|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para ambientalistas, maior desafio de novo ministro será lidar com pedidos do Planalto
DA REDAÇÃO
DE NOVA YORK
Ambientalistas comemoraram com ressalvas a nomeação
de Carlos Minc para o Ministério do Meio Ambiente no lugar
de Marina Silva. A visão geral é
que Minc é uma pessoa qualificada para o cargo, mas que pouco poderá fazer se as determinações do Planalto forem contrárias à política ambiental.
"O que este governo quer é
um carimbador", disse Marcelo
Furtado, coordenador de campanhas do Greenpeace, em relação às licenças ambientais.
Lula e a ministra da Casa Civil,
Dilma Rousseff, criticavam
Marina por uma suposta lentidão na concessão de licenças a
obras de infra-estrutura.
Entre as ONGs, Minc tem
imagem de "boa gente", mas
que teve momentos de tensão
com o movimento ambientalista devido à maneira como tratou os licenciamentos ambientais enquanto secretário estadual do Meio Ambiente do Rio.
Segundo Furtado, há três desafios diante de Minc: resgatar
a imagem do ministério, discursar em alto nível em fóruns
internacionais, como a Convenção do Clima das Nações
Unidas -na qual Marina e sua
política de redução de emissões
de gás carbônico por desmatamento têm tido um papel de
destaque-, e lidar com as solicitações de Lula e Dilma.
O consultor ambiental Fábio
Feldman, secretário do Fórum
Paulista de Mudanças Climáticas, elogia o novo ministro:
"Minc é muito sério, é um ambientalista, foi um parlamentar
brilhante. Mas acho que essas
expectativas de que ele vá acelerar os licenciamentos ambientais é ilusória", afirma.
Para ele, os licenciamentos
têm um trâmite que não pode
ser acelerado à revelia da legislação, e é injusto imputar a Marina a responsabilidade pelo
atraso em concessão de licenças. "Se você for olhar, qual foi a
licença ambiental que ela não
concedeu? O [rio] Madeira
saiu, Angra-3 saiu."
"Selo verde"
Para Roberto Smeraldi, diretor da Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, o que Lula
quer é um "selo verde", ou seja,
alguém com projeção nacional
e internacional que possa substituir Marina como "cortina de
fumaça" ambiental para a
orientação desenvolvimentista
do governo. E isso, avalia Smeraldi, Minc não tem. "A trajetória toda dele está ligada ao Rio.
Nunca teve atuação nacional."
O ambientalista também elogia o futuro ministro. "O Minc é
responsável e preparado. O
problema é a política de governo que ele é chamado a implementar. Se for porque ele é bom
em driblar obstáculos, confirma-se a visão de Lula do ambiente como empecilho", diz.
EUA
A Amazônia tem ganhado espaço nos EUA como elemento
de debate que divide os ambientalistas: biocombustíveis
são bons ao planeta, por serem
menos poluentes, ou ruins, por
provocarem desmatamento?
Citado positivamente pela presidenciável Hillary Clinton recentemente, a produção brasileira de álcool de cana está no
centro da controvérsia.
Para a ONG americana Amazon Watch, o Brasil não tem
cumprido seu papel como deveria. "O governo brasileiro deve tomar seriamente a missão
de ampliar fiscalização, ser
mais exigente em não deixar
que a agricultura e o desenvolvimento industrial avancem
sobre a floresta", diz Paul Paz Y
Mino, gerente da organização.
Rodolfo Dirzo, da Universidade Stanford, na Califórnia,
diz que o principal desafio é
contornar o interesse empresarial. "A Amazônia brasileira entra em uma era em que é alvo
do interesse de grandes companhias. O desafio é ser firme para
reverter o processo."
(CLAUDIO ANGELO e DANIEL BERGAMASCO)
Texto Anterior: Stephanes critica conceito da Amazônia Legal Próximo Texto: Frase Índice
|