São Paulo, terça-feira, 15 de maio de 2007

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Bida diz ter visto arma que matou freira

Fazendeiro nega participação no assassinato de Dorothy Stang; resultado do julgamento deve sair hoje

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

Em seu primeiro dia de julgamento, em Belém, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, negou ontem três vezes envolvimento no assassinato da missionária Dorothy Stang, 73, em Anapu (oeste do Pará). Porém, disse que viu a arma do crime na mão do pistoleiro Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, depois de ele ter disparado três vezes contra a freira, no dia 12 de fevereiro de 2005.
A sentença de Bida deve ser proferida hoje pelo Tribunal do Júri, em sessão presidida pelo juiz Raimundo Flexa. Ontem, cerca de 250 pessoas assistiram ao depoimento na sala de julgamento. Outras 600 pessoas, membros de movimentos pela reforma agrária e de direitos humanos, ouviram o depoimento por caixas de som instaladas em frente ao tribunal.
A declaração de Bida, 36, a respeito da arma ocorreu quando ele foi indagado pelo promotor de Justiça Edson Cardoso de Souza, responsável pela acusação, sobre como tomou conhecimento da morte da missionária. Bida disse que estava em sua fazenda -o lote 55 da gleba Bacajá, que a freira defendia que fosse incorporado ao PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Esperança- quando o crime aconteceu.
"Eu encontrei [na fazenda] o Rayfran e o Clodoaldo [Carlos Batista, o Eduardo, também condenado pelo crime] juntos. Rayfran disse que tinha matado a irmã Dorothy, e que tinha havido um atrito entre eles. Eu disse que saíssem da fazenda. Rayfran estava com uma arma [calibre 38] de fogo na mão, tinha projéteis [estava carregada], não lembro quantos, tinha marcas [de disparos]."
Bida afirmou que, no mesmo dia, encontrou Amair Feijoli da Cunha, o Tato, que trabalhava em sua fazenda e foi condenado por ter atuado como intermediário na contratação dos pistoleiros. Em outros depoimentos, o fazendeiro sempre negou o encontro com Fogoió, Eduardo e Tato no dia do crime.
Segundo o promotor Edson Souza, ao confirmar apoio na fuga, Bida tentou obter punição mais branda. "É uma frágil versão que não se sustenta em um minuto de análise. A mão dele [Bida] não está suja de pólvora, sua atitude foi intelectual."
O advogado de Bida, Américo Leal, afirmou que seu cliente se expressou mal ao dizer que se envolveu na fuga. "O Vitalmiro é um cara que só tem o primeiro ano de estudo. Se nós que somos formados não sabemos nos comportar, você vai exigir isso de um cara que é semi-analfabeto?", afirmou.
No dia 12 de fevereiro, a freira norte-americana naturalizada brasileira Dorothy foi abordada por dois homens quando se dirigia a uma reunião de agricultores na cidade de Anapu (PA). Foi assassinada com seis tiros. No dia seguinte, testemunhas apontaram os quatro suspeitos do crime, e a polícia expediu mandados de prisão.


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