ou seja, da inexistência dos
recursos orçamentários em função da diminuição que se prevê dos recursos da CPMF e também de certos aumentos havidos nos
gastos, pequenos, que fôssemos deixar que
isso acontecesse sem reação de nossa parte.
Fomos obrigados a bloquear despesas. Insisto na expressão: bloquear. Bloqueio pode ser temporário, pode ser total, pode ser parcial. Depende do quê? Depende da existência de recursos.
Temos a convicção de que o Congresso
Nacional -agora, no caso, o Senado- vai
votar a CPMF e dará ao governo os instrumentos necessários para que voltemos a ter os recursos que nos permitam atender com
mais diligência, mais rapidez, aos anseios
orçamentários, sejam de governadores, prefeitos, parlamentares ou da própria máquina governamental. Não é bom deixar de fazer. O bom é fazer. Mas fazer havendo recursos.
Então, renovo meu apelo -e tenho certeza de que serei atendido- àqueles que têm
poder de decisão no Senado, neste momento -tanto o relator quanto os membros das
Comissões, quanto o plenário do Senado-
para que tenhamos assegurados esses recursos. Tendo assegurados os recursos, podemos voltar a ver como se fará o gasto no decorrer deste ano.
Mas estou confiante. Não só porque o
PFL, por exemplo, declarou que apoiaria e
apoiou a CPMF na Câmara. Não vejo por
que não fazer a mesma coisa no Senado.
Não vejo razão também para outros partidos, inclusive da oposição, que não se têm oposto à aprovação da CPMF, que façam
um bloqueio da sua prorrogação. Então,
não havendo bloqueio à CPMF, não haverá
bloqueio também no Orçamento.
De modo que eu queria deixar esses esclarecimentos. Mas deixar numa absoluta tranquilidade, [numa" absoluta certeza de não
vamos nos desviar do nosso rumo do equilíbrio fiscal.
Também quero dizer que vejo, acompanho os pronunciamentos dos líderes políticos brasileiros, sobretudo dos candidatos
mais expressivos, e todos têm sido muito
coerentes, têm tido uma posição que é de
responsabilidade. Sabem, hoje, que é necessário que o país tenha um caminho. E eles não têm discrepado desse caminho.
Portanto, não vejo nenhuma razão para
que se montem especulações em torno de
declarações de "A", de "B" ou de "C" ou da
falta de declarações, porque tenho a convicção de que o Brasil quer um caminho. E esse caminho é o do equilíbrio fiscal, é o do atendimento às questões sociais. Portanto, tenho
também a convicção íntima de que não há
razão para que estejamos, aí, com nervosismos antes da hora. Muitíssimo obrigado.
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