São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO DE OPERAÇÕES

Petebista faz ironias e exibe "talento teatral"

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Vestindo camisa e gravata lilás e terno preto, Roberto Jefferson sentou na cadeira do Conselho de Ética da Câmara na condição de acusado, mas desempenhou o tempo todo o papel de acusador, com farto uso da ironia e tentativas de intimidação de integrantes da cúpula do governo e do PT.
Com talento teatral lapidado em seis mandatos parlamentares e na atuação como advogado criminalista, o deputado abusou das entonações de voz, dos gestos, das expressões faciais e não dispensou momentos de humor.
"Peraí! O Expedito [Filho, repórter do "Estado de S.Paulo"] me chama de metrossexual e agora você me compara ao Michael Jackson", respondeu ao deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), provocando risos na platéia.
Ao falar da importância da opinião pública, Aleluia havia dito que apesar da absolvição do cantor, nenhum pai deixaria o filho menor em sua companhia.
No início de seu depoimento, o petebista já havia mencionado seu "metrossexualismo", definição que se aplica a homens heterossexuais vaidosos e preocupados com a aparência. "Já fui chamado de troglodita e de integrante da tropa de choque do Collor, mas metrossexual!"
O Congresso ficou em suspenso na manhã de ontem, à espera do que Jefferson diria à tarde. Meia hora antes do início do depoimento, marcado para as 14h30, o Plenário 2 da Câmara já era ocupado por jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas, que buscavam o melhor ângulo para registrar as declarações. Deputados e senadores também começavam a chegar e ocupar os cerca de 70 lugares disponíveis. Quase 20 parlamentares ficaram em pé.
O depoimento antecipou o embate entre oposição e governo que será vivido na CPI dos Correios. Os petistas tentavam desqualificar Jefferson, enquanto representantes do PFL e do PSDB davam ênfase às acusações do petebista.
A sessão foi aberta às 14h41 e encerrada quase sete horas depois, às 21h18. Jefferson repetiu a estratégia de "falar" com as pessoas que o assistiam pela televisão. Assumiu o papel de justiceiro e deu o endereço de seu gabinete para o envio de denúncias de corrupção.
À noite, o vice-líder do governo, Beto Albuquerque (PSB-RS), reconheceu que Jefferson não se acomodou na condição de réu. "É óbvio que para quem estava nas cordas em uma luta de boxe, ele passou para a ofensiva."


Texto Anterior: Casa Civil nega saída de Dirceu; governo não comenta
Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/Depoimento: Se Dirceu não sair, vai fazer Lula virar réu, diz Jefferson
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.