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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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Vítima ignorava a existência da operação militar

DA REPORTAGEM LOCAL

"Sofri as consequências [do plano Tarrafa] sem saber o nome da operação", afirmou o cientista Luiz Hildebrando Pereira da Silva, 74, um dos que foram presos pela ação comandada pelo Exército. Pereira da Silva é médico, parasitologista, especialista em malária e pesquisador durante 32 anos do Instituto Pasteur (Paris).
Como o cientista, a maioria das pessoas ouvidas pela reportagem desconhecia a existência da operação, mas sabia que eram "suspeitos permanentes" do regime.
Filiado de primeira hora do Partido Comunista Brasileiro, o cientista sempre teve uma militância atuante, o que resultou em sua demissão da USP. Em 1970, quando o plano foi assinado, já estava exilado em Paris.
"Depois de citados na lista da USP, nós nos transformamos em suspeitos permanentes do regime", afirmou um dos líderes estudantis da época, o hoje professor Fuad Daher Saad, 64. De 1962 a 1964, presidiu o grêmio de Filosofia. Foi preso pelo Dops e respondeu a Inquérito Policial Militar até 1966.
Com a assinatura do Tarrafa, foi conduzido diversas vezes à polícia para prestar informações pessoais. "Tinha de explicar onde trabalhava, o que fazia, onde morava, essas coisas", disse.
Outros foram presos em razão do plano, como o sociólogo Octavio Ianni, a historiadora Emília Viotti, o presidente do CNPq, Erney Plessmann Camargo, e o cardiologista Reynaldo Chiaverini -todos haviam sido demitidos da USP.
O advogado aposentado Cícero Silveira Vianna, 76, que também estava na lista, teve mais sorte. Uma semana antes de o plano entrar em vigor, ele deixou o país de forma clandestina. "Eles nem sabiam por onde eu andava." Filiado ao PCB, Vianna sofreu seu primeiro IPM quando ainda era procurador jurídico da extinta Superintendência de Política da Reforma Agrária, em 1964.
O consultor de marketing e ex-secretário de Planejamento e Informação da gestão Fernando Henrique Cardoso, Antônio de Pádua Prado Júnior, 58, era líder estudantil quando foi acusado de subversão e condenado a quatro anos e seis meses.
Fugiu, mas foi preso na mesma semana em que o Tarrafa foi assinado. "Coincidência", disse. "Fui preso pelo Dops de Porto Alegre em uma outra situação."
Os irmãos Almir e Walmir Marum Cury, hoje com 62 anos e 59 anos respectivamente, foram detidos em 1969: "Não conhecia a operação. Nesse período, éramos obrigados a informar sempre onde estávamos", disse Almir, hoje comerciante. O irmão vive nos EUA.
Das 33 pessoas da lista, três eram líderes sindicais. Uma delas é Bonifácio Evangelista de Brito, 71, ex-secretário-geral do Sindicato dos Bancários: "No total foram 12 [prisões]. Cada vez que havia um movimento de estudantes, eles me prendiam".


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