|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/DEPOIMENTO
Em depoimento, petebista citou o nome de seis deputados que teriam recebido mesada do PT
Se Dirceu não sair, vai fazer Lula virar réu, diz Jefferson
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No depoimento mais esperado
e concorrido do ano no Congresso Nacional, o presidente nacional do PTB, deputado Roberto
Jefferson (RJ), atacou duramente
o ministro José Dirceu (Casa Civil), cuja companhia poderia
transformar o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva em réu, citou
o nome de seis deputados que fariam parte do esquema do "mensalão" e acusou o governo de estar
por trás das denúncias publicadas
contra ele na imprensa.
Durante toda sua fala de 6 horas
e 35 minutos no Conselho de Ética da Câmara, Jefferson fez questão de inocentar Lula -"um homem honrado e correto"-, chegou a chamar José Dirceu de Rasputin (eminência parda da corte
do último czar russo) e bateu boca
com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e com o deputado Sandro Mabel (PL-GO), alvos
de suas acusações.
"Dirceu, se você não sair daí
[Casa Civil] rápido você vai fazer
réu um homem inocente, que é o
presidente Lula. Sai daí rápido para você não fazer mal a um homem que eu tenho orgulho de ter
apertado a mão", afirmou o presidente do PTB, olhando para as câmeras de TV.
O ministro da Casa Civil foi um
dos alvos preferenciais do petebista: "Tudo o que eu disse aqui é
de conhecimento do ministro José Dirceu. Tudo!", frisou já no fim
de seu depoimento. "Tudo o que
eu disse aqui eu conversei com
ele, tudo, até os acordos envolvendo o PT e o PTB nas eleições".
O deputado repetiu não dispor
de provas sobre o que diz, mas citou novos detalhes e pistas de investigações, como o fato de o dinheiro que teria recebido do PT
para campanha eleitoral ter chegado envolto em fitas do Banco
Rural e do Banco do Brasil.
A outra novidade do depoimento foram os seis nomes de deputados listados por Jefferson que fariam parte do esquema do mensalão, todos do PL e PP: Valdemar
Costa Neto (presidente do PL),
Sandro Mabel (PL-GO), líder da
bancada, Carlos Rodrigues (PL-RJ), Pedro Corrêa (PE), presidente do PP, José Janene (PP-PR), líder da bancada, e Pedro Henry
(PP-MT). Os acusados negam.
O presidente do PTB esteve no
Conselho de Ética por causa do
pedido de cassação do seu mandato protocolado pelo PL, acusado por ele de receber mesadas do
tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
Hoje, Jefferson depõe reservadamente na comissão de sindicância
da Câmara.
Jefferson, ao acusar o governo
de tramar a sua destruição política, disse que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) estava por
trás das gravações que levantaram a suspeita de um esquema de
corrupção comandado pelo PTB
nos Correios. Ele também reclamou que os órgãos do governo
não estão investigando a grande
irregularidade na estatal, que estaria na diretoria de Tecnologia,
cuja nomeação seria responsabilidade do secretário-geral do PT,
Sílvio Pereira.
Tendo completado 52 anos ontem, o deputado citou a crença segundo a qual a pessoa passa por
um inferno astral um mês antes
de seu aniversário.
A principal acusação de Jefferson é a de que o esquema era de
conhecimento da cúpula do PT,
incluindo Dirceu e José Genoino,
presidente da legenda, e que alertou, entre outros, a Antonio Palocci Filho (Fazenda) e a Lula.
Sobre o suposto fim da prática,
ironizou a situação dos supostos
ex-beneficiários. "Sei que de lá para cá secou porque os passarinhos
estão todos com o biquinho aberto. E as coisas [votações] pararam
aqui nessa Casa, é síndrome de
abstinência. O presidente Lula é
inocente nisso, a reação é a reação
do traído."
