São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

E-mails revelam que governo Alckmin usou verbas publicitárias do banco estatal para favorecer veículos de comunicação pró-PSDB

Nossa Caixa beneficiou tucanos em 2004

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo de Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência, pressionou o banco Nossa Caixa para liberar verbas de publicidade a veículos de comunicação que dessem destaque a candidatos tucanos na eleição de 2004.
A Contexto Propaganda, agência que atendia a Casa Civil, coordenou campanha publicitária de R$ 30 milhões, entre maio e outubro de 2004, com a exigência de liberação de R$ 5 milhões de cada estatal e orientação para atendimento a veículos que apoiavam as candidaturas do PSDB. Um exemplo de veiculação com interesse político é a cobertura pelo jornal "O Diário", de Barretos, da visita do então presidente do PSDB estadual, Antonio Carlos Pannunzio, para alavancar candidaturas de tucanos na região.
O acerto prévio foi tratado em e-mails trocados entre o presidente da Contexto, Saint'Clair de Vasconcelos, o então assessor de Comunicação do governo Geraldo Alckmin, Roger Ferreira, e o então gerente de Marketing da Nossa Caixa, Jaime de Castro Júnior.
O jornalista João Monteiro de Barros Neto, diretor de "O Diário", enviara e-mail a Roger Ferreira informando-o que o jornal e as rádios do grupo cobririam "a visita de Pannunzio à região em apoio aos candidatos do PSDB".
Saint'Clair alertou Castro Júnior: "Amanhã, o Monteiro Neto vai receber lá o deputado Pannunzio e vai dar um grande espaço para o candidato a prefeito, o César [Gontijo], nos veículos dele". "Precisamos segurar esta batata quente", pediu Saint'Clair, que negociava o apoio a outros veículos. A visita de Pannunzio foi a manchete de "O Diário" nos dias 1º e 3 de setembro. No dia 8, a Nossa Caixa remeteu à agência Full Jazz propostas de veiculação nos veículos de Monteiro Neto.
Além de diretor-responsável de "O Diário" e das rádios Independente AM e Barretos AM, Monteiro Neto é vice-presidente do Conselho Superior do Instituto Brasileiro de Comunicação Cristã, responsável pela Rede Vida de Televisão, que tem sede em Barretos.
Quando o ex-gerente de marketing depôs na Assembléia Legislativa, em 26 de abril, o deputado Renato Simões (PT) questionou-o sobre a liberação de recursos à Rede Vida, "praticamente às vésperas da eleição". Simões disse que o então presidente do PSDB "iria a Barretos e precisaria levar a notícia da liberação desses recursos". Castro Júnior confirmou que a verba foi liberada.
Nesse período eleitoral, Monteiro Neto acertou o patrocínio da Nossa Caixa aos "Jogos Abertos do Interior", evento sediado em Barretos em 2004. "Vou incluí-lo [ao diretor de "O Diário"] no plano geral de mídia", prometeu o ex-gerente do banco à Contexto.
Os e-mails sugerem que Castro Júnior era pressionado por outros veículos do interior. Ao referir-se à liberação de publicidade ao "Jornal de Barretos", outro grupo local, ele disse ao presidente da Contexto: "Considerando que estamos dando apoio muito forte ao concorrente (Grupo Rede Vida), no caso de negativa certamente teremos problemas..."
Dias depois, Saint'Clair voltou a apelar a Castro Júnior, confirmando que a veiculação não obedecia a critérios técnicos: "Preciso que você dobre a verba da Rede Vida Televisão, agora em setembro, de R$ 49.470,00 para R$ 98.940,00. Pode veicular o filme que melhor lhe convier".


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