São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2008

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PF investiga reunião de consultor no BNDES

Relatório diz que ex-assessor de Paulinho falou com vice-presidente do banco sobre empréstimo de R$ 800 milhões

Material enviado à Justiça relata que João Pedro de Moura, preso na operação da polícia, disse que BNDES "escancarou as portas"


RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Operação Santa Tereza, desencadeada em abril pela Polícia Federal, revelou que João Pedro de Moura, consultor da Força Sindical e ex-assessor do deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) manteve uma reunião com integrante da cúpula do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no Rio, para discutir um financiamento estimado em R$ 800 milhões para construção de rodovias no Peru e na Argentina.
Segundo telefonemas interceptados pela PF com ordem judicial, a reunião ocorreu no último dia 17, "na vice-presidência do banco", com a suposta participação do vice-presidente, Armando Mariante Carvalho, responsável pelas áreas Industrial (AI) e de Comércio Exterior (AEX).
Em entrevista coletiva no final de abril, o presidente do banco, Luciano Coutinho, afirmou que "o BNDES não incentiva nenhum intermediário a tramitar projetos ou liberações. Senhores empresários, tratem diretamente com o banco, (...) evitem intermediários".
O relatório da PF indica que a investida de Moura teve boa acolhida no banco. "João Pedro diz que foi muito boa a reunião aqui [BNDES]. Diz que o pessoal abriu, "escancarou" a porta", afirma relatório do delegado da PF Rodrigo Levin, entregue à Justiça anteontem.
Num diálogo travado entre Moura e o consultor Marcos Vieira Mantovani, há indícios de que a reunião foi agendada por iniciativa de Mantovani -Moura e ele estão presos desde o último dia 24; Mantovani está internado no InCor (Instituto do Coração). A PF resumiu assim a conversa: "Na data de 18/4/08, às 11h21, João Pedro conversa com Mantovani. Falam de vários projetos e também sobre reunião no BNDES com o Mariante (vice-presidente), que foi muito boa".
Ao ouvir a descrição feita por Moura sobre o encontro, Mantovani disse que "foi a melhor notícia da sua vida".

Argentina
A reunião, que teria ocorrido uma semana antes das prisões decretadas pela Justiça, também teria tido a participação de outro funcionário do BNDES e do empresário argentino Santiago Crespo.
Em outro trecho do relatório da PF, Moura é citado por ter dito que o "nosso" contrato "na Argentina", possivelmente a construção de estradas, "é de R$ 1 bilhão".
As interceptações também trouxeram uma referência, segundo a PF, a Élvio Lima Gaspar, responsável pelas áreas de Inclusão Social (AS) e de Crédito (CS) do BNDES. Em seu ex-blog, no último dia 5, o prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), apontou Gaspar como um dos "atores a serem investigados". Reproduziu uma notícia do banco em que Gaspar aparece como o autor da assinatura que liberou empréstimo de R$ 124 milhões à Prefeitura de Praia Grande (SP), hoje sob suspeita.
Numa conversa gravada em março, Mantovani diz ter contatado "Élvio" no banco para obter notícias sobre liberação de recursos. "Mantovani cita o nome de Élvio (possivelmente Élvio Lima Gaspar). Demonstra, no mínimo, que existe contato direto da organização com a diretoria do BNDES. Não estamos afirmando que o diretor está envolvido, no momento, [isso foi incluído] apenas para registro", diz o relatório da PF.


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