MENSALÃO - Jefferson confirmou todas as acusações que fez,
segundo as quais o PT pagava mesada mensal de R$ 30 mil a deputados do PL e do PP em troca de
apoio político, mas não apresentou provas: "Não arredo uma linha do que disse à jornalista Renata Lo Prete [da Folha]. É a expressão do que vivenciei, do que
senti, do que vivi. (...) Provas não
tenho a exibir, sou testemunha",
disse, afirmando não possuir gravações, como chegou a se especular em Brasília. O deputado disse
jamais ter ouvido falar de mensalão nos governos anteriores, mas
afirmou que, desde agosto de
2003, é "voz corrente" no Congresso que Delúbio Soares, tesoureiro do PT, usava como "pombo-correio" o publicitário Marcos
Valério para distribuir mesadas a
deputados.
Jefferson contou que recebeu a
proposta de Delúbio no começo
de 2004. Segundo ele, o tesoureiro
teria sondado se o "mensalão" para o PTB poderia "desencravar
uma unha". O petebista acrescentou que relatou o fato a Dirceu e a
Palocci, e que muitos deputados
de seu partido se sentiram tentados.
Segundo ele, Luiz Piauhylino
(PDT-PE) saiu do partido "por dinheiro". "O motivo [pelo qual] ele
saiu do PTB não é nobre, não é
justo, foi por dinheiro", afirmou.
O líder da bancada do PTB na Câmara, José Múcio, contradisse Jefferson e afirmou nunca ter recebido pressão do PL para receber o
mensalão.
DEFESA DE LULA - Jefferson diz
que Dirceu montou um cordão de
isolamento em torno de Lula e
que, quando o presidente ficou
sabendo do esquema, o mensalão
acabou. "A reação do presidente
foi como uma facada nas costas.
As lágrimas desceram dos olhos
dele. Ele levantou, me deu um
abraço e foi embora. E sei que de
lá para cá secou porque os passarinhos estão todos com o biquinho aberto. E as coisas [votações]
pararam aqui nessa Casa, é síndrome de abstinência. O presidente Lula é inocente nisso, a reação é a reação do traído", disse.
"Vi um homem honrado se desfazer diante de uma cinta que fizeram em torno dele".
DEPUTADOS QUE RECEBERAM -
Jefferson não apresentou provas,
mas encerrou seu discurso citando seis nomes de deputados que
seriam os responsáveis por receber o dinheiro do mensalão e fazer a distribuição do dinheiro:
"Não são todos os deputados que
recebem mensalão. Tem muita
gente do PP que está acima disso,
tem muita gente do PL que está
acima disso. Mas, deputado Valdemar Costa Neto, deputado José
Janene, Pedro Corrêa, Sandro
Mabel, Bispo Rodrigues, Pedro
Henry, me perdoem, de coração,
não posso ser cúmplice de vocês".
ABIN - O presidente do PTB afirmou ter convicção de que agentes
da Abin -chamados de "canalhas"- foram os responsáveis
por fazer a gravação sobre corrupção nos Correios, que gerou
toda a crise política. "Quero deixar claro isso aqui, minha convicção plena de que a montagem foi
feita pela Abin", afirmou o petebista. Segundo ele, foi combinada
com o governo a reportagem da
revista "Veja" que mostra a gravação em que o ex-diretor dos Correios Maurício Marinho -indicado ao cargo pelo PTB- embolsa R$ 3.000.
O SAPO E O ESCORPIÃO - Alvo
preferencial de Jefferson, o PT foi
classificado por ele como o escorpião que fecha um acordo para
atravessar o rio nas costas do sapo. Na fábula, o escorpião pica o
sapo, afirmando que não pode
contrariar a sua natureza, e ambos morrem afogados. "Essa gente [PT] não é leal, nos usa como o
sapo para atravessar o rio e sempre nos dão uma picadinha aqui e
ali. Isso pode nos levar ao fundo
do rio, mas levaremos junto esses
escorpiões da cúpula do PT."
(RANIER BRAGON, FABIO ZANINI E SILVIO NAVARRO)
Texto Anterior: Teatro de operações: Petebista faz ironias e exibe "talento teatral" Próximo Texto: Mídia e poder: Petebista diz que imprensa "julga e pune" Índice
|