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Bida diz ter visto arma que matou freira
Fazendeiro nega participação no assassinato de Dorothy Stang; resultado do julgamento deve sair hoje
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Em seu primeiro dia de julgamento, em Belém, o fazendeiro
Vitalmiro Bastos de Moura, o
Bida, negou ontem três vezes
envolvimento no assassinato
da missionária Dorothy Stang,
73, em Anapu (oeste do Pará).
Porém, disse que viu a arma do
crime na mão do pistoleiro
Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, depois de ele ter disparado três vezes contra a freira, no
dia 12 de fevereiro de 2005.
A sentença de Bida deve ser
proferida hoje pelo Tribunal do
Júri, em sessão presidida pelo
juiz Raimundo Flexa. Ontem,
cerca de 250 pessoas assistiram
ao depoimento na sala de julgamento. Outras 600 pessoas,
membros de movimentos pela
reforma agrária e de direitos
humanos, ouviram o depoimento por caixas de som instaladas em frente ao tribunal.
A declaração de Bida, 36, a
respeito da arma ocorreu quando ele foi indagado pelo promotor de Justiça Edson Cardoso
de Souza, responsável pela acusação, sobre como tomou conhecimento da morte da missionária. Bida disse que estava
em sua fazenda -o lote 55 da
gleba Bacajá, que a freira defendia que fosse incorporado ao
PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Esperança- quando o crime aconteceu.
"Eu encontrei [na fazenda] o
Rayfran e o Clodoaldo [Carlos
Batista, o Eduardo, também
condenado pelo crime] juntos.
Rayfran disse que tinha matado
a irmã Dorothy, e que tinha havido um atrito entre eles. Eu
disse que saíssem da fazenda.
Rayfran estava com uma arma
[calibre 38] de fogo na mão, tinha projéteis [estava carregada], não lembro quantos, tinha
marcas [de disparos]."
Bida afirmou que, no mesmo
dia, encontrou Amair Feijoli da
Cunha, o Tato, que trabalhava
em sua fazenda e foi condenado
por ter atuado como intermediário na contratação dos pistoleiros. Em outros depoimentos,
o fazendeiro sempre negou o
encontro com Fogoió, Eduardo
e Tato no dia do crime.
Segundo o promotor Edson
Souza, ao confirmar apoio na
fuga, Bida tentou obter punição
mais branda. "É uma frágil versão que não se sustenta em um
minuto de análise. A mão dele
[Bida] não está suja de pólvora,
sua atitude foi intelectual."
O advogado de Bida, Américo
Leal, afirmou que seu cliente se
expressou mal ao dizer que se
envolveu na fuga. "O Vitalmiro
é um cara que só tem o primeiro ano de estudo. Se nós que somos formados não sabemos
nos comportar, você vai exigir
isso de um cara que é semi-analfabeto?", afirmou.
No dia 12 de fevereiro, a freira norte-americana naturalizada brasileira Dorothy foi abordada por dois homens quando
se dirigia a uma reunião de agricultores na cidade de Anapu
(PA). Foi assassinada com seis
tiros. No dia seguinte, testemunhas apontaram os quatro suspeitos do crime, e a polícia expediu mandados de prisão.
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