São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2008

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Para ambientalistas, maior desafio de novo ministro será lidar com pedidos do Planalto

DA REDAÇÃO
DE NOVA YORK

Ambientalistas comemoraram com ressalvas a nomeação de Carlos Minc para o Ministério do Meio Ambiente no lugar de Marina Silva. A visão geral é que Minc é uma pessoa qualificada para o cargo, mas que pouco poderá fazer se as determinações do Planalto forem contrárias à política ambiental.
"O que este governo quer é um carimbador", disse Marcelo Furtado, coordenador de campanhas do Greenpeace, em relação às licenças ambientais. Lula e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, criticavam Marina por uma suposta lentidão na concessão de licenças a obras de infra-estrutura.
Entre as ONGs, Minc tem imagem de "boa gente", mas que teve momentos de tensão com o movimento ambientalista devido à maneira como tratou os licenciamentos ambientais enquanto secretário estadual do Meio Ambiente do Rio.
Segundo Furtado, há três desafios diante de Minc: resgatar a imagem do ministério, discursar em alto nível em fóruns internacionais, como a Convenção do Clima das Nações Unidas -na qual Marina e sua política de redução de emissões de gás carbônico por desmatamento têm tido um papel de destaque-, e lidar com as solicitações de Lula e Dilma.
O consultor ambiental Fábio Feldman, secretário do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas, elogia o novo ministro: "Minc é muito sério, é um ambientalista, foi um parlamentar brilhante. Mas acho que essas expectativas de que ele vá acelerar os licenciamentos ambientais é ilusória", afirma.
Para ele, os licenciamentos têm um trâmite que não pode ser acelerado à revelia da legislação, e é injusto imputar a Marina a responsabilidade pelo atraso em concessão de licenças. "Se você for olhar, qual foi a licença ambiental que ela não concedeu? O [rio] Madeira saiu, Angra-3 saiu."

"Selo verde"
Para Roberto Smeraldi, diretor da Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, o que Lula quer é um "selo verde", ou seja, alguém com projeção nacional e internacional que possa substituir Marina como "cortina de fumaça" ambiental para a orientação desenvolvimentista do governo. E isso, avalia Smeraldi, Minc não tem. "A trajetória toda dele está ligada ao Rio. Nunca teve atuação nacional."
O ambientalista também elogia o futuro ministro. "O Minc é responsável e preparado. O problema é a política de governo que ele é chamado a implementar. Se for porque ele é bom em driblar obstáculos, confirma-se a visão de Lula do ambiente como empecilho", diz.

EUA
A Amazônia tem ganhado espaço nos EUA como elemento de debate que divide os ambientalistas: biocombustíveis são bons ao planeta, por serem menos poluentes, ou ruins, por provocarem desmatamento? Citado positivamente pela presidenciável Hillary Clinton recentemente, a produção brasileira de álcool de cana está no centro da controvérsia.
Para a ONG americana Amazon Watch, o Brasil não tem cumprido seu papel como deveria. "O governo brasileiro deve tomar seriamente a missão de ampliar fiscalização, ser mais exigente em não deixar que a agricultura e o desenvolvimento industrial avancem sobre a floresta", diz Paul Paz Y Mino, gerente da organização.
Rodolfo Dirzo, da Universidade Stanford, na Califórnia, diz que o principal desafio é contornar o interesse empresarial. "A Amazônia brasileira entra em uma era em que é alvo do interesse de grandes companhias. O desafio é ser firme para reverter o processo." (CLAUDIO ANGELO e DANIEL BERGAMASCO)


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