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PF investiga reunião de consultor no BNDES
Relatório diz que ex-assessor de Paulinho falou com vice-presidente do banco sobre empréstimo de R$ 800 milhões
Material enviado à Justiça relata que João Pedro de Moura, preso na operação da polícia, disse que BNDES "escancarou as portas"
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Operação Santa Tereza, desencadeada em abril pela Polícia Federal, revelou que João
Pedro de Moura, consultor da
Força Sindical e ex-assessor do
deputado federal Paulo Pereira
da Silva (PDT-SP) manteve
uma reunião com integrante da
cúpula do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), no Rio,
para discutir um financiamento estimado em R$ 800 milhões
para construção de rodovias no
Peru e na Argentina.
Segundo telefonemas interceptados pela PF com ordem
judicial, a reunião ocorreu no
último dia 17, "na vice-presidência do banco", com a suposta participação do vice-presidente, Armando Mariante Carvalho, responsável pelas áreas
Industrial (AI) e de Comércio
Exterior (AEX).
Em entrevista coletiva no final de abril, o presidente do
banco, Luciano Coutinho, afirmou que "o BNDES não incentiva nenhum intermediário a
tramitar projetos ou liberações. Senhores empresários,
tratem diretamente com o banco, (...) evitem intermediários".
O relatório da PF indica que a
investida de Moura teve boa
acolhida no banco. "João Pedro
diz que foi muito boa a reunião
aqui [BNDES]. Diz que o pessoal abriu, "escancarou" a porta", afirma relatório do delegado da PF Rodrigo Levin, entregue à Justiça anteontem.
Num diálogo travado entre
Moura e o consultor Marcos
Vieira Mantovani, há indícios
de que a reunião foi agendada
por iniciativa de Mantovani
-Moura e ele estão presos desde o último dia 24; Mantovani
está internado no InCor (Instituto do Coração). A PF resumiu
assim a conversa: "Na data de
18/4/08, às 11h21, João Pedro
conversa com Mantovani. Falam de vários projetos e também sobre reunião no BNDES
com o Mariante (vice-presidente), que foi muito boa".
Ao ouvir a descrição feita por
Moura sobre o encontro, Mantovani disse que "foi a melhor
notícia da sua vida".
Argentina
A reunião, que teria ocorrido
uma semana antes das prisões
decretadas pela Justiça, também teria tido a participação de
outro funcionário do BNDES e
do empresário argentino Santiago Crespo.
Em outro trecho do relatório
da PF, Moura é citado por ter
dito que o "nosso" contrato "na
Argentina", possivelmente a
construção de estradas, "é de
R$ 1 bilhão".
As interceptações também
trouxeram uma referência, segundo a PF, a Élvio Lima Gaspar, responsável pelas áreas de
Inclusão Social (AS) e de Crédito (CS) do BNDES. Em seu ex-blog, no último dia 5, o prefeito
do Rio, Cesar Maia (DEM),
apontou Gaspar como um dos
"atores a serem investigados".
Reproduziu uma notícia do
banco em que Gaspar aparece
como o autor da assinatura que
liberou empréstimo de R$ 124
milhões à Prefeitura de Praia
Grande (SP), hoje sob suspeita.
Numa conversa gravada em
março, Mantovani diz ter contatado "Élvio" no banco para
obter notícias sobre liberação
de recursos. "Mantovani cita o
nome de Élvio (possivelmente
Élvio Lima Gaspar). Demonstra, no mínimo, que existe contato direto da organização com
a diretoria do BNDES. Não estamos afirmando que o diretor
está envolvido, no momento,
[isso foi incluído] apenas para
registro", diz o relatório da PF.
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