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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA
E-mails revelam que governo Alckmin usou verbas publicitárias do banco estatal para favorecer veículos de comunicação pró-PSDB
Nossa Caixa beneficiou tucanos em 2004
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo de Geraldo Alckmin,
pré-candidato do PSDB à Presidência, pressionou o banco Nossa
Caixa para liberar verbas de publicidade a veículos de comunicação que dessem destaque a candidatos tucanos na eleição de 2004.
A Contexto Propaganda, agência que atendia a Casa Civil, coordenou campanha publicitária de
R$ 30 milhões, entre maio e outubro de 2004, com a exigência de liberação de R$ 5 milhões de cada
estatal e orientação para atendimento a veículos que apoiavam as
candidaturas do PSDB. Um
exemplo de veiculação com interesse político é a cobertura pelo
jornal "O Diário", de Barretos, da
visita do então presidente do
PSDB estadual, Antonio Carlos
Pannunzio, para alavancar candidaturas de tucanos na região.
O acerto prévio foi tratado em e-mails trocados entre o presidente
da Contexto, Saint'Clair de Vasconcelos, o então assessor de Comunicação do governo Geraldo
Alckmin, Roger Ferreira, e o então gerente de Marketing da Nossa Caixa, Jaime de Castro Júnior.
O jornalista João Monteiro de
Barros Neto, diretor de "O Diário", enviara e-mail a Roger Ferreira informando-o que o jornal e
as rádios do grupo cobririam "a
visita de Pannunzio à região em
apoio aos candidatos do PSDB".
Saint'Clair alertou Castro Júnior: "Amanhã, o Monteiro Neto
vai receber lá o deputado Pannunzio e vai dar um grande espaço para o candidato a prefeito, o
César [Gontijo], nos veículos dele". "Precisamos segurar esta batata quente", pediu Saint'Clair,
que negociava o apoio a outros
veículos. A visita de Pannunzio foi
a manchete de "O Diário" nos
dias 1º e 3 de setembro. No dia 8, a
Nossa Caixa remeteu à agência
Full Jazz propostas de veiculação
nos veículos de Monteiro Neto.
Além de diretor-responsável de
"O Diário" e das rádios Independente AM e Barretos AM, Monteiro Neto é vice-presidente do Conselho Superior do Instituto Brasileiro de Comunicação Cristã, responsável pela Rede Vida de Televisão, que tem sede em Barretos.
Quando o ex-gerente de marketing depôs na Assembléia Legislativa, em 26 de abril, o deputado
Renato Simões (PT) questionou-o sobre a liberação de recursos à
Rede Vida, "praticamente às vésperas da eleição". Simões disse
que o então presidente do PSDB
"iria a Barretos e precisaria levar a
notícia da liberação desses recursos". Castro Júnior confirmou
que a verba foi liberada.
Nesse período eleitoral, Monteiro Neto acertou o patrocínio da
Nossa Caixa aos "Jogos Abertos
do Interior", evento sediado em
Barretos em 2004. "Vou incluí-lo
[ao diretor de "O Diário"] no plano geral de mídia", prometeu o
ex-gerente do banco à Contexto.
Os e-mails sugerem que Castro
Júnior era pressionado por outros
veículos do interior. Ao referir-se
à liberação de publicidade ao
"Jornal de Barretos", outro grupo
local, ele disse ao presidente da
Contexto: "Considerando que estamos dando apoio muito forte ao
concorrente (Grupo Rede Vida),
no caso de negativa certamente
teremos problemas..."
Dias depois, Saint'Clair voltou a
apelar a Castro Júnior, confirmando que a veiculação não obedecia a critérios técnicos: "Preciso
que você dobre a verba da Rede
Vida Televisão, agora em setembro, de R$ 49.470,00 para R$
98.940,00. Pode veicular o filme
que melhor lhe convier".
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